“Era um sonho dele”. A frase é dada como justificativa por Cleidson Santana para a sua volta aos gramados. Referindo-se ao irmão Cléber Santana, uma das 71 pessoas que morreram na queda do avião que transportava a Chapecoense até Medellín, na Colômbia, para o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, em novembro de 2016.
Leia Também
Pernambucano como o irmão, então capitão da Chapecoense, Cleidson, 29, passou dois anos sem jogar futebol. Largou o esporte por conta da desilusão com a profissão. Voltou aos gramados após pedido da cunhada, Rosângela Santana. “Ele (Cléber) me apoiava muito. Para onde eu fui, foi ele que me levou. Depois do acidente, a minha cunhada me pediu para jogar”, explica. O meia tentou oportunidade na própria Chape, mas foi negada. Encontrou as portas abertas no Olaria e, depois, no Tigres, ambos do Rio de Janeiro.
Agora acertou com a Cabense para a disputa da Série A2 do Campeonato Pernambucano. Estreou na última quarta-feira, na derrota para o Porto, por 1x0, fora de casa, no jogo de ida das quartas de final da competição. Percorre 62km, de carro, todos os dias para poder treinar. Sai de Marinha Farinha, no Paulista, e vai até o centro Cabo de Santo Agostinho. “Chego em casa morto de cansado. Só dá tempo de dormir e acordar para treinar no outro dia”, se queixa.
SEMELHANÇAS
A semelhança física entre os dois é algo que chama atenção de todos. O formato do rosto, o jeito de andar e até o tom de voz parecido ficam evidentes.
Mas as particularidades entre ambos não são apenas físicas. Assim como Cléber, Cleidson é meio-campista. Tem passe cadenciado e refinamento no toque de bola. Características que consagraram o irmão.
“Ele é um pouco mais alto. Tem 1,84m e eu, 1,74m. Mas o jeito de andar e de jogar, o povo diz que é muito parecido”, afirma, utilizando o verbo no presente, talvez como forma de relutar a partida do companheiro.
O forte laço entre os irmãos Santana tem explicação. Os dois ficaram órfãos de pai quando o caçula tinha 12 anos e o mais velho, 19. Coube a Cléber assumir as rédeas da casa, ainda quando moravam em Abreu e Lima. Por este motivo, Cleidson enxerga um pai na figura do primogênito. “A força veio dele. A força toda veio dele. A cada gota de suor vem ele na cabeça”, diz o meia, quando questionado sobre a primeira vez em que entrou em campo após o acidente.
Em certos momentos da conversa com o JC, o jogador ficou com a voz embargada. Lembrando momentos felizes da infância. E com o irmão “imortalizado”, caberá a Cleidson a missão de contar sua própria história.
As homenagens de Cleidson a Cléber Santana não se restringiram à volta aos gramados. O irmão mais novo decidiu fixar na pele imagens alusivas ao irmão, com tatuagens. Como o rosto do ex-camisa 88 da Chapecoense e parte da letra da música “Sonhar”, do MC Gui. O título e o consequente acesso à Série A1 do Pernambucano com a Cabense também são objetivos a serem alcançados.
“Estou muito motivado em estar aqui. Temos um grupo bom. Temos tudo para conseguir esse acesso e dar alegria à torcida. Dedicarei o acesso a ele e a minha mãe, que passa por um momento difícil. Eu sei que onde ele estiver vai estar feliz por mim.”
Marinalva Santana, mãe, mora sozinha e perdeu peso após o falecimento de Cléber. Segundo Cleidson, ela ainda fica sentida quando o nome do filho primogênito é falado. “Às vezes eu chego lá e ela está chorando sozinha, em casa. Emagreceu um pouco. Ainda sente se falar o nome dele. Ela me lembra muito ele. Só ficou eu de filho e moro um pouco longe (Marinalva mora em Ouro Preto, Olinda). Está caminhando, mas não está muito legal não. Graças a Deus estamos tentando seguir em frente”, relata.
Quanto ao apoio dado pela Chapecoense às famílias que perderam parentes na queda do avião, Cleidson garante que nada do que foi prometido em novembro foi cumprido.
SÉRIE A2
A Cabense terá que vencer o Porto por, no mínimo, dois gols de diferença para poder avançar na Série A2 do Pernambucano, neste domingo, às semifinais. Se devolver o placar de 1x0, a decisão será nos pênaltis. A partida será no Gileno de Carli, no Cabo, às 16h. Mais cedo, às 15h, Vera Cruz e Sete de Setembro jogam no Gonzagão, em Feira Nova. A ida terminou 2x2. Empate por 0x0 ou 1x1 favorecem os donos da casa.
No mesmo horário, o Pesqueira recebe o Centro Limoeirense, no Joaquim Brito. O primeiro jogo terminou 1x0 para o Dragão, que tem a vantagem do empate. Por fim, o Decisão tenta devolver o placar de 2x0 sofrido para o Íbis na ida, às 16h, no Arturzão, em Bonito. Tem que vencer por três gols de diferença.