Em meio a toda a efervescência cultural do início dos anos 1990, com o surgimento do movimento manguebeat e vários grupos musicais pipocando pelas cidades do Recife e de Olinda, o jornalista e produtor Antonio Gutierrez decidiu reunir essa nova galera que agitava o público alternativo em um único evento. Assim surgia, em 1995, o Festival Rec-Beat, um dos mais importantes no papel de promover artistas do Estado, que neste sábado (14), a partir das 20h, no Cais da Alfândega, completa 20 anos de muitas histórias e sonoridades.
“A gente começou com a intenção de mostrar, naquele momento, a nova música pernambucana. Nós vivíamos a explosão do manguebeat e o público ainda não tinha acesso a essa nova música. Então, eu imaginei que, no Carnaval, com esse número imenso de visitantes, pessoas interessadas em conhecer não só a música, mas o que acontece no Carnaval, seria bacana poder ter um palco para mostrar isso”, relembra Gutie, como o produtor é conhecido nos bastidores do evento.
Segundo ele, quando o evento foi pensado, não imaginava que o Rec-Beat chegaria aos 20 anos de atividades, mas sempre teve em mente que queria fazer um bom festival. “E nesse ponto, hoje, a gente consegue ser um bom festival. Entre os festivais independentes, nós estamos entre os melhores, com um conceito bem definido. Eu costumo dizer que o Rec-Beat é um festival que cabe tudo, mas não qualquer coisa”, afirma.
O local em que os shows acontecem neste ano já é o terceiro da história: inicialmente, ele surgiu em Olinda, no Centro Luiz Freire (com o curioso título de Rec-Beat de Carnaval); teve sua estreia no Recife na Rua da Moeda, em 1999, ano que contou com a história apresentação da extinta Cordel do Fogo Encantado – antes um espetáculo teatral que, assim como os futuros shows, incluía manifestações dos índios Xucurus, reisado, umbanda e coco.
“Começamos com um formato menor, em Olinda, e depois viemos para o Bairro do Recife, a convite da Secretaria de Cultura, para contribuir com o fomento do Carnaval. Iniciamos na Rua da Moeda e foi crescendo. Assim, uma ideia que era de trazer a musica pernambucana foi expandindo fronteiras e depois, com o tempo, passou a trazer a nova musica latino-americana”, explica Gutie, que afirma ser esse um dos pontos principais para o crescimento e consolidação do seu conceito.
ENTRE OS GRANDES
“Eu acredito que a gente contribui pra esse circuito de festivais brasileiros, que hoje são uma plataforma legal para as bandas independentes que ainda têm uma dificuldade de entrar nos grandes meios, facilitando que elas se tornem mais conhecidas. Além disso, o Rec-Beat tem essa função de contribuir para o Carnaval, acentuando o diferencial do nosso Carnaval, com qualidade e frescor”, pontua. E, para se consolidar como uma referência, é preciso muito trabalho e atenção aos detalhes, o que Gutie parece ter de sobra.
Além do cuidado de montar uma programação diferenciada, fruto de muita pesquisa – ele afirma estar sempre atento à outros festivais e feiras, blogs de música e radiowebs para saber o que está rolando de novo no universo da música –, é preciso estar atenção aos detalhes de palco e produção do evento. A própria entrevista, concedida no local do evento, teve que ser interrompida algumas vezes para que ele pudesse acertar os últimos detalhes do palco.
Espaço para o público, organização, som (posicionamento e qualidade) e higiene de palco foram alguns tópicos discutidos com a equipe, que o acompanha há muitos anos, nessas pausas. Além da música, há um esmero com parte estética do evento, que segundo Gutie, é composta pela iluminação, VJ e conceito visual, que todo ano é realizado por um artista convidado. Nesta edição, Raoni Assis assina a identidade visual do evento.
Após 20 anos de atividade, o reconhecimento chega de diferentes formas. Além da presença do público, que é um dos principais termômetros, ele conta que devido ao Rec-Beat, o produtor acaba com uma agenda cheia em palestras e conferências: “Eu estou recebendo muitos convites para ir a festivais e feiras internacionais pra falar sobre o Rec-Beat e nossa experiência. E junto com essa fala vai o Carnaval do Estado e as bandas pernambucanas. Sempre apontamos o que existe aqui, de novidades sonoras e de trabalhos musicais bacanas”.
Sobre uma possível expectativa ou atenção especial para a edição de 20 anos, ele conta que se focou em manter a identidade e o referencial já consolidados. “Nos 20 anos, o que seria óbvio era fazer uma retrospectiva. Mas a gente optou por não fazer nada disso, e fazer o que é o Rec-Beat: um festival com frescor na programação, trazendo coisas bem atuais”, revela. “E a gente conseguiu isso, permanecer atento às novidades, com uma ou outra atração mais de referência. Um festival atual, atento e inquieto. Se você pegar a programação, quase todas as bandas estão lançando disco. Então, eu acho que a comemoração dos 20 anos é fazer uma edição do festival como ele sempre foi”, finaliza.