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No Recife, mercado na morte não enfrenta crise e planejamento é negócio lucrativo

Planos funerários, venda de jazigos, gavetas ou ossuários têm se popularizado e sido opções cada vez mais viáveis no mercado da morte

MARÍLIA BANHOLZER
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MARÍLIA BANHOLZER
Publicado em 30/10/2019 às 15:53
Foto: Felipe Jordão/JC Imagem
Planos funerários, venda de jazigos, gavetas ou ossuários têm se popularizado e sido opções cada vez mais viáveis no mercado da morte - FOTO: Foto: Felipe Jordão/JC Imagem
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A morte é algo inevitável. Então, às vésperas do Dia de Finados, celebrado no próximo sábado (2), fica claro que o planejamento deste momento é um negócio lucrativo. Planos funerários, venda de jazigos, gavetas ou ossuários têm se popularizado e tornado esse ramo (quase) imune à crise. Seja para as classes mais pobres ou para os mais abastados, há opções para todos os bolsos. De acordo com o Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), esse mercado da morte movimenta cerca de R$ 7 bilhões ao ano, além de ser responsável pelo emprego direto de pelo menos 50 mil pessoas no País.

No Recife, não é difícil encontrar anúncios de planos funerários. Um deles é o da Funerária Casa Real, em Santo Amaro, área central da cidade, que possui opções a partir de R$ 22 por mês. O contrato prevê um pagamento mensal durante cinco anos. Nesse período, é possível sepultar até dez pessoas, com carências que variam de 90 dias a seis meses, a depender da idade de quem morreu. No pacote, estão traslado e preparação do corpo, uma coroa de flores, a urna mais simples e a ornamentação do cadáver para o velório.

Plano funeral é opção para mais de mil clientes da Casa Real

O familiar contratante deve informar onde deverá ser feito o sepultamento. Em caso de jazigos ou gavetas próprias ou alugadas, não é paga nenhuma taxa extra. Para aqueles que deverão seguir para um cemitério público, é solicitado o pagamento referente a cada necrópole. De acordo com a proprietária da Casa Real, Andreza Viana, ainda há muito preconceito com os planos funerários, mas aos poucos as pessoas estão entendendo que é necessário se planejar.

"As pessoas dizem que esse serviço é agourar a morte. Mas quem já usou sabe como ajuda num momento delicado. Além disso, você evita um custo inesperado, paga apenas a taxa do cemitério, que varia de R$ 30 pela cova a cerca de R$ 150 pela gaveta", explicou Andreza, que fornece planos há três anos e conta com mais de mil clientes cadastrados.

A opção programada pelos planos funerários fez o faturamento da Funerária Monte Cristo, também em Santo Amaro, cair cerca de 50% nos últimos dois anos. Segundo a gerente da empresa, Adriana Moreira, tem sido difícil as pessoas procurarem os serviços funerários às pressas. "Em geral, isso acontece mais com jovens, vítimas de violência ou de acidentes. Esse é o público que ainda não aderiu aos planos", comentou.

Funerária Monte Cristo estima que o enterro mais barato custe cerca de R$ 800

Ainda segundo Adriana, a Monte Cristo deverá aderir ao mercado de planos funerários até o fim do ano. "Hoje, um serviço que vai do traslado ao sepultamento custa cerca de R$ 1 mil, sendo a opção mais simples. O mais caro pode ultrapassar os R$ 15 mil. Isso sem contar o que se paga pelo túmulo", esclareceu. No entanto, a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) estima que o custo médio de um sepultamento no País fique em R$ 2.500.

Onde sepultar

Na capital pernambucana, todos os cinco cemitérios públicos continuam recebendo novos sepultamentos. Apenas no caso do Parque das Flores, é preciso ter a concessão. Segundo a Empresa de Limpeza Urbana (Emlurb), que administra esses locais, foram investidos cerca de R$ 6 milhões nos últimos cinco anos para garantir melhorias aos cemitérios, que seguem com limitações. São sepultamentos por dia nas necrópoles públicas da capital pernambucana.

Cemitério de Santo Amaro é um dos principais do Recife

Para além desses campos-santos, comprar o terreno onde ficará o túmulo pode sair caro. No Morada da Paz, em Paulista, os preços para sepultamento variam de R$ 14,7 mil a R$ 23 mil, de acordo com a localização dos setores e a quantidade de gavetas. Para a cremar, os valores são R$ 1,9 mil (cremação de restos mortais) e R$ 4,9 mil (cremação de corpo). O gerente de operações do Morada da Paz, Antônio Ricardo Santos, explica a diferença de custos entre as duas opções: "Se a família for proprietária de um jazigo, o sepultamento pode sair mais barato, por outro lado, se for necessário comprar um jazigo, cremar pode sair mais em conta", disse o gerente.

Outra possibilidade é alugar uma gaveta para sepultamento. No Cemitério de Santo Amaro, duas das 42 áreas que pertencem à irmandades religiosas estão sendo administradas por uma empresa particular. A proposta é renovar o espaço, que ganha ares de cemitério particular. Nesses locais, chamados de Alameda das Irmandades, é possível alugar uma gaveta por 2 anos e um dia por valores entre R$ 2,9 mil e R$ 3,6 mil. O mesmo espaço pode ser comprado por R$ 9.130.

Mas, segundo a gerente administrativa da empresa, Andrezza de Melo, o carro chefe do negócio são os ossuários. "Vendemos cerca de 50 ossuários por mês e eles custam de R$ 1,6 mil a R$ 2,5 mil. Ainda tem a opção de comprar um ossuário e ganhar de brinde a permanência na gaveta até o dia dos ossos serem retirados".

Aluguel e compra de gavetas ou ossuários são opções para sepultar

Andrezza de Melo ainda contou que complementou o serviço: "A pessoa só paga uma taxa de manutenção mensal de cerca de R$ 40. Com isso, o sepultamento acontece numa área com segurança 24 horas através de câmeras, manutenção permanente. Não há incidência de insetos ou mau cheiro, por causa do isolamento. É diferenciado. Temos dois espaços desses em Santo Amaro, mas construiremos novos locais", resumiu.

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