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No Rio de Janeiro, Paraty celebra a gastronomia que atrai turistas

Os festivais foram a receita encontrada por Paraty para atrair visitantes ao destino, que fica no extremo sul do Rio de Janeiro

Mona Lisa Dourado Marília Banholzer
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Mona Lisa Dourado
Marília Banholzer
Publicado em 27/11/2019 às 8:22 | Atualizado em 09/03/2020 às 1:03
Fotos: Danilo Castro/Divulgação
Paraty, extremo sul do Rio de Janeiro. - FOTO: Fotos: Danilo Castro/Divulgação
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Encravada no extremo sul do Rio de Janeiro, em meio a quase duas centenas de ilhas e à diversidade da Mata Atlântica, a cidade de Paraty faz da natureza o cenário privilegiado de uma vida cultural intensa. De janeiro a dezembro, um calendário diversificado de eventos de menor ou maior porte abrange da literatura à gastronomia, passando pela música, fotografia e religiosidade.

Os festivais foram a receita encontrada por Paraty para atrair visitantes ao destino fora da alta estação e ativar toda a cadeia do turismo, que responde por 80% dos empregos e por 90% da economia do município de quase 40 mil habitantes. "Essa história ganha impulso com a Flip (Festa Literária de Paraty), em 2003, que traz cerca de 25 mil turistas à cidade. Mas antes já tínhamos eventos tradicionais, como o Festival da Cachaça, de mais de 40 anos, que foram potencializados", conta a secretária de Cultura de Paraty, Cristina Maseda.

O reconhecimento internacional conquistado em julho deste ano, como Patrimônio Histórico e Natural da Humanidade pela Unesco, deve contribuir para projetar ainda mais a cidade no exterior e aumentar o fluxo de turistas, hoje em torno de 1,5 milhão por ano. O título se soma a outra importante distinção alcançada em 2017, que tem representado um diferencial no turismo de Paraty: o selo de Cidade Criativa para a Gastronomia, também concedido pela Unesco.

"As antigas receitas que usam ingredientes locais produzidos artesanalmente e são passadas de geração a geração vêm sendo fortalecidas nos últimos anos. Fomos atrás desse título justamente para agregar valor ao já consolidado turismo cultural e incentivar tanto os restaurantes quanto a pesca e a agricultura familiar. Sem contar que é mais uma forma de aplacar a sazonalidade entre um evento e outro", resume Cristina Maseda.

Paraty faz da natureza o cenário privilegiado de uma vida cultural intensa

O principal polo gastronômico concentra-se no bem preservado sítio histórico, onde muitos dos imóveis coloniais abrigam parte dos cerca de 600 restaurantes e bares locais, que também se espalham pelas ilhas e pelo distrito de Trindade. Nos cardápios variados, o destaque é para miscigenada comida caiçara, de influência portuguesa, indígena e africana. Também há espaço para a releitura contemporânea dos pratos típicos à base de pescados, frutos do mar, farinha de mandioca e banana.

"Passamos a incluir a procedência dos produtos nos menus, para promover os produtores por um lado e, por outro, fazer os turistas conhecerem os ingredientes genuinamente paratienses", diz a diretora financeira do Convention Bureau de Paraty, Georgia Joufflineau, que administra uma pousada e um restaurante na cidade. Engenhos de cana-de-açúcar artesanais ainda em funcionamento, cachaçarias, casas de farinha, quiosques de praias e os coloridos carrinhos de doces caseiros, como o manuê de bacia, feito de melado, são outros elementos da rica cena gastronômica de Paraty.

Culinário é o segredo do sucesso

As ações de valorização da gastronomia, pontua Georgia, também incluem eventos específicos do setor. Caso do Festival do Camarão, na Ilha do Araújo, em junho, do Festival da Cachaça, Cultura e Sabores, no mês de agosto, e do Festival Gastronômico, em novembro. "Na prática, todas as festividades têm relação com a culinária. Na Flip, por exemplo, acontece a aula-show de gastronomia e o intercâmbio de receitas com países de língua portuguesa. E na Festa do Divino o destaque é a farofa de feijão servida no almoço", diz Georgia, referindo-se ao alimento que tem origem com os tropeiros, no período colonial.

Entre os atrativos gastronômicos, Paraty conta com um Festival de Cachaças

 A profissionalização do turismo cultural e do turismo gastronômico, além de visitantes, trouxe outros ganhos para a economia da cidade. Um deles é a inauguração recente de um novo Mercado de Peixe, onde os pescadores artesanais vendem diretamente seus produtos aos consumidores finais. Já a implantação da Feira do Produtor Rural facilita a comercialização de produtos da agricultura familiar, orgânica e agroflorestal. Está em andamento, ainda, a implantação de um Centro de Formação e Economia Criativa, em que a gastronomia será um dos principais eixos de capacitação profissional.

Os títulos internacionais conquistados pela cidade podem contribuir ainda para o enfrentamento de dois problemas de Paraty, comuns à maioria dos municípios brasileiros: o baixo índice de saneamento e a violência na periferia. "Com a visibilidade que alcançamos, será mais fácil negociar recursos nacionais e internacionais para combater essas questões. No caso do saneamento, é um requisito para manter o chancela de patrimônio. Mas precisamos de articulação com outras áreas", afirma a Secretária Executiva do Conselho de Turismo de Paraty, Laíse Costa, acrescentando que o turismo e a cultura são vetores de desenvolvimento, mas não solucionam sozinhos gargalos sociais e de infraestrutura das cidades.

» SEMINÁRIO SOBRE TURISMO

Para debater caminhos possíveis para o turismo, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) realiza nesta quarta-feira (27) o Seminário Soluções Urbanas – Turismo, que reunirá especialistas, profissionais do trade, empresários, gestores públicos, estudantes e demais interessados no tema. As inscrições para o evento já estão abertas, são gratuitas e podem ser feitas até o dia 26 pelo e-mail eventos@sjcc.com.br ou no site www.jc.com.br/seminariojc. O encontro ocorre das 8h às 12h30, no auditório do SJCC na Rua do Lima, em Santo Amaro.

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