O ano de 2019 foi de alerta para o Vale do São Francisco. Embora tenha crescido em 30,18% e 18,78% no volume de exportações de manga e uva, respectivamente, a receita foi menor. De acordo com dados da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), as reduções das receitas foram de 12,75% na uva e de 7,25% na manga.
A divergência entre o crescimento das vendas e a queda dos lucros se deu pela necessidade em reduzir o preço do quilo da fruta. Na manga, o desconto médio foi de US$ 0,10 e na uva chegou a US$ 0,29. Com preços mais acessíveis, o Vale do São Francisco vendeu para o mercado estrangeiro um total de US$ 227,5 milhões em mangas e US$ 96 milhões em uvas.
Nas contas da Valexport, um bom preço para vender a manga, por exemplo, foi aquele praticado em 2015. Na época, o quilo era comercializado por US$ 1,17. Em 2019, os Países Baixos (Holanda), principal cliente do Vale, comprou a fruta por US$ 0,95. A média geral do preço por quilo só sobe porque, para alguns mercados, a fruta chega a ser vendida por US$ 1,87, como é o caso da Alemanha.
Para o gerente executivo da Valexport, Tássio Lustoza, os números expõem a necessidade dos produtores do Vale do São Francisco diversificarem as culturas em que investem. Segundo ele, apenas 15% da produção da região é exportada, o restante é consumida pelo mercado interno, que já está saturado.
Sendo assim, quando há o aumento de produção de mangas e uvas, como houve no ano passado, o destino precisa ser o consumidor internacional. “É a regra da oferta e da demanda. Se eu tenho muito do mesmo produto, tenho que baixar o preço para ter competitividade. Mas isso acaba prejudicando as margens de lucro. Vendemos muito, mas lucramos menos”, ressalta Tássio.
Ele ainda alerta que o mercado tem se sustentado porque a cotação do dólar favorece os exportadores, mas se ela baixar, haverá um grande prejuízo, já que o mercado interno não consegue absorver toda a produção. O volume é tão grande a ponto da produção dos Estados de Pernambuco e Bahia, juntos, serem responsáveis por 85,56% da manga exportada no Brasil, e 98,75% das uvas enviadas para fora do País.
“Até aqui nos ajudou o dólar, mas a cotação é muito volátil, não podemos depender apenas desse fator. É preciso diversificar os cultivos, ampliar os mercados”, analisa Tássio. De acordo com a Valexport, o mercado externo tem se interessado em frutas como limão, goiaba, acerola e melão, mas a produção é muito menor quando comparada aos cultivos de uva e manga.
Destino da fruta
Os países que mais compram os produtos do Vale do São Francisco são os Países Baixos (Holanda), Reino Unido e Estados Unidos. Tanto para manga como para uva, a Holanda é o principal cliente. O motivo é o Porto de Rotterdam, o maior da Europa. É através dele que os produtos chegam e são distribuídos na região. Apesar da hegemonia, houve uma redução de 8,83% na compra de uva em 2019. Para manga, houve um crescimento de 35,26%, porém com uma queda na receita de 1,49%.
A exportação da manga também cresceu nos Estados Unidos, Espanha e Reino Unido. Já o mercado da uva praticamente dobrou para Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha. Importante parceiro econômico para Pernambuco, a Argentina tem uma participação discreta nesse tipo de negociação. Os hermanos representam apenas 2,51% da exportação da uva do Vale do São Francisco e 0,55% da manga.
“Não queremos diminuir nossas relações com o porto de Rotterdam, mas sabemos que é importante diversificar os mercados”, analisa Tássio Lustoza.
Logística
Ainda de acordo com os dados da Valexport, o principal modal utilizado nas exportações ainda é o marítimo – em mais de 90% dos casos. No entanto, existe um crescimento na procura pela uva em um determinado ponto de maturação, que pode ser enviada de avião e chegar ainda fresca no destino. “Definitivamente, o envio de navio é a principal saída, isso só deve mudar quando os valores do fretamento aéreo ficarem mais viáveis”, diz Tássio.
O envio dessas frutas, no entanto, não acontece via Porto de Suape, mas através de três outros portos nordestinos: Natal (RN), Salvador (BA) e Pecém (CE). “Infelizmente não mandamos por Suape porque ele se tornou um porto muito mais importador e as frutas não podem esperar para embarcar”, resume Tássio Lustoza.
"Até aqui nos ajudou o dólar, mas a cotação é muito volátil. É preciso diversificar os cultivos, ampliar os mercados”, diz Tássio Lustoza.