As Olimpíadas do Rio iam ser um desastre, certo? Bom, tente dizer isso à multidão que lotou o centro da cidade neste sábado para ver a pira olímpica em todo seu esplendor.
Depois de semanas de muita tensão a respeito da segurança, organização e até o mosquito da zika, a noite de sexta-feira deu uma nova cara ao evento dos jogos olímpicos, com uma cerimônia de abertura dos Jogos que encantou os brasileiros e os estrangeiros, dentro e fora do país.
"As pessoas estão orgulhosas depois da cerimônia. Muitas pessoas - eu também - temiam um desastre", disse Fabiana Amaral, 32 anos, que foi ver a pira olímpica no Boulevard Olímpico com sua família.
Leia Também
"Agora estamos orgulhosos. O Brasil tem muita cultura e nós mostramos isso, nós mostramos que não somos só clichês de bundas de mulheres e futebol", afirmou Fabiana, que é arquiteta.
Debaixo do sol quente muito turistas lotaram o Boulevard. Centenas de pessoas paravam para tirar selfies em frente à chama, que foi colocada em um caldeirão de prata após a cerimônia de abertura no Maracanã.
A escolha de local pouco usual para a pira - que normalmente fica no principal estádio Olímpico do local - ajudou a acordar a cidade para os Jogos.
"Essa chama é para as pessoas. É ótimo para as pessoas comuns que não podem pagar pelos ingressos ou pelo transporte. Elas podem facilmente vir até aqui", disse Aline Motta, 48 anos, engenheira química.
"Nós estávamos preocupados antes. Estávamos preocupados sobre o que iria acontecer, mas a festa de ontem à noite foi maravilhosa", disse. "Estamos orgulhosos desse momento".
Sem medo
Se o brasileiros estão abraçando a sua Olimpíada, os estrangeiros estão descobrindo que não precisam ficar tão assustados.
O Rio convive diariamente com um grande índice de crimes.
O tiro disparado por um policial contra um criminoso próximo ao Maracanã na sexa-feira e o assalto fatal a uma mulher perto do Boulevard Olímpico poucas horas antes foram alguns dos estragos numa cidade que chega a quase 5 mortes violentas por dia.
Mas enquanto isso, Guy Horcasitas, um empresário no ramo de tecnologia de segurança da Califórnia, descobriu que o Rio também é um local onde coisas boas acontecem aos turistas.
"Eu bebi um pouco demais ontem à noite e adormeci numa rua na Lapa", disse Horcasitas, 39 anos, com um sorriso irônico.
"Essa manhã eu acordei e tudo continuava no meu bolso".
"É, aqui é tão ruim!", brinca ele.
Os problemas vividos pelos atletas australianos na Vila Olímpica - banheiros interditados, incêndio e roubo de equipamentos - tornaram-se alguns dos obstáculos-símbolo da organização da Rio-2016.
Mas o cônsul-geral da Austrália no Rio, Kym Fullgrabe, disse que tudo isso está no passado agora.
"Notícias ruins correm rápido, mas existem boas histórias também", disse Fullgrabe no Boulevard Olímpico.
Ele gesticulava enquanto andava na área de pedestres, que costumava ser uma via interditada.
"As pessoas que dizem não ter um legado (positivo) para o Rio deveriam vir aqui e olhar isso. É uma área maravilhosa agora", ele disse.
Keith Willing, um vendedor da Flórida que está curtindo as Olimpíadas com a sua família, disse que já viajou o suficiente pelo mundo para saber que as coisas não são tão ruins quanto as pintam.
"Nem sempre nós acreditamos no que lemos. Sabemos como filtrar isso", disse Willing, de 58 anos.
Sua filha, Tamra Willing-Silva, 29 anos, acrescentou: "Você não pode colocar o Brasil numa caixa".