O valor da saca de milho de 60 quilos, vendida por distribuidores privados, aumentou mais de 97% entre o fim do ano passado e julho. O preço alto pesou no bolso dos pecuaristas de Pernambuco, que decidiram cortar gastos com ração e diminuir os rebanhos de bovinos, equinos, caprinos e ovinos. Quem trabalha com gado leiteiro sente mais os efeitos, já que o preço do litro do leite, que custa entre R$ 1,10 e R$ 1,50, é baixo para compensar os gastos com ração. A informação é da Sociedade Nordestina de Criadores (SNC) de Pernambuco, que alerta para o impacto negativo na produção de leite.
Segundo dados da sociedade, o valor da saca de milho passou de R$ 38 para R$ 75. Já a saca vendido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) saiu de R$ 43,50, em dezembro do ano passado, para R$ 55 em junho e, este mês, caiu para 53,58. Outros grãos, que são usados na ração, também apresentaram alta. O farelo de soja, no mesmo período, subiu de R$ 68,00 para R$ 99,00 (50 kg), por exemplo.
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Com o aumento nos valores, o temor é de que a produção de leite no Estado caia. “Muitos produtores estão sendo obrigados a vender o gado para completar a folha de salários no final de mês porque não estão conseguindo arcar com os custos. Não vale a pena comprar da Conab porque o valor do frete é caro. Os laticínios também não remuneram o produtor de maneira adequada. Desse jeito, muitos vão desistir da atividade”, afirma o presidente da sociedade, Emanuel Rocha.
O pecuarista Giuliano Malta está sentindo os efeitos da alta. Ele trabalha com agricultura, pecuária de corte e pecuária de leite em Paudalho, na Zona da Mata, e está sentindo dificuldades para manter o seu rebanho de 500 animais. “O preço do milho praticamente dobrou em um ano. Não conseguimos nos recuperar no mesmo tempo. O quilo da ração custa R$ 1,80 e eu pratico o preço do leite a R$ 1,50. Muitos colegas já reduziram os rebanhos. Eu estou tentando manter com muita dificuldade. Precisamos de uma reação do preço do leite. No Sul, o produto é vendido por R$ 1,80, o que ainda é muito pouco”, lamenta.
ALTA
Entre as causas para o aumento do valor do milho, está o clima. Em janeiro, choveu muito durante o plantio nos Estados produtores. “Em São Paulo, Paraná, Mato Grosso e, também, no Nordeste, São Pedro não ajudou. Choveu muito em janeiro e, depois, parou. Nós perdemos 20% da safrinha e até 7% da primeira safra”, explica o presidente da Associação Brasileiro dos Produtores de Milho (Abramilho), Alisson Paollineli.
Outro motivo é a falta de subsídios para os produtores de milho. Paolinelli afirma que, em outros países, como China e Estados Unidos, o suporte é bem maior. “O Brasil é o segundo maior exportador. Não podemos perder esse mercado. Porém, não temos tecnologia nem amparo do governo”, complementa. Entre janeiro e junho deste ano, o Brasil exportou 264% a mais do que no ano passado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Agora, a venda para o exterior deve parar.
Para piorar a situação, a expectativa da Abramilho é de que o preço do milho deve subir após setembro, pois os produtores estão sem estoque do grão.