Depois de mais de um ano de investigações e de reunir 200 mil páginas de evidências, o processo na Fifa sobre a compra de votos para sediar a Copa do Mundo de 2022 no Catar concluiu que cartolas agiram de forma ilegal e sugere que medidas sejam tomadas contra "certas pessoas". O documento também pede uma modificação sobre a forma pela qual sedes são escolhidas para o Mundial. Mas não sugere suspender de forma automática a Copa do Catar.
O informe está sendo mantido em sigilo e os nomes dos envolvidos não foram divulgados. A reportagem apurou com exclusividade que entre os nomes citados no informe está Ricardo Teixeira, que votou pelo Catar e foi até 2012 o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo do Brasil.
Nesta sexta-feira, o investigador da Fifa, o norte-americano Michael Garcia, entregou seu relatório à secretaria da entidade em Zurique, depois de entrevistar 75 testemunhas sobre como ocorreu a concorrência para sediar a Copa de 2018 e 2022. O resumo do processo contém 350 páginas, baseadas em mais de 200 mil de documentos coletados na apuração. O informe está sendo mantido em total sigilo. Mas Garcia, em um comunicado, indicou que recomenda que ações sejam tomadas "com respeito a determinados indivíduos".
Pessoas envolvidas com o processo indicaram à reportagem que a constatação é de que, de fato, certas pessoas receberam diversos benefícios por dar seu voto a um ou outro país. No caso da América do Sul, porém, os três cartolas que votaram pelo Catar já não estão mais na Fifa.
Ricardo Teixeira se exilou nos Estados Unidos, o paraguaio Nicolas Leoz pediu demissão e o argentino Julio Grondona morreu no mês passado. Mesmo assim, uma decisão da Fifa de condenar Teixeira o impediria de voltar eventualmente ao futebol e suspenderia a aposentadoria que ainda recebe da entidade.
CATAR - O documento ainda sugere medidas para modificar a forma pela qual a Fifa realiza seus processos de seleção de sedes pelo mundo, numa indicação de que o formato criado pela entidade teria de passar por sérias reformas. Os Estados Unidos, por exemplo, já indicaram que apenas vão se lançar como candidatos para receber a Copa de 2026 se a Fifa mudar seu processo de escolha.
Críticos alertaram que a investigação teria de sugerir também a exclusão do Catar da Copa de 2022, depois das suspeitas de compra de votos. Mas a declaração emitida pela Fifa não especifica se Garcia chegou a recomendar o fim da Copa na Rússia em 2018 e no Catar em 2022. "Uma decisão sobre isso será política", declarou uma fonte em Zurique.
A partir de agora, o juiz do Comitê de Ética da Fifa, Joachim Eckert, vai avaliar o informe e impor eventuais sanções. Mas o próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, já alertou que apenas os cartolas do Comitê Executivo da entidade poderão retirar a Copa do Catar ou da Rússia. Hoje, o representante brasileiro no órgão é Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF.
ELEIÇÃO - Nos últimos meses, Blatter vem dando sinais de que quer usar o caso para se eleger em 2015 para mais um mandato no comando da Fifa. No início do ano, ele chegou a dizer que a escolha do Catar foi "um erro". No ano de 2010, no mesmo da escolha, Blatter chegou a se opor. Para críticos, a situação do Catar ainda impediu que Michel Platini se candidatasse para as eleições na Fifa em 2015. O francês foi um dos que votou pelo Catar e anunciou seu voto.