Não bastasse o drama do desemprego crescente no País, a população terá de amargar a restrição nos benefícios da seguridade social. Neste mês de julho, mais de 18 mil pessoas receberam a última parcela do seguro-desemprego em Pernambuco. O benefício, que tem por finalidade prover assistência temporária ao trabalhador dispensado, fará falta para aqueles que ainda não conseguiram retornar ao mercado de trabalho. Além do acesso ao seguro estar mais restrito, a previsão é que o desemprego aumente até o segundo semestre de 2017. O drama gerado por uma economia que não cresce só faz aumentar.
A situação que Diogo Cabral, 29 anos, vive neste momento será a mesma enfrentada pelos pernambucanos que em breve deixarão de contar com o seguro-desemprego. Demitido em dezembro de 2015 e sem receber o seguro há dois meses, o jovem está em busca de novo trabalho. “A gente está conseguindo se manter com muito aperto. Eu trabalhava no setor industrial e estou procurando voltar a trabalhar em qualquer coisa. Estou vendo empresas que oferecem um salário bem menor do que eu recebia antes porque preciso”, afirma. Diogo recebia em média R$ 3 mil no antigo posto de trabalho, agora tenta se enquadrar em vagas que pagam R$ 800. A esposa Esteffane Cabral também foi demitida em janeiro deste ano, mas não teve direito ao benefício devido ao tempo de vínculo com a empresa. “Eu trabalhava em uma loja de roupa, mas passei menos de seis meses. Estou fazendo cabelo e maquiagem para ganhar uma renda extra”, explica.
Segundo a chefe da Seção de Políticas de Trabalho, Emprego e Renda, da Superintendência Regional do Trabalho em Pernambuco, Viviane Barbalho, entre os 18,9 mil trabalhadores que deixarão de receber o benefício no próximo mês, estão inclusos algumas pessoas que já foram contempladas com todas as parcelas e outras que tiveram o seguro bloqueado por deixar de atender as regras. Entre as incompatibilidades para a liberação do benefício estão o recebimento de remuneração por vínculo empregatício, contribuições individuais e a participação societária em uma empresa. “O sistema notifica sempre que o beneficiário recebe uma parcela e, antes de liberar a próxima, faz uma nova varredura”, diz.
Danilo Araújo, 30, trabalhava como vigilante e, após ser demitido, conseguiu garantir o recebimento do benefício por cinco meses. Com um filho e sem renda fixa, ele conta apenas com a ajuda da família neste momento: “estou dependendo da aposentadoria da minha mãe e o meu irmão me dá dinheiro para eu ajudar o meu filho de quatro anos”. Enquanto não consegue um novo emprego, Danilo faz cursos de capacitação em vigilância patrimonial. “Tem que ter fé, mas está muito difícil conseguir um novo emprego. Eu saiu todas as segundas, quartas e sextas-feiras em busca de uma oportunidade”, diz.
Segundo o Ipea, os jovens foram os mais atingidos pelo desemprego no primeiro semestre. Aos 27 anos, Leonardo marques está sem trabalho desde dezembro de 2015 e não tem perspectivas de mudança. “A situação está muito difícil. O desemprego está grande no nosso País. Eu tenho um filho e só a minha mãe atualmente está trabalhando”. Ele trabalhava em uma indústria de calçados, mas procura vaga em qualquer área. “Eu me sinto muito triste, porque todo mundo precisa trabalhar para sustentar a sua família. Tenho o segundo grau completo, mas acho que vai ser difícil encontrar um novo emprego”, lamenta.
RESTRIÇÕES
De acordo com o Ministério do Trabalho, no primeiro semestre deste ano 3,7 milhões de trabalhadores receberam o seguro desemprego no Brasil e 136 mil em Pernambuco. Em 2015, no mesmo período, o total de beneficiários foi de 3,9 milhões no País e 165 mil no Estado. Enquanto houve uma queda no total de beneficiários, o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) verificou um comportamento inverso com relação à taxa de desemprego. De acordo com os dados, 11,2% dos brasileiros informaram estar desempregados no primeiro trimestre do ano, contra 7,9% registrados no mesmo período de 2015. O aumento da taxa de desocupação também subiu na comparação dos períodos em Pernambuco, passando de 8,2% para 13,3% neste ano.
Na avaliação do professor do Departamento de Economia da UFPE Gustavo Sampaio, a diferença entre as taxas de desemprego e de acesso ao benefício só será menor em longo prazo. “Os números mostram que há uma correlação negativa entre a taxa de desemprego e o acesso ao seguro desemprego pelo menos desde 2003. A tendência é a mesma até hoje. A diferença é que com a mudança da MP 665 o governo alterou o custo de oportunidade. Essa diferença ainda será vista pelos próximos anos, mas numa taxa menor que antes da alteração da lei”.
Sancionada em 16 de junho do ano passado, a MP 665 se transformou na Lei no 13.134/2015 e modificou os prazos de carência para acesso ao benefício. Essa norma fez parte do pacote fiscal do governo Dilma Rousseff que visava diminuir as despesas da União. Com a nova regra, estabeleceu um prazo de 12 meses trabalhados nos últimos 18 meses para o cidadão ter acesso ao primeiro benefício do seguro-desemprego. Antes, eram seis meses.
Em junho deste ano, o Índice de Medo do Desemprego medido pela Confederação Nacional da Indústria chegou ao maior valor da história, superando o temor registrado em julho de 1999, quando o Brasil vivia uma grave crise cambial com expressiva desvalorização do real.
Se comparado a março deste ano, o indicador sobre o medo de perder o emprego subiu 1,9%. Em relação a junho do ano passado, o temos de ficar sem trabalho saltou 4,2%. Já o Índice de Satisfação com a Vida dos Brasileiros melhorou no mês passado, com um crescimento de 0,8% em relação a março. Ainda assim, o indicador acumula queda de 2,6% na comparação com junho do ano passado.
A crise brasileira é determinante para o aumento do temor do desemprego. Atualmente, existem cerca de 12 milhões de desempregados, mais de 60 milhões de pessoas com o nome sujo na praça, a inflação segue acima da meta, a produção está em queda e o comércio varejista amarga números negativos.
Em Pernambuco, os últimos dois meses foram marcados por uma série de demissões em massa. A unidade de Prazeres da TIM, onde funciona o teleatendimento da operadora, realizou a demissão dos 1.200 funcionários do setor. No setor siderúrgico, a fábrica da Alcoa, em Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife, demitiu mais 160 metalúrgicos . Além disso, cerca de 430 funcionários da empresa de tecelagem Santista, localizada na BR- 101, em Paulista, também receberam a notícia do desemprego.