Receber uma etapa do Circuito Mundial de Surfe já muda as características de qualquer praia. Ainda mais se esse local é uma ilha de preservação ambiental, onde sua visitação é controlada e normas ambientais a serem seguidas definem o cronograma da competição – aliada a uma preocupação social. Desta forma, o evento deixa de ser puramente esportivo, causando muitos impactos no Arquipélago de Fernando de Noronha. O “paraíso” vive uma semana bem inusitada com a realização da etapa do Hang Loose Pro Contest.
Os aviões com seus bagageiros lotados de pranchas já indicavam que seus passageiros não estão apenas à procura das belezas naturais tão características desse destino turístico. O foco principal de quem está em Noronha são as fortes ondas que quebram na praia da Cacimba do Padre, a serem desafiadas pelos surfistas, entre eles o bicampeão mundial Gabriel Medina, campeão também no quesito assédio dos fãs.
A soma destes fatores resulta em um espetáculo que traz um significativo incremento financeiro no universo formal e informal da economia da Ilha. Nos últimos dias, já não é mais possível encontrar buggy para alugar e a procura pelos táxis é intensa. Surfistas, vindos de 19 países e de vários estados do Brasil estão no arquipélago para disputar a primeira etapa com status 6000 pontos do Qualifying Series da WSL 2019. Com eles vieram, além de admiradores, a mídia especializada e jornalistas de veículos tradicionais, que colocam Fernando de Noronha na vitrine dos acontecimentos esportivos. O vencedor sairá daqui com a liderança do ranking 2019 da divisão de acesso.
Toda a comunidade local vibrou com a notícia do retorno – a última etapa do Hang Loose em Noronha tinha sido em 2012. A expectativa de uma semana pré-carnavalesca com ocupação total das pousadas foi confirmada. Os restaurantes estão lotados. Houve muita contratação de mão de obra local para diversas funções ligadas diretamente, ou não, ao evento. O trânsito de pessoas e até de carros é intenso, fato raro na ilha. Filas gigantes de carros estacionados nos dois lados das estreitas estradas de terra, que levam à praia da Cacimba do Padre, chamam a atenção.
Toda essa efervescência é ainda mais intensificada quando chega a hora da apresentação de Gabriel Medina. Forma-se uma verdadeira multidão à beira mar para acompanhar o seu show de surfe e tentar uma foto ou mesmo um “selfie roubado”, já que o forte esquema de segurança vem contendo o assédio dos fãs.
SOCIAL
O Hang Loose Pro Contest não esqueceu o lado social. Alunos da Escola Estadual Arquipélago Fernando de Noronha, a única da localidade, receberam o empresário Álfio Lagnado, diretor da Hang Loose e criador do campeonato, além do ídolo Fábio Gouveia, seu filho Ian Gouveia e o surfista Bernardo Pigmeu, ambos pernambucanos. No bate-papo, muitos dos estudantes, que participam do projeto Alma Solar Escola do Mar, tiveram a oportunidade de trocar experiência, compartilhar o “o espírito” do surfe, receber lições de cidadania e meio ambiente.
“O Hang Loose colabora diretamente com a comunidade. A associação de surfe local começou a se desenvolver quando trouxemos o campeonato para cá. Eles eram novos, hoje estão fazendo uma gestão muito boa e deixando um legado”, disse Álfio.