A violência é um golpe à competitividade da indústria. Todos os anos, R$ 130 bilhões deixam de ser investidos na produção para aplicar em medidas para conter a violência. A estimativa é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), levando em consideração o que o setor gasta anualmente com custos com segurança privada e com as perdas decorrentes de roubo de carga e vandalismo. As informações estão no estudo Deficiência na segurança pública reduz competitividade do Brasil, elaborado pela Confederação.
“A ineficiência do poder público obriga os empresários a ter custos com segurança, além de enfrentar problemas como vandalismo e roubo de carga. Enquanto a média mundial é de um gasto de 1,6% do faturamento anual com segurança, o Brasil gasta 1,7%. A situação se agrava quando o assunto é roubo e vandalismo, em que a média mundial fica em 0,8% e o Brasil precisa aplicar 2,5%”, compara o gerente de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. A Confederação utilizou dados do Banco Mundial para fazer o levantamento.
Entre 2010 e 2015, o crescimento das ocorrências de furto e roubo de carga aumentou em 64%, passando de 12.717 para 20.803. “A intensidade varia de acordo com o tipo de setor e com a região, mas acontece em todo o território nacional. Indústrias que transportam cigarro, bebidas, bolsas, sapatos e pequenos eletrodomésticos enfrentam mais investidas. Regiões mais violentas do Rio, por exemplo, e estradas mais desertas do Nordeste também são alvos”, observa Fonseca.
O Brasil está entre os países em que as empresas têm os maiores custos com crime e violência. Desde 2006, segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial, o País está entre os 25% com pior desempenho no ranking mundial do indicador, em uma análise de 138 nações. Em 2015, em uma escala que vai de 1 a 7, em que quanto mais próximo de 7, melhor é a posição do país, o Brasil ficou com 2,87. A nota fica abaixo da média da América Latina (3,22) e atrás de países como Haiti, República Dominicana e Argentina.
Renato da Fonseca diz que tem sido recorrente a reclamação de empresários sobre o crescimento dos custos com a violência. “É um assunto que precisa ser enfrentado como mais um a afetar a competitividade do setor, a exemplo da educação e da carga tributária”, destaca.
PERNAMBUCO
A empresária pernambucana Marcelle Sultanum - dona da indústria de cosméticos Rishon - conta que pessoalmente já foi vítima de mais de dez assaltos e que precisa investir em segurança para manter o patrimônio empresarial. “Além do custo, o combate à violência também cria mais processos que não são a finalidade da indústria, mas mecanismos de controle”, afirma.
A Rishon mantém vigilantes, tem contrato de segurança com uma empresa, investiu em câmeras e tem dois caminhões rastreados para evitar roubo de carga. “Além disso pagamos R$ 5 mil por mês para fazer a segurança do terreno que adquirimos em Goiana para instalar nossa nova fábrica. A gente tinha percebido uma redução da criminalidade em anos anteriores, mas houve um retrocesso a partir da crise. Hoje (ontem) mesmo aconteceram dois assaltos aqui na rua da empresa (que fica localizada no bairro recifense de Afogados, na Zona Sul).
O estudo da CNI também aponta que além de reduzir investimentos, a falta de segurança pública impacta a competitividade do País ao diminuir a produtividade dos trabalhadores, uma vez que ficam mais estressados e inseguros. Menos produtivas e com gastos maiores em segurança, as empresas repassam os custos para seus produtos, impactando o preço ao consumidor.