Em entrevista exclusiva ao repórter João Victor, da Rádio Jornal, Alírio Moraes, presidente do Santa Cruz, abriu o coração. Emocionado, o mandatário falou sobre salários atrasados, a decepção com a torcida e fez uma avaliação da sua gestão no Tricolor. Veja:
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VENDA DO MANDO
Essa questão é bem simples. Quando o ano começou, planejamos ter média de 20 mil sócios ativos e 16 mil pagantes no estádio. A gente não conseguiu e isso nos tirou uma receita substancial. Queria que a torcida entendesse que esse deslocamento do Arruda para a Arena Pantanal é por sobrevivência. Sairemos de uma renda de R$ 300 mil no Arruda para algo de até R$ 2 milhões, dependendo do momento do Corinthians. Esse jogo paga praticamente duas folhas administrativas. É irrecusável. Nesse momento as nossas decisões têm que ser absolutamente racionais. Eu não posso terminar o ano, embora ainda seja no meu mandato, deixando as contas em desequilíbrio para 2017.
BOTOU DO BOLSO
Tive que fazer sacrifícios pessoais para manter alguns jogadores. São quantias substanciais, provavelmente eu venha a terminar a gestão e o clube não tenha condições de devolver essa receita. Quero dizer ao torcedor que estou pagando um preço altíssimo. Talvez, por falha nossa, eles tenham imaginado que o Santa Cruz, com o acesso, passou a ser um clube rico e que poderia prescindir da presença do torcedor no estádio. Em situações muito mais precárias, a torcida vinha e enchia o estádio.
DECEPÇÃO
Quando nós vimos que a Série A estava chegando, a discussão na diretoria era que o estádio iria ficar pequeno para o jogo de estreia. O time foi bicampeão Pernambucano e conquistou um torneio inédito (Copa do Nordeste), que o garante por dois anos na Sula. Quando cheguei contra o Vitória, às 11h, confesso a você que fiquei com vontade de chorar e ir pra casa. As pessoas não sabem o esforço pessoal que está se fazendo. Quero dizer aos torcedores que, ao final de 2017, vou entregar o clube muito melhor do que recebi. Peço só compreensão: se não puder vir a jogo, pelo menos não fique tumultuando o ambiente. Às vezes, termina jogo no Arruda e eu não tenho arrecadação suficiente para segurança ou arbitragem. Termino o jogo passando cheque para pagar as despesas. Como é que vou poder fazer o Santa na Série A se a torcida não abraçar a causa?
PROCESSOS
Não quero entrar no mérito se esses processos foram bem defendidos ou não pelas outras gestões, mas é fato que eles engessaram o caixa do clube. Desde julho estamos convivendo com essa sequência brutal e sobrevivendo da credibilidade e do empenho e engajamento de jogadores, diretores e funcionários, que acreditaram na nossa palavra.
PAGAMENTOS
A gente tem vivido, nas últimas semanas, momentos dramáticos. Estou procurando receitas até com alternativas pessoais, com comprometimento de patrimônio. Não vou deixar de pagar de jogadores e funcionários. Quero virar o ano com um nível de tranquilidade muito grande pra gente projetar o ano que vem, seja em que série (do Campeonato Brasileiro) for.
SÉRIE A
Eu sou um otimista por natureza. Claro que se for olhar por estatísticas, os matemáticos apontam um percentual muito baixo (de ficar na Série A). Mas, se a gente consegue sair com uma sequência de bons resultados, podemos tentar reverter essa situação.
KENO
Ele veio por um contrato por empréstimo até o final do ano, o que projeta para o Santa Cruz uma taxa de vitrine. Quando sentimos que não conseguiríamos brigar financeiramente com outras propostas nacionais e até internacionais, fizemos um modelo de negócio com os empresários dele e o São José-RS. Se o Santa fizesse uma proposta para ficar com 60% do passe, o jogador não sairia. Fizemos um pré-contrato, mas tivemos um momento financeiro crítico, com o bloqueio de cotas de televisão e de contas bancárias, e ficamos com dificuldades para fazer investimentos. Se não conseguirmos, até a próxima semana, empresários para custear o jogador, ele vai cumprir o contrato até o final da temporada. Havendo negociação, teremos porcentagens garantidas no contrato.
AVALIAÇÃO
A gestão como um todo precisa ser repensada. Temos decisões que foram certas e outras que não se mostraram acertadas. Precisamos olhar pra frente e aprender com esses erros. Essa gestão é vitoriosa e está mudando uma série de conceitos no Santa Cruz. Mas também tem muito erros. Governar o Santa Cruz é como governar um município. Espero entregar o clube numa condição muito mais favorável, com redução de passivos e certidões negativas de débitos.
PARA FICAR EM DIA
Precisamos de R$ 3 milhões a 3,5 milhões para fazer o saneamento do clube, e esse dinheiro já está a caminho. Quero dizer ao nosso torcedor, funcionários e jogadores que a conta será paga. Estou fazendo de tudo. Talvez, a partir de 2018, passe uma boa temporada sem vir ao Arruda para retomar minha vida pessoal, que ficou muito sacrificada. Mas até 31 de dezembro de 2017 a entrega vai ser assim. A gente não veio para fazer mais ou menos, e sim para mostrar que o Santa pode ser muito maior de forma organizada.