Doentes estão sendo infectados por dois vírus ao mesmo tempo

Exames feitos no Lacen e na Fiocruz encontraram vírus diferentes atuando num só doente

Fernando da Hora/ JC Imagem
Exames feitos no Lacen e na Fiocruz encontraram vírus diferentes atuando num só doente - FOTO: Fernando da Hora/ JC Imagem

A epidemia de dengue que intriga médicos e a população de Pernambuco, confundida com rubéola e chicungunha, é a primeira com circulação ativa de quatro vírus. O Laboratório Estadual de Saúde Pública (Lacen-PE) isolou cada um deles, confirmando o que antes era só suposição de epidemiologista. Além disso, constatou, assim como o Departamento de Virologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Estado, outra novidade: doentes infectados por dois vírus ao mesmo tempo. A situação é crítica e exige mobilização não só dos governantes, mas de todos os cidadãos. O mosquito transmissor se prolifera na água parada, em reservatórios e no lixo deixado nas ruas e quintais.

“Fiquei surpreso ao saber que minha doença foi causada por dois vírus, o 2 e o 4. Tinha adoecido há 15 anos e dessa vez foi diferente”, conta o funcionário público João Pereira, 64.  “Comecei sentindo  quentura na pele, depois uma agonia no peito. Dois dias depois estava todo pintado. A médica do trabalho suspeitou de dengue, o que só foi confirmado agora, pelo exame. Eu melhorei no quinto dia, mas logo em seguida me senti pior, com muita dor nas pernas. Cheguei a cuspir sangue”, completou o morador de Dois Unidos, Zona Norte do Recife, uma das áreas mais atingidas pela epidemia. “Não quero isso mais não”, reagiu a dona de casa Maria Lúcia Rodrigues, 61, do Morro da Conceição, também Zona Norte. Ela  ficou acamada em março. “A médica do posto pensou  em chicungunha. Tive intensa dor de cabeça, fiquei vermelha, doeu o corpo todo e vomitei muito. Agora confirmei. O exame de laboratório deu dengue”, diz.

 Aparentemente mais branda, e com várias formas clínicas, a nova dengue pode causar complicação e morte, alertam especialistas com mais de vinte anos de experiência no tratamento do mal transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Predominam febre mais baixa (37,5 º C na maioria), prurido mais cedo (no terceiro dia em média)  e pode vir acompanhado de inchaço nas articulações (punho, tornozelo ou joelho). Não despreze a atenção se ela aparecer apenas com uma molezinha e manchas vermelhas. O vírus e a reação das defesas do organismo a ele causam extravasamento de líquido internamente. A gente não vê, mas vai se desidratando, o maior perigo. No ano passado, 15 morreram no Estado.

Rosilene Hans, diretora de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria de Saúde de Pernambuco, explica que a co-infecção  já era esperada. É que o mosquito da dengue tem condições de transmitir vários vírus ao mesmo tempo. Poderia, então, a mudança no padrão da dengue resultar desse coquetel viral? Ela acredita que sim, embora a hipótese mais forte seja a sucessiva exposição a vírus diferentes.  “Encontramos os vírus dengue 1 e 4 num morador do Recife e o Departamento de Virologia da Fiocruz detectou o 2 e o 4 no sangue de outro residente da capital”, explica Valdete Oliveira, responsável pelo diagnóstico de dengue no Lacen. “O mosquito pode se infectar com os quatro sorotipos e transmitir todos eles ao mesmo tempo. Co-infecção é mais provável do que a pessoa ser picada por dois mosquitos ao mesmo tempo”, reforça Marli Tenório, virologista da Fiocruz-PE.

 


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