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Hulk derruba racismo na Rússia com gols e atitude

Além de rebater os insultos racistas, levantou a bandeira da luta contra a homofobia

Da AFP
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Publicado em 19/10/2015 às 17:20
Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Além de rebater os insultos racistas, levantou a bandeira da luta contra a homofobia - FOTO: Foto: Rafael Ribeiro/CBF
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Com apelido e porte físico de super-herói, o atacante Hulk usa seus 'super-poderes' para assumir a frente da luta contra o racismo na Rússia, onde continua sendo vítima de preconceito apesar de brilhar com o Zenit de São Petersburgo. 

A trajetória do paraibano no país-sede da próxima Copa do Mundo começou da pior forma possível. Jogador mais caro da história do futebol russo, foi alvo de críticas pelo montante astronômico de 60 milhões de euros que o Zenit desembolsou para tirá-lo do Porto, em 2012.

O atacante correspondeu em campo, mas não demorou para se tornar alvo da intolerância de parte dos torcedores do clube.

Mesmo assim, Hulk não teve medo de se colocar na linha de frente. Além de rebater os insultos racistas, levantou a bandeira da luta contra a homofobia, outra praga que contamina as arquibancadas na Rússia. Uma atitude bastante rara no meio machista do futebol.

"Acho que essas pessoas não se importam com a diversidade cultural. Eu respeito jogadores de todas as cores de pele e orientações sexuais", afirmou em alto e bom som o brasileiro de 29 anos, em entrevista à agência local R-Sport, menos de seis meses depois da sua chegada.

"Esses torcedores que xingam pessoas de outras cores e homossexuais nem pensam direito no que estão fazendo", completou.

 

 

- Beijinhos -

Três anos depois, infelizmente, Hulk continua sofrendo preconceito, apesar de carregar o time nas costas. 

Em março, o Torpedo Moscou fui punido com duas partidas com portões fechados por causa de gritos de macaco ouvidos no estádio.

Em setembro, torcedores de outro clube da capital, o Spartak, voltaram a ofender o brasileiro, que respondeu de forma irônica, com beijinhos na direção da torcida. Uma forma de mostrar que o ódio nunca é a solução.

"No passado, eu ficava chocadíssimo e esses incidentes me deixavam louco de raiva. Aqui, ninguém leva em conta este problema, nem os árbitros, nem os representantes da federação. agora, procuro não ficar nervoso, e só mando beijinhos às pessoas que tentam me machucar", justificou.

Em dezembro do ano passado, Hulk chegou até a denunciar insultos xenófobos da parte de um árbitro, Alexei Matyunin. O acusado acabou negando os fatos e o caso foi encerrado.

Na época, um representante da Federação Russa, muitas vezes acusada de minimizar o problema do racismo no país, alegou que as imagens da partida deixavam entender que o brasileiro tinha provocado o juiz e não o contrário.

 

 

- 'Vergonha' -

Hulk, que disputou com a seleção brasileira as duas primeiras rodadas das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, nunca teve medo de expressar publicamente suas preocupações em relação à competição.

"Casos de racismo podem acontecer em todos os lugares, até no dia a dia. É sempre muito triste, é uma vergonha, não deveria acontecer", criticou o paraibano em julho, depois do primeiro de muitos incidentes racistas desta temporada na Rússia.

No mesmo mês, o volante ganês Emmanuel Frimpong, do FC Ufa, foi expulso por ter reagido a insultos racistas durante uma partida.

"Se isso se repetir durante a Copa, será realmente muito feio e escandaloso, e o mundo inteiro vai estar assistindo", alertou.

Depois dessa declaração polêmica diante de agências internacionais, Hulk foi retirado da cerimônia do sorteio das eliminatórias do Mundial, marcado para o dia seguinte, em São Petersburgo.

Quem tirou as bolinhas no seu lugar foi o ex-volante russo Alexei Smertin.

Na ocasião, o diretor do comitê organizador local (COL), Alexei Sorokin, negou que a decisão tenha sido tomada por conta dessas declarações, alegando compromissos do jogador com seu clube.

Mesmo assim, o fato de tirá-lo do sorteio na véspera do evento surpreendeu muita gente.

Apesar deste ambiente hostil, o atacante vive um grande início de temporada com o Zenit, e voltou a ganhar a confiança de Dunga ao retornar à seleção em setembro pela primeira vez desde a Copa do Mundo no Brasil, na qual foi apontado como um dos principais vilões do fracasso da seleção.

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