Na última terça-feira (28/04), alunos do 1º ano do ensino médio do Colégio Santa Emília, em Olinda, foram provocados pela professora de biologia Ana Kárite, a se transformarem em agentes contra a dengue. O trabalho proposto inclui visitas ao redor de casa, para buscar focos do mosquito transmissor e orientar sobre a forma adequada de lidar com a doença. A sete quilômetros dali, no Colégio Virgem Imaculada, no Janga, em Paulista, estudantes do último ano do ensino fundamental montavam armadilha para captura do Aedes aegypti. Na Escola Estadual Álvaro Lins, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, semanalmente 40 adolescentes do ensino médio percorrem as ruas do lugar, caçando focos do Aedes e educando a comunidade a combater a dengue.
“É importante o engajamento das escolas, por ser o espaço formador. Além do mais, sozinhos não teremos condições de conter o avanço da doença”, diz a coordenadora estadual de combate à dengue, Claudenice Pontes. Por acreditar na importância de tornar adolescentes e crianças multiplicadores de informação, ela aceitou o convite feito pelo Santa Emília, em Olinda, para ministrar palestras em diferentes turmas. “A escola não pode ficar fora desse problema que atinge a todos nós”, justifica a coordenadora pedagógica, Cristina Tavares. O trabalho começou com os maiores, mas deve ser estendido a todos os 2.400 estudantes.
“Eu tive dengue este ano. Minha mãe ficou pior. Na época falaram que era virose. Agora sei que foi dengue”, contou Ísis Costa, 15 anos, aluna do ensino médio. Durante a palestra da especialista, ela aprendeu que quatro vírus de dengue estão circulando e que não é recomendável abusar de remédios durante o curso da doença. “Muito paracetamol pode afetar o fígado”, afirmou. Para a professora Tana Luiz Maria, coordenadora das turmas de 1º e 2° ano do ensino médio do Santa Emília, o contato direto com especialista, garante ao estudante a informação correta. “Na internet eles podem encontrar inverdades. Aqui, na sala de aula, vão conhecer a realidade e poder esclarecer dúvidas”, afirma.
No Colégio Virgem Imaculada, no Janga, as ações contra a dengue são repetidas a cada nova epidemia. No final do março eles realizaram um manifesto nas ruas do bairro. O protesto educativo contra a dengue levou informação e alternativas à vizinhança, como a produção de uma armadilha para capturar o Aedes e um repelente natural, feito com álcool, óleo e cravo da índia.
“O mosquito da dengue gosta de água parada. É preciso eliminar os focos em casa e a mosquitérica acaba atraindo os que estão voando”, observa o aluno André Felipe Medeiros. Ele e os colegas repetiram passo a passo a invenção do cientista Maulori Cabral, da Universidade Federal do Rio de Júnior, desenvolvida em outra epidemia, e incentivada na escola pelo diretor Josias Teixeira. A armadilha é feita com garrafa PET, tela, alpiste triturado ou arroz e água para atrair os Aedes. Os insetos ficam presos depois de depositar ovos e as larvas são eliminadas depois.
Na Escola de referência Álvaro Lins, da rede estadual, desde 2012 foi criada uma oficina de agentes mirins de saúde. A cada ano, 40 novos estudantes se engajam na experiência. Na primeira edição, eles se dedicaram à prevenção da hanseníase, que tem transmissão ativa na cidade. Desde 2013, explica o diretor Bruno Souza, a atenção está centrada na dengue. Toda segunda, o grupo coordenado por professores entra em campo num dos bairros mais atingidos pela epidemia.