Entrevista

''Continuamos firmes na defesa da sociedade'', afirma João Carlos Paes Mendonça

Em entrevista à Rádio Jornal, o empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, fala sobre os desafios do País, de sua crença no futuro e da relevância do jornalismo independente

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Publicado em 18/11/2019 às 23:38
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JCPM acredita que é preciso colaboração e cautela neste momento de crise - FOTO: Bianca Souza/JC Imagem
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Inovação, ousadia, inclusão social e um programa de reformas para destravar a burocracia do Estado e atrair investimentos privados. Na visão do empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo JCPM e do SJCC, é a combinação desses fatores que ajudará o Brasil a retomar o crescimento e combater a extrema desigualdade social. Entrevistado na Rádio Jornal por Eliane Cantanhêde, Jô Mazzarolo, Ciara Carvalho e Geraldo Freire, o empresário reafirma sua confiança no futuro do Brasil.

Confira a entrevista

A duplicação da BR-232 teve uma defesa importante feita pelo senhor. Foi um grande passo para Pernambuco. O que o senhor acha que deve ser feito hoje para melhorar a situação da 232?
JOÃO CARLOS PAES MENDONÇA – A 232 precisa continuar. Ela está muito longe de ser uma BR que vem servir ao Agreste e ao Sertão. A manutenção é muito difícil. A gente precisa chegar até o Sertão para desenvolver a parte central de Pernambuco. É fundamental que isso aconteça.

Em que a polarização do País entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula pode prejudicar a retomada do crescimento em Pernambuco e no Nordeste como um todo?
JCPM – Tem que se acalmar. Cada um tem que procurar minimizar suas posições. O Brasil está numa fase relativamente boa. Apesar de termos no campo político esse desencontro, no campo econômico estamos com perspectivas muito boas de desenvolvimento, através das reformas que estão sendo implementadas. Paulo Guedes tem feito um bom trabalho. Acho que, com o passar do fim do ano, as coisas voltam ao seu leito natural.

O senhor falou em otimismo dos empresários e uma expectativa de retomada dos negócios. Baseado em que o senhor faz essa avaliação?
JCPM – Nós tivemos no primeiro momento do governo algumas dificuldades no campo político, de entendimento entre os poderes. Mas a área econômica está fazendo um trabalho muito bom. As reformas começam a aparecer, os juros mais baixos, a inflação também. O PIB ainda muito ruim, mas temos tudo para resolver, através dessas transformações que vão ocorrer. Começou com a reforma da Previdência, concessão de aeroportos. O governo não nasceu para ser empresário. Os governantes insistem nisso, mas eles têm que cuidar das pessoas, construir escolas, infraestrutura, saúde.

O índice de desemprego no Brasil ainda é altíssimo. O governo federal propôs um novo programa de emprego para os jovens, mas ele desonera o empresariado e taxa o desempregado, através do desconto no seguro desemprego. Essa é uma boa estratégia para alavancar o mercado de trabalho?
JCPM – A intenção é muito boa, mas sem qualificação, não há emprego. Nós, por exemplo, temos seis institutos funcionando e 30 mil jovens já passaram por eles. Com um mercado cada vez mais tecnológico, é difícil empregar o jovem que não foi treinado. Esse é o papel do Instituto JCPM, que já treinou e empregou milhares de jovens. Só no RioMar Recife são mais de 1.500 jovens trabalhando.

Qual o futuro dos shoppings? Tem que mudar muita coisa?
JCPM – É preciso inovar. No Recife, Salvador e Fortaleza, já existem shoppings adaptados à nova realidade: gastronomia, serviços, marketplace, lazer… Os shoppings não serão os mesmos daqui para frente. Nós procuramos entender as necessidades das cidades, suas deficiências de lazer, de segurança, de estacionamento, vias de acesso. Isso tem nos dado uma tranquilidade grande, mas continuamos trabalhando firmes porque sabemos que o mundo mudou e a internet está aí para provar isso.

Pernambuco sempre teve uma liderança no turismo de negócios. E nos últimos anos estamos perdendo essa posição para outras capitais do Nordeste. O nosso centro de convenções está há anos à espera de reformas. Como retomar essa liderança?
JCPM – Eu lamento, porque nós tínhamos um centro de convenções de qualidade bastante razoável. Eu, como presidente da Associação Brasileira de Supermercados, nos anos 80, trouxe duas convenções nacionais para Pernambuco. Era um centro de convenções que atraía público, grandes empresários. É realmente lamentável, e o pior é que Fortaleza tem um super centro de convenções, Salvador está para inaugurar um em dezembro, provavelmente. E nós, que fomos pioneiros, perdemos essa condição de liderança. Mas vamos esperar que o turismo seja fortalecido, porque vai muito além dos negócios. Temos muitas coisas boas de cultura, gastronomia. O que nós precisamos é de estrutura para receber esse pessoal.

O senhor tem uma expectativa positiva em relação à reforma administrativa?
JCPM – Ela tem que vir. As reformas administrativa, tributária e política precisam acontecer. A reforma política é importantíssima. Porque não é possível ter tantos partidos nesse País. Eu sou contra a reeleição, acredito que seja desproporcional a disputa entre quem está no governo e quem está fora. E nós não vamos ficar a vida toda com os mesmos governantes. Tem que haver mudanças, alternância de poder. Para virem cabeças e experiências novas.

Como o senhor avalia a reforma tributária que está sendo discutida no Congresso?
JCPM – O Poder Legislativo e o governo federal precisam encontrar um caminho para a racionalidade na proposta da reforma tributária. Ela precisa existir, porque a carga tributária é alta. E isso vai ser uma boa discussão entre os Estados, municípios e empresários.

Há viabilidade política na extinção dos pequenos municípios?
JCPM – Os políticos querem manter o poder nesses pequenos municípios. É necessário e acho que em uma cidade com 20, 25 e 30 mil habitantes o vereador não deveria nem receber salário. A cidade deveria ser regida por quem quer servir à população. Não há infraestrutura nem assistência médica. Acho importante que o número seja diminuído para que o serviço melhore.

Como o senhor observa o papel da imprensa e o relacionamento com os governos?
JCPM – Primeiro, não falamos mal do governo, noticiamos os fatos. O nosso sistema de comunicação não é oposição nem é governista. Mas, naturalmente, as pessoas só gostam quando a imprensa fala bem dos políticos e dos partidos com os quais eles simpatizam. Temos que defender a sociedade e nos posicionar. Os leitores do JC reconhecem desde 1987 que há independência editorial. O jornal precisa se posicionar e não há como agradar todo mundo. Continuaremos firmes na defesa da sociedade, com independência.

Como o senhor avalia a movimentação dos governadores no Consórcio Nordeste? Eles estão atuando em bloco para atrair investimentos, por exemplo, da China e da Europa.
JCPM – No campo político, não vejo muito bem a construção desse bloco para se contrapor ao poder central. Mas economicamente é bom. Quando você se une para construir é positivo. A questão é saber: os governadores terão força suficiente parar atrair capital chinês? Eles realmente estão dispostos a um programa de privatizações e concessões? Eu acho que tem que ter unidade. Nós somos um Brasil só, não aceito essa ideia de dividir o País.

Estamos vendo uma crise no Chile, Bolívia e Argentina. Há uma abertura na economia e um liberalismo crescente. Mas falta um fator nessa equação que é a inclusão social. Qual é o ponto de equilíbrio entre o crescimento do liberalismo e uma visão generosa de inclusão de várias gerações que vão ficando para trás neste desenvolvimento?
JCPM – Essa é uma grande preocupação. O liberalismo tem seus limites, assim como o capitalismo não pode ser selvagem. Ambos precisam ser sociais, precisam ajudar as pessoas. Se esperarmos que os problemas do Brasil, do Nordeste e de Pernambuco sejam resolvidos pelo governo, estamos perdidos. Precisamos que todos deem sua contribuição: o empresário, o profissional liberal, os jornalistas e políticos, para que a gente reduza a disparidade vergonhosa de renda entre o pobre e o rico. Não é com o liberalismo total, é preciso ter controle.

O senhor acredita que esses conflitos em países vizinhos podem interferir em investimentos na nossa região?
JCPM – Acho que sim. Apesar de o Brasil ser totalmente diferente, um super País com uma economia pujante e as instituições funcionando. Mas tudo isso é fruto de populismo e demagogia. Toda essa conversa é atrás de voto, todo mundo quer permanecer no poder. O presidente da Bolívia passou 13 anos no poder, e fraudou as eleições, todo mundo sabe. O Chile também deixou de cuidar de algumas coisas e aconteceu o que vimos.

O empresariado gera emprego, impostos e desenvolvimento. Como poderia trabalhar melhor para ser uma força de contraponto?
JCPM - Os empresários precisam assumir um papel diferente do que estão tendo hoje. Precisam ter mais voz e serem convocados pelas autoridades. Hoje, sentimos menos integração do empresariado. As lideranças precisam voltar a trabalhar fortemente, pensar na população. O líder empresarial não é aquele que tem o caixa cheio, é aquele que tem ideias, que debate e está disposto, inclusive, a ser sacrificado. Porque tem que ter coragem para enfrentar as questões.

O senhor pretende voltar para o setor de supermercados?
JCPM – Só na próxima encarnação.

Em maio de 2016, no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o senhor deu uma entrevista e falou sobre o risco de perdermos uma geração, diante da estagnação política e econômica do País. Esse risco virou realidade ou mantém um otimismo em relação ao futuro dessa geração?
JCPM – Nós temos uma base muito ruim de crescimento. Este ano o PIB vai crescer 0,9%, ano que vem 2%. O Brasil precisa crescer muito mais que isso. O País não suporta esse ritmo. Precisamos trabalhar pela melhoria da economia, com integração. A juventude está estudando, as mulheres estão mostrando que são ainda mais competentes que os homens e, por isso, tenho esperança que se faça um novo Brasil, do progresso, da juventude e da liberdade democrática, porque, se continuar do jeito que estamos, não será bom. Já perdemos algumas décadas, e estamos tentando sair devagar, mas precisamos acelerar o crescimento.

Empresários do setor imobiliário se sentem otimistas em relação à política econômica do Paulo Guedes. Mas se posicionaram contra a política externa que vem sendo feita pelo presidente Bolsonaro. Todos concordam que o Brasil precisa dessa ajuda externa, e o presidente vem batendo contra diversos países. Como o senhor avalia a política externa do atual governo?
JCPM – Não está indo muito bem. Agora houve uma mudança, e a reunião do Brics pode ser um divisor de águas. Não podemos estar isolados do mundo, precisamos de todos estes países. A China quer investir US$ 6 bilhões no Brasil. Precisamos de muita diplomacia na nossa política externa.

Em momentos de crise, como o senhor consegue cortar custos e continuar trabalhando e crescendo?
JCPM – Nunca fui cortador de custos. No varejo sempre quis vender. Trabalhar mais, oferecer vantagens para o cliente. No shopping, estávamos construindo em meio à crise, sempre atacando e não se curvando a estes momentos. Porque o governo e a crise passam. O empresário precisa ter coragem, trabalhar, investir e sempre se atualizar.

Qual a expectativa para as eleições municipais?
JCPM – Acho que vão levar para as discussões ideológicas e interesses dos grupos, sem projetos para as cidades. A pergunta que deveríamos fazer é “Por que uma pessoa quer ser prefeito”? Para dar continuidade? Para ser senador? Para ser governador? No geral, não há projetos para os municípios. Precisamos saber quais são os projetos para saúde, habitação, segurança para a população. Isso é o mais importante.

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