As partes mais cruéis do desemprego são a espera e a falta de perspectiva. Thomaz Richard Cordeiro, 33 anos, está esperando há 7 meses, desde que largou o emprego em Campina Grande, como segurança patrimonial, para viver ao lado da esposa, Lídia, e da filha de 9 anos, em Pau Amarelo, Paulista. Ele engrossa o número de 11,4 milhões de desempregados em todo o Brasil. Gente que passa meses em bicos, “madrugando” nas agências de trabalho, dependendo de favores de conhecidos e ouvindo “desculpe, não estamos contratando”. Decidido a criar as próprias oportunidades, Thomaz fez um cartaz com a ajuda de um amigo e foi para um sinal, na Avenida Agamenon Magalhães (sentido Olinda-Boa Viagem), próximo à Praça do Derby. Lá, expõe seu maior desejo para parte dos motoristas e passageiros dos 90 mil veículos que passam diariamente pela via, em cartaz que diz: “Preciso de um trabalho. Telefone: 9881-99341. Deus seja louvado”.
Nesta quarta-feira (15), foi o primeiro dia. A ideia surgiu após ver pedintes em um sinal. “Eu via tanta gente pedindo dinheiro, às vezes nem tem necessidade. Eu decidi pedir um trabalho”, afirmou Thomaz. Vestindo roupas leves, tênis e equipado com mochila, onde guardava os três certificados de cursos de segurança, a carteira de trabalho e cópias de currículos, ele ficou no ponto das 8h40 até as 14h30. O cartaz chamou atenção. Entre sorrisos de deboche e completa indiferença, havia quem quisesse ajudar. Muitas pessoas tiravam foto do cartaz para repassar em grupos nas redes sociais ou paravam o carro no acostamento para pedir mais informações.
“Alguns pedestres só diziam 'Deus é fiel, vai te ajudar’. Isso faz toda a diferença, eu tenho muita fé. Umas senhoras passaram por aqui e me orientaram a procurar em uma empresa, passei lá e deixei meu currículo. Tem gente me ligando, me adicionando em grupos de WhatsApp de quem está procurando emprego. Já vi algumas pessoas sorrindo com deboche, mas, para mim, vergonha é roubar”, constata Thomaz. “Tem tanto trabalhador que reclama. Não sabe o quanto é difícil estar desempregado. Eu vou todos os dias à Agência do Trabalho, chego às 5h40, mas nunca tem uma vaga. Até maio, sobrevivia vendendo fita isolante em moto, mas roubaram o veículo. Procuro algo que possa me estabilizar para vencer na vida”, completa. Veja quatro medidas para evitar demissão na empresa.
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A expectativa por boas notícias é angustiante para quem acompanha a história do ex-segurança. O sinal na Avenida Agamenon Magalhães fica fechado por poucos segundos. É o único tempo que possui, em meio a vendedores ambulantes, para passar sua mensagem. A reportagem do JC presenciou um momento de sorte, em que um motorista parou o carro e disse que poderia arranjar um emprego para ele. O homem não quis se identificar, disse apenas que soube da situação do rapaz por um amigo que passou pela Avenida Agamenon Magalhães mais cedo. Não garantiu solucionar o problema, mas ficou com o telefone do desempregado. Pouco tempo depois, outro carro parou. Porém, para decepção do rapaz, era apenas para dar dinheiro. “Não é essa minha intenção”, afirma. Depois, o rapaz recebeu ligações de apoio de pessoas que passaram pelo local e se comprometeram a disseminar a história na internet com a intenção de ajudá-lo.
A carteira de trabalho de Thomaz conta a história de uma vida. Começou a trabalhar aos 17 anos para ajudar o pai. Ele já passou por muitos locais, como São Paulo, Rio de Janeiro e João Pessoa, e trabalhou em várias funções. Seu currículo é extenso: segurança, jardineiro, motorista particular, eletricista, manobrista, servente, auxiliar de limpeza, padeiro e gerente. Fez, inclusive, curso de duas semanas para cobrador de ônibus. Sem se deixar abater pela situação difícil, lembra com alegria dos momentos que passou. “Lembro do tempo que trabalhei em uma padaria no Rio de Janeiro. Eu entrei para limpar o chão e sai como gerente. Aprendi a fazer pão doce, ganhei a confiança do patrão. Sou muito esforçado e determinado”, relata com um sorriso no rosto.
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O que o fez querer fincar raízes foi a esposa e a filha. O casal passou 9 anos separados, mas reataram recentemente. Thomaz não contou à mulher que está pedindo emprego no sinal. O seu pior desgosto é não poder ajudar a família. Ele também tem um filho de 3 anos, chamado Ricardo, em Gravatá, no Agreste do Estado. “Minha mãe e alguns amigos me apoiaram. Não contei a minha esposa porque não quero que ela fique preocupada. É o braço forte da casa, é ela que sustenta nós três. Eu sempre gostei dela, mesmo nesse tempo separado. Em relação a meu menino, não tenho condições de auxiliar com a escola, alimentação, com sapato, roupa. Eu só quero poder dar uma boa vida para minhas crianças”, diz.
Nesta quinta-feira (16), o ex-segurança afirma que vai chegar mais cedo no mesmo ponto. Se você passar por lá, lembre-se: a história de Thomaz é parecida com a de milhões de brasileiros e está se tornando mais comum do que se pensa. Compaixão é essencial. Amanhã, pode ser você.