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As lições do paradesporto

Gestão despolitizada e parte técnica comandada por especialistas fazem do Brasil uma potência

Carlyle Paes Barreto
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Carlyle Paes Barreto
Publicado em 16/08/2015 às 8:11
Fernando Maia/CPB
Gestão despolitizada e parte técnica comandada por especialistas fazem do Brasil uma potência - FOTO: Fernando Maia/CPB
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TORONTO - Quando assumiu a presidência do Comitê Paralímpico Brasileiro, em 2009, o jornalista e então secretário-geral da entidade, Andrew Parsons, traçou metas: turbinar as conquistas nas quadras, piscinas e pistas, massificar o paradesporto e torná-lo cada vez mais profissional. Vem conseguindo, seguindo uma linha que dá inveja às federações e confederações de esportes convencionais.

Enquanto o Brasil terminou as Olimpíadas de Londres na 22ª posição, com 17 medalhas e apenas três de ouro, nas Paralimpíadas o País subiu ao pódio 43 vezes, sendo campeão em 21 modalidades ou provas. Foi o sétimo no geral.

O presidente Andrew Parsons premia e abraça atleta nacional 

Nas Américas, a diferença é tão grande quanto. No Pan de Toronto, os atletas brasileiros conquistaram 141 medalhas, 41 delas douradas. Terminou na terceira colocação. No Parapan, encerrado no sábado, o Brasil foi campeão com folga. Foram mais de 100 ouros. O dobro do segundo colocado, os donos da casa, o Canadá.

“O segredo é uma gestão altamente profissional e despolitizada. A política só entra na busca por patrocínios. A parte técnica é comandada por pessoas que entendem do assunto”, explica Parsons.

Em relação à participação brasileira no Canadá, o presidente do CPB destaca: “O Parapan é uma etapa importante. Traçamos objetivos que foi manter a primeira colocação na natação e atletismo, e melhorar em todas as outras modalidades”, lembrou, já projetando as Paralimpíadas de 2016. “O Brasil está onde queria. Tem uma geração pós Londres forte. E vai entrar ano que vem com reais chances de terminar em quinto, no Rio”, acrescenta, num plano bem diferente em relação ao COB, que sonha terminar as Olimpíadas no Rio entre os dez melhores no quadro geral.

Daniel, Phelipe, Ruiter e André também são destaques da natação

Mas para isso, há diferenças entre os dois comitês. O CPB consegue manter seleções permanentes, investindo de forma pesada na profissionalização de todos esportes. Tanto que está erguendo o mais moderno centro de treinamento do continente, previsto para ser inaugurado em novembro, em São Paulo. Lá haverá espaço para todas modalidades paralímpicas, incluindo laboratórios, alojamento, refeitórios e toda estrutura multidisciplinar. Foram investidos R$ 260 milhões, numa parceria do Governo Federal, Governo de São Paulo e o próprio CPB.

“Vamos ter a estrutura do centro de treinamento, que está quase concluído e estamos esperando por mudança na lei das loterias, que daria mais recursos a partir de 2016”, destaca. “A geração Tóquio terá quatro anos para se preparar melhor ainda”, completa, referindo-se às Paralimpíadas do Japão, em 2020.

Chefe da deleção brasileira em Toronto, Edilson Alves Rocha, Tubiba, completa a importância do novo espaço. “Todos os países que estão na nossa frente têm centros de treinamentos. E agora vamos ter uma fábrica de talentos, com a melhor piscina do mundo, a melhor pista e toda infraestrutura.”

Medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles como jogador de vôlei, em 1984, e agora coordenador do vôlei sentado, Amauri Ribeiro conhece os dois lados. Evita comparações, mas dá uma dica da diferença. “O esporte olímpico é mais difícil por conta das superpotências. Não pode comparar. São situações bem diferentes. Mas posso dizer que no olímpico, muitos dos atletas têm que sair do País para ter melhores condições. No Paralímpico, não”, explica. “E agora o esporte paralímpico deixou de ser uma atividade para alguém com deficiência. Passou a ser um esporte de alto rendimento e tão competitivo quanto o convencional.”


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