A Série A1 do Campeonato Pernambucano de 2016 só começa em janeiro, mas antes mesmo de a bola rolar, assim como houve com a A2, já caminha para a crise dos times do interior. Na reportagem de ontem, o JC mostrou que, nas 76 partidas da divisão de acesso (sem contar as do dia que foram as últimas da segunda fase) o público total foi de menos de 15 mil pessoas, deixando um prejuízo de R$ 98.154, só de taxas da Federação Pernambucana de Futebol (FPF). Um dos fatores foi o fim do programa Todos Com a Nota (TCN), do Governo de Pernambuco, que depois de 17 anos foi extinto. Sem o apoio financeiro, os times do interior que vão disputar a elite do torneio em 2016 já estão sofrendo para planejar as contas. Com dificuldade para fechar verbas com prefeituras e patrocinadores, eles estão tendo que reduzir ainda mais as já modestas folhas salariais e na proporção inversa reclamam que o abismo financeiro e técnico para os times da capital que sempre foi grande aumentará ainda mais.
O Salgueiro, que há anos vem se consolidando como a grande força do interior (é o atual vice-campeão pernambucano) mostra-se desacreditado quanto ao rumo que o Estadual está tomando. “Não vai ser nenhuma surpresa se voltarmos a ver situações que ocorriam frequentemente no passado com placares de goleadas de 8x0 e 10x0 aplicadas pelos times da capital nos do interior por conta da falta de recurso. Com essa diferença tão grande de receita, os da capital vão ganhar no interior com os pés nas costas”, afirmou o presidente do clube, Clebel Cordeiro.
O próprio Cornélio de Barros é testemunha da falta que o TCN faz para o time. No Estadual, ainda com o subsídio governamental, a média de público foi de 6.724 pessoas, enquanto na Série C do Brasileiro, já sem o programa, o índice despencou para 568. O baque nas finanças foi tão grande que o clube chegou a oficializar o pedido de afastamento da competição à CBF, o que lhe causaria graves punições – como rebaixamento e suspensão. A FPF, de última hora, “apagou o incêndio” com uma ajuda emergencial para, ao menos, terminar o torneio. “São mais de 10 anos do programa, o torcedor já estava acostumado e não quer pagar para ver jogo, ainda mais nesse tempo de crise. Se ficar do jeito que está não vai ter jeito, os clubes e o campeonato vão à falência”, disparou Clebel.
Sobre a folha salarial, o mandatário do Carcará disse que não tem como enxugar o valor que gira em torno de R$ 180 mil. “É impossível montar um time competitivo com folha menor que isso e disputar Pernambucano, Copa do Brasil e Série C do Brasileiro. O único apoio que tínhamos que era o da prefeitura de R$ 50 mil mensais pode ser que não possamos contar com ele no próximo ano. Não vamos jogar a história que construímos no mato e não disputar os campeonatos, mas sabemos que vamos ter que fazer milagre”, lamentou Clebel.
Outro clube que também está à espera de um milagre é o Central, que, em 2015, teve uma folha salarial de R$ 150 mil. Na sequência da temporada, baixou para R$ 100 mil na Série D do Brasileiro. Para o próximo Estadual, reduzirá para, no máximo, R$ 80 mil. “A cada reunião de planejamento, as perspectivas ficam cada vez piores. Sem ajuda da Federação e do governo, vamos praticamente pagar para jogar. Vamos ter que fazer um time caseiro só com jogadores da região mesmo. O campeonato está caminhando para o abismo”, reclamou o presidente do clube Chico Noé.
Desde que foi eliminado da Série D, o Central já começou a tentar garantir a renda para 2016, mas até agora nada. “Contávamos com quatro patrocinadores: a prefeitura, uma faculdade, uma concessionária e uma loja de material de construção. Estamos tendo reuniões com eles, mas nenhum renovou o contrato até agora. Mas não passa pela cabeça fechar as portas. O clube está chegando ao centenário (tem 96 anos), é um patrimônio de Caruaru e vamos colocar o time em campo de todo jeito”, garantiu Chico.
EVANDRO AVALIA PÚBLICO COMO BOM
Apesar dos dados apurados e analisados pela reportagem do JC, o presidente da FPF, Evandro Carvalho, considerou como bons os públicos obtidos pelos clubes da Série A2 e se defendeu dizendo que as taxas cobradas pela entidade seguem normas federais.
“Esse é o primeiro campeonato sem o programa Todos com a Nota, então, claro que o público é inferior aos de anos anteriores, mas, em compensação, é muito superior em relação a todos os Estados do Norte e Nordeste na segunda divisão”, disse o mandatário, que explicou o pagamentos das taxas: “Você não pode fazer um jogo profissional sem pagar INSS, seguro, transporte, etc. Tudo isso é o que manda a nossa legislação. Apenas compete à Federação recolher esses valores”.
Quanto ao prejuízo das partidas, o mandatário disse que isso deveria ter acontecido esporadicamente em uma ou outra. Ao ser informado pela reportagem que os borderôs de todos os jogos foram analisados e que 83% deles apontaram que a receita do público nem sequer cobrem as taxas da FPF, ele mostrou incredulidade e informou que enviaria ao JC um relatório financeiro com dados que provariam que as partidas, na verdade, não apresentavam saldo negativo. Até o fechamento desta edição, o citado relatório não foi enviado. “Nesta semana, nós estamos enviando um grupo de trabalho para São Paulo para reuniões com patrocinadores para tentar captar recursos”, prometeu Evandro.
Já a Secretaria da Fazenda de Pernambuco informou que o TCN, por determinação do governador Paulo Câmara, está sendo reavaliado e que, em seu formato atual, ele não mais existirá. “A medida foi necessária diante da crise econômica que afeta o País e está em consonância com o Plano de Contingenciamento de Gastos (PCG) instituído pelo Governo do Estado em fevereiro. A ordem é priorizar os gastos na área social (saúde, educação e segurança pública). Em seus dois módulos – Futebol e Solidário –, o TCN estava custando aos cofres estaduais, em média, cerca de R$ 34 milhões/ano, entre operação e premiação”, informou a secretaria, por meio de nota.