Na guerra diária contra a dengue, a população se vira como pode. O ideal é eliminar os criadouros. Mas como nem sempre consegue-se evitar em 100% o convívio com o Aedes aegypti, a terceira matéria da série Você tem que se cuidar aponta as barreiras mais eficazes que podem ser usadas em complemento ao combate às larvas.
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Na residência de Adriana Rodrigues da Silva, no Arruda, Zona Norte do Recife, a arma para espantar mosquitos da dengue faz vento. Ela se protege com quatro ventiladores: um para a dona de casa e o marido, outro para a filha, mais um reservado ao neto e um reforço na sala. Na de Edivaldo Soares, na Encruzilhada, na mesma região, a opção é igual, associada a repelentes e inseticidas.
O velho mosquiteiro está quase aposentado. Famílias só fazem uso dele quando têm crianças pequenas. Há uma ou outra exceção. Ar-condicionado, para quem pode pagar pela conta alta de energia elétrica, também tem sido ligado nesses meses de nova epidemia, com mais de cinco mil doentes na capital e quatro vírus circulando. A bióloga especialista em insetos Leda Regis, pesquisadora aposentada do Centro Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco, conhece bem o Aedes aegypti e defende que a população não deve ficar inerte diante das picadas. E são muitas. A especialista lembra que a fêmea do Aedes alimenta-se quase diariamente, ao contrário da muriçoca da filariose Culex, que pica os humanos em intervalo de três a quatro dias. “O fato de viver num País tropical não significa que o povo deva aceitar, sem reação, as picadas de mosquitos”, observa. Mas ela alerta para armas pouco eficazes ou que trazem prejuízos à saúde humana.
O produto mais questionado é o inseticida químico. Aparentemente prático, pois já vem prontinho para aplicação, na forma de aerossol ou de pastilhas associadas a tomadas elétricas, “pode causar reações alérgicas a problemas mais sérios, neurológicos”, explica Leda, lembrando recente manifestação pública do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Além do mais influenciaria na resistência dos mosquitos. Deve ser evitado.
Para Leda, o uso diário de raquetes, no início da manhã e no fim da tarde, ajuda a matar os mosquitos alados (na forma adulta), diminuindo a exposição a eles e proliferação dos mesmos (uma Aedes pode gerar durante a sua vida de dois meses mil filhotes). Destaca que a arma deve ser sempre associada às medidas obrigatórias de eliminação dos criadouros, como vedar reservatórios d’água e ralos, com telas.
Outra barreira defendida pela pesquisadora é o uso de calças, meias e camisas de manga longa quando possível, assim como o mosquiteiro, sobretudo para isolar o doente. “Na pessoa com dengue, o vírus permanece por cinco dias na corrente sanguínea. O mosquito pica o doente e acaba transmitindo a enfermidade a outras pessoas da casa. No Aedes, o vírus dura a vida toda e é transmitido aos filhotes, que já nascem infectados, ocorre a transmissão transovariana”, esclarece.
A coordenadora do Programa de Combate à Dengue em Pernambuco, Claudenice Pontes, lembra que o mais importante mesmo é evitar os criadouros. O último Levantamento de Índice Rápido de Infestação (Lira) mostrou áreas do Estado com até 30% dos imóveis infestados, justamente as que sofrem com a seca e precisa armazenar água. O risco de epidemia só está eliminado quando menos de 1% dos domicílios tem foco do Aedes aegypti. De janeiro até agora Pernambuco registrou 22.324 doentes, ultrapassou o total de todo o ano passado, quando 17.351 pessoas adoeceram.