Soluções Urbanas

Sustentabilidade é o desafio do turismo em Fernando de Noronha

A movimentação turística é a principal responsável pela receita de Fernando de Noronha

Marília Banholzer e Mona Lisa Dourado
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Marília Banholzer e Mona Lisa Dourado
Publicado em 24/11/2019 às 7:32 | Atualizado em 09/03/2020 às 1:17
Foto: Heudes Regis /Acervo JC Imagem
A movimentação turística é a principal responsável pela receita de Fernando de Noronha - FOTO: Foto: Heudes Regis /Acervo JC Imagem
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Aliar turismo, sustentabilidade e negócios é um dos maiores desafios do Arquipélago de Fernando de Noronha, a 545 km do Recife. A ilha, considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 2001, tem recebido um fluxo crescente de turistas. Ao mesmo tempo, aumenta a preocupação em manter o ecossistema preservado, evitando danos à flora e fauna. A movimentação turística é a principal responsável pela receita de Noronha, que gira em torno de R$ 42 milhões (R$ 36 milhões vindos da Taxa de Preservação e R$ 6 milhões de ISS).

Em 1992, quando começou o registro de entrada de turistas, 10.094 visitantes estiveram na ilha. Em 2018, esse número ficou em 103.548. O detalhe, no entanto, é que o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) de Fernando de Noronha, Rocas, São Pedro e São Paulo, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), prevê que o número de turistas deveria se limitar a 89.790 pessoas por ano. Segundo o administrador da ilha, Guilherme Rocha, há brechas no texto do plano de manejo que permitem a entrada de até 108.510 turistas por ano.

Apesar disso, o aumento escalonado de visitantes gera maior consumo de água e energia, além de um volume maior de lixo e esgoto a serem tratados. E esses sinais já são visíveis para quem vai a Noronha. Na Praia do Porto de Santo Antônio, já se avistou  até carcaça de veículos enferrujando, já que no local existe uma oficina de barcos. Na vila, as lixeiras têm ficado abarrotadas, à espera da coleta.

Lixo fica acumulado em vila do arquipélago. Foto: Amanda Rainheri/JC

Para a presidente do Conselho de Turismo de Noronha, Dora Costa, que possui uma pousada na ilha há 26 anos, é preciso atuar contra o desordenamento urbano. "Para organizar a ilha, temos cobrado do Estado um plano de viabilidade econômica que dirá quanto pode ter de pousada, locadora etc. Temos que ter um plano diretor, um plano de capacidade de carga. Depois disso, podemos rever a condição que Noronha tem de receber", diz. De acordo com Guilherme Rocha, esses estudos são capitaneados pela Agência de Meio Ambiente do Estado (CPRH).

Além da questão do meio ambiente, o turista que vai a Noronha paga caro para encontrar uma ilha com infraestrutura insuficiente. O assunto foi tema de audiência pública da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, em Brasília, no final de 2018. No encontro, os políticos alertaram quanto à necessidade de ampliar a infraestrutura de serviços para os visitantes e os próprios moradores, que sofrem, por exemplo, com racionamento de água e vias de chão batido, por vezes intransitáveis, onde até buggies e veículos de tração patinam após uma noite chuvosa.

Basta uma chuva para estradas de acesso às praias sofrerem. Foto: Diego Banholzer/Cortesia

 Turismo em Noronha não é barato

Por dia, o visitante desembolsa R$ 73,52 de Taxa de Preservação Ambiental – cobrada pelo governo estadual. Para ter acesso às praias do Parque Nacional Marinho, onde está a praia do Sancho, o brasileiro desembolsa R$ 111 e o estrangeiro, R$ 222. O bilhete é válido por dez dias.

Estada, transporte, alimentação, passeios turísticos também têm valor um tanto salgado. Segundo pesquisa feita pela Empetur, 95% dos visitantes consideram elevados os preços de bens e serviços. O levantamento mostra que o gasto médio diário do turista em Noronha é R$ 568,18 (57% maior do que em Ipojuca, onde está Porto de Galinhas e o tíquete médio fica em R$ 243,09).

Quando comparado a Recife e Ipojuca, o destino Noronha perde na intenção de regresso dos visitantes. Enquanto a capital tem um índice de 93,7%, o arquipélago fica com 83,3%. Para o presidente da Associação de Pousadeiros de Fernando de Noronha, Ivan Costa, a questão infraestrutura é um dos pontos que fazem o turista preferir não voltar à ilha após a primeira visita. "Não existe isso de fazer turismo barato em Noronha. Se for barato não tem qualidade. Então o turista paga caro e não tem conforto. Não tem um banheiro na praia, um aeroporto adequado, as estradas são de barro", pontua Ivan.

Não existe isso de fazer turismo barato em Noronha. Se for barato não tem qualidade.

Ivan Costa, presidente da Associação de Pousadeiros de Fernando de Noronha

O administrador da Ilha, Guilherme Rocha, confirma que a questão infraestrutura é calo do turismo em Noronha, mas diz que investimentos têm sido feitos para melhorar a experiência do visitante e do ilhéu. "Estamos entregando em breve a obra de requalificação do Porto de Santo Antônio, estão previstas intervenções estruturais nas vias vicinais de acesso às praias e às comunidades, tudo com recurso próprio", ressalta.

O destino também tem buscado projetos em prol do meio ambiente como o Noronha Plástico Zero, que proíbe a entrada de descartáveis de plástico na ilha, e o Noronha Carbono Zero, voltado para redução de gás carbônico, incentivando os veículos elétricos e a utilização de energia renovável, como a solar e a eólica.

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