A lei brasileira prevê punição para crimes de racismo e injúria racial. Atos racistas também são condenados pelo Estatuto do Torcedor, com punições mais brandas, prevendo apenas o afastamento do torcedor da praça esportiva. Mas, mesmo com a teoria existindo, a prática é diferente. Poucas vezes os casos chegam às instâncias jurídicas. O cientista político Caio Santos, integrante do coletivo Afronte, lamenta que, se fora de campo já é uma punição pouco aplicada, quando chega no esporte, a situação se torna ainda mais rara.
“Quando passa para o futebol, que é um microcosmo da sociedade brasileira, por ser um esporte tão querido, essa relação das leis sendo postas em prática são ainda menos abrangentes. Acaba tendo essa realidade de que as regras não são aplicadas, o que faz com que o problema não seja levado a sério. Sempre sendo desconversado de alguma maneira”, disse.
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A solução, para o cientista, passa pela observação por estruturas desvinculadas ao futebol, como o Ministério Público, Judiciário, Legislativo, ou mesmo o próprio Executivo, para que haja seriedade nas ações. Mas o clube também precisa ter responsabilidade quanto aos casos, pois tem que proteger jogadores e comissão.
“Se o clube não consegue garantir dentro do seu próprio estádio uma harmonia entre as pessoas, uma pluralidade, fica muito complicado conseguir acreditar que os torcedores por si só vão entender que não é para fazer aquilo”, emendou Santos.
Outro grande problema é a baixa representatividade negra nas diretorias, dos clubes ou federações. Assim o tema não ganha a prioridade que deveria ter. “Um homem branco pode entender que o racismo é ruim, mas ele não sente na pele, então para ele nunca vai ser uma prioridade, algo realmente urgente. Sempre vai ser deixado de lado, contemporizado ou vão utilizar medidas paliativas”, lamentou.
O cientista político lembrou ainda que a Fifa tem entre as regras a paralisação da partida em caso de racismo e injúria racial. Se continuar, o árbitro deve encerrar o jogo. Assim, a indicação é que o jogador injuriado deve comunicar o caso à autoridade em campo.
SPORT
Como o jogador da base do Sport comunicou apenas ao técnico durante a partida, o jogo contra o Barreiros, pelo Pernambucano sub-20 seguiu. Caio Santos acredita que os clubes precisam também preparar seus jogadores para saberem agir.
“Conduzir ele o máximo possível, pois o clube tem aporte jurídico para levar a denúncia a outras esferas. Preparar o jogador para saber defender os direitos dele e começar a partir de denúncia na delegacia ou no MPF”, completou.
O Sport informou que disponibiliza apoio psicológico para os atletas da base.