Festa do Morro da Conceição também é lugar para negócios

Maioria do comércio é informal mas o grande fluxo de visitantes garante bons lucros para todos

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 29/11/2018 às 8:38
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Nesta quinta-feira (29), quando começa oficialmente a festa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, Geralda Cardoso, dona do restaurante mais famoso do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, estará no comando da cozinha, e também do caixa, do Bar da Geralda, como faz há quase 30 anos. Com milhares de fiéis circulando na comunidade, dona Geralda e outros comerciantes, sejam formais ou informais, aproveitam para impulsionar as vendas.

Mas, para a cozinheira, nem sempre foi assim. “Eu tinha um compromisso com a Santa de não trabalhar nos dias da festa. Mas, desde o ano passado, por conta das dívidas, pedi permissão a Ela e recebi um sinal de que podia abrir a casa. E assim eu fiz.” O resultado foi melhor do que o esperado. “Só não vendi as panelas porque não podia”, diz dona Geralda, enquanto pede licença para sentar à mesa para almoçar, às 16h, depois de organizar os estoques para os 10 dias de festa que terá pela frente. “Durante um final de semana normal eu recebo umas 500 pessoas aqui. Ano passado, durante a festa, isso aumentou uns 300% ou mais”, afirma, sem se preocupar com a precisão nas contas. Como também serve refeições, com preço médio de R$ 15, ela precisou reforçar o quadro de funcionários, composto normalmente por ela e os dois filhos. Contratou três garçons para dar conta da labuta que começa às 9h e vai até o último cliente. “Só não permito que se venda bebida alcoólica quando a procissão sobe a ladeira. Mando recolher tudo”, diz seriamente, mostrando que a devoção ainda tem espaço nesses dias de bons lucros.

A festa em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, onde circulam cerca de um milhão e meio de fiéis, não podia ser mesmo apenas um local de religiosidade e fé. A própria Igreja se convenceu de que, a exemplo de outros locais de devoção pelo mundo, já era hora do Santuário do Morro da Conceição ter a sua primeira loja de produtos oficiais. O pequeno espaço de 15 metros quadrados aberto no mês passado, fica bem ao lado do Santuário. Todo envidraçado, o local já recebe cerca de 150 visitantes por dia. São oferecidos cerca de 190 artigos diferentes, das tradicionais fitinhas de Nossa Senhora da Conceição (cinco por R$ 1), novenários (R$ 3), camisas (R$ 25) até a bela réplica de 30 cm da imagem da Santa, feita em calcário resinado e pintada à mão, por R$ 350. O valor pode ser parcelado e a igreja espera vender 200 delas.

Padre José Ulysses, reitor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, disse que a loja oficial partiu da própria necessidade dos devotos. “Todo fiel quer levar uma lembrança que dê continuidade a sua visita ao Santuário e sempre atendemos a isso dentro da secretaria da paróquia. Junto com o Padre Renato, resolvemos criar um espaço próprio, com artigos que não se encontram normalmente no comércio.” Padre Ulysses explicou ainda que a loja oficial será permanente e irá contribuir para a manutenção do Santuário. Além deste, a congregação redentorista terá outros dois pontos de vendas temporários durante a celebração.

FESTA DO MORRO

A festa do Morro também conta com patrocinadores oficiais (este ano um total de oito empresas, que têm direito a estamparem suas marcas no entorno do Santuário, apoiam o evento). Os contratos são feitos diretamente com a Igreja, que não revela valores.Como a maior parte do comércio é informal, não há números oficiais de quanto dinheiro circula durante a festa. A prefeitura disciplina os comerciantes sazonais como pode. Este ano, emitiu 330 licenças para pequenos espaços de 1,5 metro (normalmente ocupados por vendedores de velas e lembranças), localizados nas ruas em volta do Santuário, até espaços de 3x3 metros localizados na Praça do Trabalho e Largo Dom Luiz, reservados para quem vende bebidas e alimentos. Os preços das licenças ficaram entre R$ 133 e R$ 650 pelos dez dias de festa. Ontem havia poucos comerciantes montando suas barracas. “Muitos preferem vir a partir deste final de semana, que é quando aumenta a circulação de pessoas”, afirma Olímpia Falcão, chefe da Regional Norte da Diretoria de Controle Urbano (Dircon).

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Tudo pronto para a festa que dura 10 dias - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Loja oficial do santuário tem artigos de R$ 1 a R$ 350 - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Padre José Ulysses, reitor do Santuário - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Festa acontece há 114 anos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Seu Romildo vende lembrancinhas há 30 anos - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

A rigidez da Prefeitura do Recife proibindo que bares, restaurantes e lanchonetes coloquem mesas e cadeiras nas calçadas e ruas do Morro da Conceição fez surgir uma espécie de informalidade dentro da informalidade. É que muitos moradores alugam a parte da frente das casas (e também os quintais como depósito) para que os comerciantes montem seus estabelecimentos. Ninguém fala abertamente, mas os valores pelo uso do terreno podem variar de R$ 2 mil a R$ 7 mil, dependendo do “ponto”.

A comerciante Tania Maria dos Santos faz este tipo de parceria com os moradores. Acostumada a atuar em eventos, ontem à tarde ela trabalhava duro na montagem de quatro lanchonetes, em casas localizadas bem em frente ao palco principal da festa. Doze pessoas irão trabalhar com ela. “Há seis anos vim aqui para cima. Antes, montava meu comércio na Avenida Norte, na subida do morro, mas como a prefeitura proibiu de vender alimentos por lá, dei sorte e encontrei lugar aqui.” Ela diz que está investindo uns R$ 10 mil para vender de cachorro-quente e espetinho a pratos regionais. “É somente uma vez por ano, mas, pela quantidade de romeiros que passam por aqui, vale a pena, sim”, diz Tania.

Seu Romildo Paulino da Silva, passou 30 anos, dos seu 69 de idade, comercializando lembranças da Santa para complementar seus ganhos de metalúrgico soldador. Hoje aposentado, ele continua com seu ponto fixo ao lado da igreja do morro, sem se importar com a concorrência de quem vem de fora vender as peças por lá. “Estou aqui o ano todo”, completa.

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