Imagens gravadas por torcedores em uma das saídas do anel superior da Arena Pernambuco, na última quarta-feira (24), nos minutos finais do Clássico das Multidões pela Sul-Americana, mostram o exato momento em que cinco soldados do Batalhão de Choque espancam com cassetetes Arthur Soares de Paula, 22 anos, que estava imobilizado por outros dois. Ele havia sido detido após desferir uma voadora nas costas de um policial do Choque durante confusão generalizada no setor destinado à torcida do Sport. A Secretaria de Defesa Social (SDS) informou, via assessoria de imprensa, que já foi instaurado procedimento para apurar a conduta dos soldados no caso.
A confusão entre torcedores e policiais começou depois de membros de uma torcida organizada do Sport acenderam sinalizadores dentro do estádio, o que é terminantemente proibido. A polícia militar precisou intervir e assim começou o tumulto.
Arthur, que é ex-integrante da organizada Torcida Jovem do Sport, conta que vem recebendo inúmeras ameaças de morte, tanto pelas redes sociais como por telefone. De acordo com ele, dados pessoais (como endereço, nome dos pais e número telefônico) que forneceu durante o depoimento que prestou na Delegacia de Intolerância Esportiva foram vazados na internet por policiais militares. A reportagem do JC constatou a veracidade da informação. Um PM colocou no Facebook uma foto de Arthur algemado, seu endereço completo e um aviso no final: “Que coisa feia, isso costuma acabar mal”.
Com medo, Arthur e a família deixaram a casa onde moram em Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. A mãe dele, uma senhora de 58 anos que pediu para não ter o nome divulgado, foi na tarde desta sexta-feira (26) ao quartel do Batalhão de Choque. Foi recebida por oficiais de alta patente. Ela se desculpou pela agressão do filho contra um policial e pediu proteção para ele.
Pela rede social Whatsapp, em conversa com a reportagem do JC, Arthur deu a sua versão do que aconteceu. “Durante o jogo Santa x Sport, alguns torcedores acenderam sinalizadores. Após isso, começou uma confusão. Policiais passaram a bater em quem estava na frente. Nesse momento, vi dois policiais batendo em alguns torcedores e na intenção de defendê-los dei um chute em um policial. Depois que percebi o que fiz, comecei a correr...”, relatou. “Até pensei em me entregar, mas tive medo de apanhar. Fiquei entre uns torcedores do Sport até que policiais me abordaram e me levaram. Nesse momento me bateram muito. Sem mais motivos, pois eu já estava imobilizado. Se forem analisadas as imagens, vai dar para ver que as pessoas estavam apanhando já sem motivos”, completou.
Depois, falou das ameaças que vem sofrendo. “Agora, estou preocupado, pois policiais postaram minha foto com meu endereço no Facebook e ligaram sem identificação de chamada para o telefone que eu informei no Boletim de Ocorrência e fizeram ameaças. Até uma moto passou próxima da minha casa com homens com a minha foto perguntando onde eu moro”, relatou.
No Boletim de Ocorrência, Arthur foi indiciado em dois artigos: 41-B do Estatuto do Torcedor (provocar tumulto em praça esportiva) e 329 do Código Penal (resistência à prisão). Como se tratam de crimes de menor potencial ofensivo, ele foi liberado após prestar depoimento sem a necessidade de pagar fiança.