OLÍMPIADAS

O Caminho do Pódio - Giovane Gávio, uma história de cinco olimpíadas

O jogador trouxe o primeiro ouro olímpico do vôlei

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Publicado em 02/05/2016 às 9:55
Foto: Alex Ferro/Comitê Rio 2016
O jogador trouxe o primeiro ouro olímpico do vôlei - FOTO: Foto: Alex Ferro/Comitê Rio 2016
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O dia 9 de agosto de 1992 foi um marco para o voleibol brasileiro. Naquele dia, o saque de Marcelo Negrão explodiu nos braços do adversário holandês, se perdeu no fundo da quadra e colocou a medalha de ouro no peito dos 11 jogadores da seleção brasileira. Um deles foi o do atacante Giovane Gávio, um dos pilares da seleção que trouxe o primeiro ouro olímpico do vôlei.

Desde então, o atleta viveu uma escalada de vitórias, e um dos episódios apontados por ele próprio como ponto alto dessa carreira foi ter recebido a tocha olímpica das mãos do ginasta grego Eleftherios Petrounias, no último dia 21 de abril, em Olímpia (Grécia).

Nesta entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele fala da emoção que foi ter sido o primeiro brasileiro a participar do revezamento da tocha, conta sua experiência de ter participado da trajetória de crescimento do vôlei masculino no Brasil e do orgulho que foi subir pela segunda vez ao pódio (Atenas, 2004).

Depois de já ter trabalhado como treinador e dirigente, Giovane hoje é manager do voleibol no Comitê Rio 2016 e tem no currículo, além de Barcelona e Atenas, a participação nos Jogos de Atlanta (1996), Sidney (2000) e Pequim (2008).

O Caminho do Pódio é uma série de entrevistas com nove medalhistas olímpicos brasileiros que a Agência Brasil publicará a partir desta segunda feira (2) até o dia 10 de maio.

Agência Brasil: Qual é a sensação de subir em um pódio olímpico?

Giovane Gávio: É uma sensação de realização muito grande. Mas, ao mesmo tempo, a gente era muito jovem e não tinha muita ideia de que estava acontecendo e do quanto aquilo representava. E se você vê as imagens do pódio dos Jogos de 92, o hino foi muito rápido, editaram. E eu pensei 'só isso?' Eu queria ficar lá cantando por meia hora! [risos]. Era um momento que eu tinha imaginado, criado uma expectativa enorme. Já na segunda vez, em 2004, aproveitei mais esse momento. Colocaram um trecho maior do hino, foi bem bacana. Mas é um momento em que passa na cabeça da gente todo o sacrifício que fizemos, o que a gente deixou de lado para realizar tudo aquilo, as pessoas que a gente gosta e ama sempre vêm nesse momento. É um momento mágico, para o resto da vida.

O que é ser medalhista olímpico no Brasil, um país onde os atletas, principalmente no começo, ainda têm muita dificuldade para viver só do esporte?

Giovane: Temos uma troca, um carinho das pessoas, algo que, em nenhum lugar do mundo existe, como no Brasil. As pessoas param você na rua, tiram foto, reconhecem. Já faz 24 anos da vitória de 92 e até hoje as pessoas relembram. Nesse sentido, somos privilegiados. Mas nessa questão de apoio, patrocínio, a gente sofre um pouquinho. Já sofremos mais, no começo era mais desafiador. Agora, a tendência é que, com os Jogos Olímpicos, as pessoas olhem para o esporte de uma forma diferente, deem um apoio, entendam o desafio de cada atleta para alcançar índices, participar dos Jogos e que merecem o apoio. Não só por parte do governo, mas de empresas privadas também.

Como foi ser o primeiro brasileiro a carregar a tocha dos Jogos Rio 2016 e fazer isso no berço das Olimpíadas?

Giovane: Foi um momento mágico, muito parecido com o que eu vivi nos pódios olímpicos de Barcelona e Atenas, porque era um cenário maravilhoso com relação à história dos Jogos Olímpicos. Quando eu cheguei em Olímpia já foi muito emocionante e, quando eu tive a oportunidade de acender a tocha e conduzi-la por aqueles metros, foi um momento muito emocionante, difícil até de descrever a alegria de representar toda uma nação, todo um movimento e uma história que estava começando naquele momento. Tanto uma história minha quanto do esporte brasileiro, por estar vivendo esse momento maravilhoso.

Quais as diferenças entre o apoio que o vôlei recebia na época da primeira sua conquista, de 1992, e da segunda, de 2004?

Giovane: De apoio, não era. O vôlei, depois que conquistou a medalha de 92, conquistou um espaço um pouco maior na mídia, formou ídolos e isso, sem dúvida, gera um interesse maior em patrocínios. A gente sempre acha que pode ser melhor, mas eu diria que foi razoável. A grande mudança de 1992 para 2004, na minha opinião, foi a estrutura proporcionada pelos patrocinadores, a construção do centro de treinamento em Saquarema, que tivemos em 2004 e não tínhamos em 1992. E o centro é fundamental para a formação de novos jogadores, para a qualidade do treinamento. Principalmente para esse nível olímpico, a gente precisa ter uma estrutura boa de treinamento.

Hoje, o vôlei brasileiro chegou a um status de ter a obrigação de ganhar medalha de ouro?

Giovane: Acho que o Brasil, hoje, por todos os títulos e estrutura que temos no vôlei, tem que ser sempre um dos favoritos. Tem sempre um bom plantel, uma estrutura boa e isso já credencia [o vôlei] para sempre disputar as finais. Dizer que tem obrigação de ganhar acho que já é abusar um pouquinho deles [dos jogadores]. E eu diria que esses Jogos Olímpicos serão os mais equilibrados de todos os tempos. Antes, eram três times lutando para ser campeões. Hoje, a gente tem Rússia, Estados Unidos, Brasil, França, Polônia, Itália. Principalmente no masculino tem esse equilíbrio técnico. No feminino, a gente via Brasil e Estados Unidos se revezando nos primeiros lugares, mas a China já está voltando ao pódio, a Itália também. São equipes que preocupam.

Qual foi o papel daquele time de 92 no crescimento do vôlei no Brasil?

Giovane: Foi uma grande conquista, um ponto na curva ascendente, onde tivemos vários investimentos. Mais atletas surgiram, depois daquela conquista outros começaram a jogar vôlei porque queriam ser o Tande, o Giovane, o Marcelo Negrão e assim vai. Foi um momento importantíssimo do voleibol, que já tinha começado antes pela geração do Renan, Montanaro e William, que tinham sido vice-campeões. Eu comecei a jogar vôlei porque assisti eles jogarem. Então era um caminho natural o de chegada dessa medalha de ouro, em função da qualidade do trabalho, do planejamento feito pela Confederação Brasileira de Vôlei. Romper essa barreira da vitória, principalmente para a gente, que às vezes se coloca em situação de inferioridade em relação a outros países, foi muito importante naquela hora.

Você acha que o vôlei, por tudo que faz em mundiais e Olimpíadas, tem o devido reconhecimento aqui no Brasil?

Giovane: Sempre a gente pode melhorar, mas eu vejo todo ano uma melhora, um incremento. Nesses últimos 24 anos, eu diria que, em nenhum momento, demos passos para trás, a gente está sempre andando para frente. A gente vê o campeonato brasileiro sempre melhorando, a Superliga masculina e feminina melhorando de qualidade. Estamos em um momento em que a TV aberta e TV a cabo estão participando, mostrando alguns jogos. Ou seja, nós não chegamos no ideal, mas estamos bem próximos dele, caminhando nessa direção.

O que seria o ideal?

Giovane: Ter um horário na televisão onde todo mundo soubesse que aquele dia é o dia do vôlei, isso daria um nível de exposição fantástico aos times e os patrocinadores poderiam investir mais, justificaria um incremento de patrocínio. É aquela questão, só investem se a TV mostrar, a TV só mostra se tiver investimento, então quem vai começar primeiro? Na seleção, a gente já atingiu a excelência, agora falta atingir a excelência nos campeonatos brasileiros, na formação de novos atletas.

Onde o Brasil pode chegar na Olimpíada do Rio? É possível ficar entre os dez países medalhistas, como quer o COB (Comitê Olímpico Brasileiro)?

Giovane: Vou dar minha opinião de torcedor. Eu tenho confiança nas pessoas que estão no Comitê Olímpico Brasileiro, confiança de que estão fazendo um bom trabalho, estou muito otimista. Fizeram um planejamento, escolheram algumas modalidades para investir mais do que outras, justamente pelas características que temos como povo, como esportistas. Acho que a gente vai ter sucesso dentro e fora da quadra.

Qual é o seu trabalho no Comitê Rio 2016?

Giovane: Eu sou manager do voleibol de quadra e de praia. Tenho a chance de disputar minha quinta olimpíada, agora fora das quadras, mas o empenho, o preparo, é bem próximo de quando eu estava dentro das quadras. Tudo que acontece dentro da quadra é de responsabilidade do nosso time de esporte. Tem várias áreas, de limpeza, segurança, ingressos, e a nossa área é de esporte. Tudo que acontece na quadra é de responsabilidade nossa. A gente está acompanhando o atleta desde quando ele sai da vila, chega na arena. Esse processo de preparação para o jogo, tudo é de nossa responsabilidade.

A que se deve essa força e respeito que o voleibol brasileiro tem a nível mundial?

Giovane: O futebol, quando ganhava tudo, também tinha essa sensação. No vôlei, é igual, a gente está ganhando, está no pódio e tem essa sensação de que o vôlei brasileiro é um sucesso. Depende dos resultados, a gente trabalha sempre para estar sempre no topo. E ídolo chama ídolo. Assim como eu queria ser um jogador igual ao Renan e Montanaro, outros quiseram ser iguais ao Tande e por aí vai. Estamos sempre realimentando esse sistema. Essa é uma das virtudes do voleibol. E essa é a importância de mostrar os jogos, a mídia. E quem forma os ídolos é a mídia, ele [o ídolo] tem que aparecer, ser conhecido. Os ídolos têm esse poder e a gente tem que aproveitar.

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