No calendário anual do mercado de preservativos masculinos, o Carnaval funciona como uma espécie de Natal. A época concentra 30% das vendas do ano, turbinando a produção nas fábricas e as importações. Para 2017, a expectativa é o crescimento das vendas chegue a 20%, na comparação com períodos normais. O aumento da demanda também faz subir o preço. Em Pernambuco, um dos maiores polos da Folia de Momo do País, os valores da camisinha estão inflacionados. Numa pesquisa realizada com seis cidades, Recife aparece no topo da lista onde o produto está mais caro.
Importadora exclusiva da marca de preservativos Eros no País, a empresa pernambucana Medevice do Brasil percebe um crescimento de 50% nas vendas durante os meses de janeiro e fevereiro, em função do Carnaval. No mercado desde 1996, a Eros é fabricada no Vietnã e importada pela companhia pelo Porto de Suape.
“O Carnaval é o nosso Natal, representando entre 25% e 30% das vendas anuais. Nessa época chegamos a distribuir 10 milhões de unidades (de um total de quase 50 milhões por ano). Só em Pernambuco vendemos para 15 distribuidores, que revendem para redes de farmácias, supermercados e outros canais de varejo”, destaca o diretor administrativo-financeiro da Medevice, João Costa. Localizada no bairro recifense da Guabiraba, a empresa concentra 70% das vendas no Norte e Nordeste, mas também está presente em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
As grandes redes de farmácias também comemoram o crescimento das vendas. É o caso da Pague Menos, com mil lojas espalhadas por todos os Estados brasileiros (90 em Pernambuco). “Estamos apostando num crescimento de 20% nas vendas de preservativos para este ano. Em 2016 o incremento nacional foi de 15% e em Pernambuco ficou acima dessa média (18%)”, diz a diretora de Compras da Pague Menos, Patrícia Austregésilo. Ela atribui o crescimento às campanhas de conscientização sobre as doenças sexualmente transmissíveis. Em Pernambuco, segundo a Secretaria de Saúde, a cada seis horas uma pessoa é infectada com HIV.
Patrícia afirma que nos últimos dois anos o crescimento médio na venda de camisinha foi de 17,4%. Os Estados do Sul e do Sudeste têm puxado esse crescimento, enquanto no Nordeste a liderança é de Pernambuco. No Brasil, a liderança do mercado é da alemã Reckitt Benckiser (RB), que em janeiro do ano passado comprou da Hypermarcas as marcas Jontex, Olla e Lovetex por R$ 675 milhões. Disputam com a RB as marcas Eros, Due, Blowtex e outras menores.
Além da produção para atender o varejo, as fábricas nacionais também aumentam a produção no período para atender aos pedidos do governo brasileiro, que este ano está distribuindo 77 milhões de preservativos durante o Carnaval. A ação faz parte da campanha nacional de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo HIV. O governo está preocupado, especialmente, com a infecção de jovens com idade entre 15 e 24 anos. No Brasil, 200 mil pessoas têm o vírus do HIV e outras 40 mil são infectadas por ano. A distribuição das camisinhas será realizada em postos de saúde e em pontos mantidos pelas prefeituras durante a folia.
PREÇOS
Quem não tem acesso à distribuição gratuita dos preservativos está pagando caro pelo produto, sobretudo no Recife. Pesquisa realizada em parceria pela Sieve e a InfoPrice mostra não só a variação de preços entre o varejo online e as lojas físicas, mas também as cidades onde os preços estão mais altos. O levantamento foi realizado em Recife, Olinda, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Salvador.
No varejo físico, a variação média foi de 106%. A maior diferença encontrada foi de 262% na embalagem de seis preservativos clássicos, comercializados em Pernambuco. O produto é negociado a R$ 3,59 em Olinda e a R$ 12,99 no Recife. A capital pernambucana apresentou maior preço também na embalagem com três preservativos, se comparado à maior cidade do país, São Paulo, onde o pacote é vendido por R$ 2,52, uma diferença de 233% em relação aos R$ 8,35 cobrados na terra do frevo.