Apesar do sinal de alerta do xeque Salman, um dos favoritos da eleição presidencial da Fifa, especialistas apontam que a entidade que rege o futebol mundial não corre risco de falência por possuir importantes reservas graças às arrecadações com a Copa do Mundo.
"É verdade que os patrocinadores puxaram o freio de mão e que faltam alguns em certas categorias", explicou um ex-membro da Fifa, "mas não acredito que a Fifa corra riscos".
Apesar das previsões catastróficas do xeque Salman, a Fifa, que realmente deve ficar no vermelho em 2015 (por pouco mais de 90 milhões de euros, segundo fonte próxima à entidade), não tem muito com que se preocupar, graças ao 1,5 bilhão de euros acumulado na reserva.
Em janeiro, o xeque Salman sentenciou: "os resultados financeiros declinaram substancialmente durante o último ano. Estamos diante de um déficit que atingirá proporções inesperadas se não mudarmos o comandante do navio (...) Até 2018, a Fifa terá gastado suas reservas se o 'status quo' atual for mantido nas eleições e se continuar tendo uma falta substancial de receita oriunda de direitos de transmissão e marketing".
Segundo o xeque do Bahrein, a Fifa estará quebrada em alguns anos, já que "as novas propostas de alguns candidatos aumentariam os gastos em um bilhão de dólares em quatro anos".
Futebol, único esporte universal
"Meu plano não é levar a Fifa à falência, e sim de reestruturá-la e revitalizá-la", continuou.
Para um especialista de marketing esportivo, "o alerta proferido por Salman é principalmente um argumento eleitoral. Mesmo se as reservas forem usadas para crescer o programa de desenvolvimento, a Fifa pode contar com o dinheiro dos contratos já assinados para as duas próximas Copas do Mundo de 2018 e 2022 e nenhum grande patrocinador abandonou o barco recentemente, ou seja, os recursos existem".
"O futebol segue sendo de longe o esporte mais atrativo para os anunciantes", concordou um especialista em marketing de uma grande federação esportiva. "É o esporte número 1 do mundo, com 2,2 bilhões de fãs, segundo estudo recente, ou seja, 49% do público, muito à frente dos outros esportes. É o único esporte realmente universal", continuou o especialista, que não quis se identificar. "Os patrocinadores existentes não querem sair e deixar a vaga para um concorrente".
Dois grandes patrocinadores, Emirates e Sony, porém, encerraram parcerias com a Fifa, os dois em novembro de 2014, mas isso antes do escândalo atual.
Já Coca-Cola e McDonald's, dois dos maiores parceiros da Fifa, chegaram a exigir a saída imediata do presidente Joseph Blatter, desde então suspenso por oito anos, mas ambas as empresas seguem patrocinando a entidade.
Credibilidade do produto Fifa
"Os patrocinadores históricos ficam, mas, por outro lado, a Fifa tem dificuldade em convencer novos parceiros", explicou este mesmo especialista de marketing, lembrando que o vínculo com a empresa chinesa Alibaba E-Auto para patrocinar o Mundial de Clubes do Japão, em dezembro, foi finalizado de última hora.
"Se a Fifa tem como grande missão reconstruir a confiança na entidade, ainda há um grande interesse em seus produtos, como a Copa do Mundo", afirma por sua vez Mike Laflin, especialista em marketing esportivo e fundador da Sportcal.
"Ao contrário da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), a credibilidade dos produtos da Fifa não foi atingida. Alguns membros do Comitê Executivo foram presos ou estão sendo julgados por corrupção, mas, ao que parece, não fizeram nada que tivesse afetado os resultados das competições, o que não foi o caso no atletismo", completou.
Para este último especialista, a Fifa "apresenta receitas estáveis e tem um belo futuro pela frente se conseguir dar um jeito nos problemas de governança".
Esta será de fato a principal -e complicada- missão do sucessor de Sepp Blatter, que será eleito em 26 de fevereiro. Diante do xeque Salman, quatro outros candidatos se apresentaram: o suíço Gianni Infantino, o príncipe jordaniano Ali, o francês Jerome Champagne e o sul-africano Tokyo Sexwale.