Superação

Após largar tudo para cuidar da mãe, Júnior Lagosta está de volta ao surfe

Há quatro anos, o pernambucano deixou para trás patrocinadores e pontuações nos principais campeonatos do país para cuidar da mãe, que estava em depressão

Haim Ferreira
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Haim Ferreira
Publicado em 22/03/2015 às 8:00
Foto: Guga Matos/JC Imagens
Há quatro anos, o pernambucano deixou para trás patrocinadores e pontuações nos principais campeonatos do país para cuidar da mãe, que estava em depressão - FOTO: Foto: Guga Matos/JC Imagens
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Ser um atleta profissional, participar dos campeonatos mais disputados do Brasil e trilhar um caminho de sucesso dentro do esporte. Sonho de muitos, realização de poucos. Há quatro anos, essa era a realidade do surfista Antônio de Souza Gomes Júnior, “Lagosta”. O pernambucano, de 24 anos, por muito tempo, foi uma das principais esperanças do Estado na modalidade, porém, uma causa maior interrompeu a sua trajetória, fazendo-o se afastar das praias.

Em 2010, no auge da carreira, Lagosta abriu mão do Rio de Janeiro (onde estava radicado), de patrocinadores que proporcionavam a sua independência financeira, além de pontuações acumuladas nos mais importantes circuitos brasileiros. Maior do que a coragem para tomar a decisão foi a nobreza que motivou o gesto. A mãe de Lagosta, dona Eleniuda, acabou entrando em depressão após o seu pai pedir o divórcio do relacionamento que já durava mais de 20 anos. Ao saber da situação, o surfista, filho único, não pensou duas vezes e voltou para Pernambuco para se dedicar exclusivamente à mãe.

Na época em que decidiu se afastar do esporte, Júnior se preparava para ingressar no World Qualification Series (WQS), a divisão de acesso ao WCT, a principal competição do surfe mundial, conquistada por Gabriel Medina, no início deste ano. “Para mim, só há uma coisa mais importante do que o surfe: a minha mãe. Ela é a minha maior inspiração e a minha principal incentivadora. Não me arrependo do que fiz e, se fosse preciso, faria tudo novamente”, desabafou Lagosta, emocionado.

Com o passar do tempo, o surfista encontrou um jeito de contornar a situação. De volta a Ipojuca, sua cidade natal, Júnior não apenas fez com que a sua mãe se recuperasse, como conseguiu que os pais reatassem o relacionamento. Dona Eleniuda e Seu Crispiniando se casaram novamente e, hoje, estão morando em Salvador, na Bahia. “Foi uma das coisas mais mágicas que aconteceram na minha vida. Hoje eles estão juntos novamente e, o principal: muito felizes”, afirmou.

Ainda esbarrando nas dificuldades financeiras, porém, com o caminho e a mente livres para voltar a se dedicar integralmente ao surfe, ele espera encontrar patrocinadores que o ajudem a recuperar o tempo de ausência. “Como todos sabem, não é fácil ser profissional em um esporte considerado amador. Eu perdi todos os meu patrocínios e estou me virando como posso para voltar a participar dos campeonatos. Ainda dependo da ajuda de amigos e de pessoas que acreditam no meu trabalho”, disse o surfista.

Atualmente, Lagosta está morando na casa de um amigo, na praia de Maracaípe, onde aprimora a parte física e técnica. Porém, a permanência em Pernambuco está com os dias contados. No próximo mês, Júnior Lagosta voltará para o Rio de Janeiro, onde vai em busca de pontuações para o ranking brasileiro. “Confio no meu potencial e sei que posso ir longe. Tudo o que eu preciso é de uma oportunidade para mostrar do que sou capaz”, finalizou.

APELIDO

O apelido "Lagosta" vêm de longa data, quando ainda era criança. Certo dia, o ainda Junior estava surfando na praia de Serrambi, litoral sul do Estado, quando se viu aproximando de um recife de corais. Vestido com a sua tradicional camisa laranja, ao invés de seguir o curso da onda, ele acabou indo em direção às rochas. Para não se machucar, acabou protagonizando uma cena cômica.

“Eu acabei quebrando pro lado errado e quando me dei conta já estava perto dos corais. Não pensei duas vezes. Pulei da prancha e me joguei na água. Quando a onda passou e o volume da água abaixou, eu estava lá, de laranja, todo cortado, agarrado nas pedras. Eu olhei pra praia, todos os meus amigos estava gargalhando e perguntando: é uma lagosta, é? Desde então, eu deixei de ser Júnior e virei Lagosta”, contou aos risos.

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