Caça ao Aedes vai das ruas aos laboratórios

Pessoas comuns, agentes de endemias e pesquisadores fazem parte dessa guerra

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Pessoas comuns, agentes de endemias e pesquisadores fazem parte dessa guerra - FOTO: Fernando da Hora/JC Imagem

A luta contra a dengue exige batalha constante, em casa, na rua e no laboratório. A penúltima matéria da série domingueira Você tem que se cuidar foi buscar os caçadores de Aedes aegypti, gente que não descuida um minuto da eliminação de focos enquanto questões ambientais e de saneamento não são resolvidas.

Josedy Oliveira, 53 anos, dedica-se há 13 à caça de mosquitos. De preferência aos Aedes aegypti ainda em formação. Carlos Mendonça, 24, ainda é estudante de ciências biológicas, mas na bancada do Laboratório de Entomologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, no Recife, aprendeu com a chefe, pesquisadora Alice Varjal, como é importante acompanhar o surgimento de novas gerações de Aedes para proteger no presente e no futuro a comunidade e o ambiente. Em casa, no município de Camaragibe, a estudante Silvana Dias, 40, vigia a família e os vizinhos, para evitar a visita da dengue.

A guerra que muitas vezes parece inglória diante de sucessivas epidemias, como a atual, tem atores que muita gente desconhece. Além de Josedy, Carlos, Alice, Silvana e todos os seus iguais, há uma infinidade de gente que estuda, trabalha e age na tentativa de evitar o nosso convívio com a dengue. Nos lares, nas ruas, nos laboratórios, nos centros de vigilância epidemiológica e ambiental, um verdadeiro exército faz sua parte para diminuir a chance de todos adoecerem.

Antes de entrar nessa frente, Josedy era apenas uma dona de casa, mãe de duas filhas, que vendia produtos porta a porta, ajudando o marido a manter a família. A facilidade para se comunicar e o talento para convencer facilitou a nova missão, assim como a determinação de cumprir a tarefa, reconhecem seus colegas. Hoje é supervisora de área, coordena grupo de agentes, e acaba sendo solicitada pelos vizinhos a qualquer problema, mesmo aqueles para os quais não tem solução. A caça aos mosquitos é tarefa árdua. “Cerca de 40% das pessoas não entendem que a maior parte dos criadouros está em casa. Umas acham até que os martelinhos (apelido das larvas) são inofensivos”, comenta.

Para Alice Varjal, que chegou à Fiocruz como estagiária na década de 1990 e aprendeu com os mestres André Furtado e Leda Régis que a missão do pesquisador é social, não falta estímulo para continuar na batalha, também cercada de frustrações. “Às vezes me sinto impotente”, confessa. É que nem sempre o conhecimento construído pela ciência é aplicado por quem define as políticas públicas. Mas nem isso faz Alice desistir da sua tarefa de capturar e observar o comportamento do Aedes para definir a melhor arma contra ele. O discípulo Carlos Mendonça vai no mesmo caminho. 

Silvana Dias, dona de casa e estudante de logística, pensa em todas as estratégias. A primeira delas é eliminar potenciais criadouros em casa, antecipando-se ao problema. Como enfrenta racionamento d’água em Aldeia, Camaragibe, cuida para mantê-los bem protegidos, usando “toucas descartáveis”, uma proteção a mais além das tampas, impedindo que fiquem frestas para a passagem do mosquito. Também vigia a vizinhança e comemora: “Até agora eu não peguei dengue”.


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