Quando, há sete anos, Kleberson Luiz Monteiro da Silva, de 29 anos, encontrou o cãozinho Colher de Pau nas ruas, no entorno do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), Zona Oeste da capital, ele não imaginava que o cachorro de pelos amarelos e brancos se tornaria um dia um dos mascotes do seu time do seu coração: o Sport Club do Recife. Querido pela torcida, o cão é visto como amuleto de sorte. No último domingo (21/4), ele estava no Estádio Aldemar da Costa Carvalho, junto ao tutor, quando o Leão derrotou o Náutico nos pênaltis e conquistou o 42º título do Campeonato Pernambucano. Mas as arquibancadas ficarão desfalcadas de agora em diante. Vítimas de agressão por parte de torcedores do time rival, dono e cão não devem voltar aos estádios tão cedo.
“Ele sempre me seguiu para todo canto. Um dia, foi atrás de mim enquanto eu ia assistir a uma partida. Desde então, passou a ser meu companheiro nos jogos”, conta Kleberson. A parceria já dura dois anos. “Algumas vezes, aconteceu de barrarem ele na entrada. Não podia deixar ele sozinho, então vendi o meu ingresso e voltei para casa.”
Leia Também
No último domingo, Colher de Pau, batizado assim em homenagem a um amigo de Kleberson, foi com o dono até a Ilha do Retiro, acompanhar a final do Campeonato Pernambucano entre Sport e Náutico. Ao fim do jogo, Kleberson comemorou a vitória do time junto à torcida e seguiu com o cãozinho para casa, no bairro dos Coelhos, área central do Recife, onde vive com a família. No caminho, os dois foram surpreendidos por torcedores do Náutico, na altura da Praça Miguel de Cervantes, na Ilha do Leite. De acordo com a polícia, cerca de dez homens agrediram brutalmente cão e dono.
Kleberson foi socorrido e levado para o Hospital da Restauração, na área central da capital. Ele recebeu alta na manhã de ontem e deve se recuperar das escoriações em casa. Colher de Pau também passou por exames em uma clínica no bairro da Madalena, na Zona Oeste, e recebeu alta médica na tarde de ontem.
DINHEIRO EMPRESTADO
Desempregado, Kleberson precisou pedir dinheiro ao pai e ao tio para comprar o ingresso da final. Ainda muito machucado, ele contou à reportagem que costuma frequentar os clássicos, mas nunca passou por situação semelhante. Após o susto, ele diz ter medo de retornar aos estádios. “Posso até voltar, mas levar Colher de Pau eu não vou mais.”
A assessoria do Sport informou que irá prestar assistência financeira para o tratamento do torcedor e do cachorro. Em nota, o time alvirrubro afirmou que recebeu “com indignação a notícia de que um grupo, trajado com camisas do Náutico, teria agredido um torcedor rubro-negro, inclusive o seu animal de estimação.”