CONTAGEM (MG) – O ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes foi condenado na madrugada desta sexta-feira pelo sequestro, morte e ocultação do cadáver de sua ex-amante Eliza Samudio, 24 anos. Ele recebeu pelos crimes uma pena de 17 anos e seis meses de prisão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado, e mais quatro anos e nove meses em regime aberto, totalizando com isso 22 anos e três meses de prisão.
Sua ex-esposa, Dayanne Rodrigues do Carmo, que também era ré no júri popular iniciado na última segunda-feira no Fórum de Contagem (MG), acusada do cárcere privado do filho do atleta com a vítima, foi absolvida, como havia pedido o promotor Henry Wagner Vasconcelos. Ele alegou que ela teria sido coagida pelo ex-policial José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, a ficar com a criança.
Segundo informou o advogado Tiago Lenoir em uma rede social, o jogador recebeu com tranquilidade a condenação. A pena máxima que ele poderia pegar era de 41 anos de reclusão. Já o advogado Lúcio Adolfo informou que recorrerá ainda hoje da condenação do goleiro.
A juíza Marixa Fabiane Rodrigues começou a leitura da sentença pouco depois das 2h. Segundo ela, o crime conta com “detalhes sórdidos” e demonstra “impiedade” por parte do goleiro. A magistrada também chegou a relatar que “não foi a primeira vez que o réu atentou contra a vítima, mas foi certamente a última”. E descreveu Bruno como uma pessoa “fria, violenta e dissimulada”.
A juíza considerou “lacônica” a confissão feita por Bruno na quarta-feira, quando ele admitiu ter conhecimento da morte da ex-amante e que se sentia culpado, embora negasse ter sido o mandante do crime. Ainda assim, reduziu em três anos a pena base pelo homicídio, que seria de 20 anos.
Bruno torna-se o segundo réu a ser condenado pela morte de Eliza. Em novembro do ano passado, seu ex-braço direito, Luiz Henrique Ferreira Romão, Macarrão, foi julgado culpado pela morte da vítima e pegou uma pena de 15 anos de prisão. Já a ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro, recebeu a pena de cinco anos de prisão em regime aberto, naquela ocasião, pelo cárcere privado do bebê.
O crime ocorreu em junho de 2010. Bruno está preso desde julho daquele ano.
O dia
Anteriormente, durante todo o dia de quinta-feira, acusação e defesa trocaram uma série de ataques nos debates travados na reta final do julgamento do goleiro Bruno Fernandes, no Fórum de Contagem (MG), acusado de sequestrar, mandar matar e ocultar o cadáver da ex-amante Eliza Samudio, 24 anos, e da ex-mulher do jogador, Dayanne Rodrigues do Carmo, acusada do sequestro e cárcere privado do bebê que a vítima teve com o atleta.
O promotor Henry Wagner Vasconcelos foi favorável à absolvição de Dayanne, mas pediu a condenação de Bruno em todos os crimes e afirmou até que o goleiro tem ligações com o tráfico de drogas. Já a defesa centrou boa parte de sua sustentação oral em ataques à Polícia Civil, ao Ministério Público e à mídia.
Segundo o advogado Lúcio Adolfo da Silva, a imprensa já sentenciou os réus e "espera a condenação" também por parte do conselho de sentença. "Se vocês (jurados) absolverem, ficarão mal na imprensa. Se querem ficar bem na imprensa, na foto, condenem", disse ao júri popular encarregado de decidir o destino do casal. "É fácil condenar. Coragem é dizer que não é espada de vingança", provocou Adolfo, que também distribuiu vendas às cinco mulheres e dois homens selecionados como jurados lembrando que a Justiça "é cega" e pedindo imparcialidade ao grupo.
"Lave sua boca hipócrita", respondeu o promotor. E acusou o advogado de ter levado à imprensa um primo de Bruno, Jorge Luiz Lisboa Rosa, já condenado pelo crime ocorrido quando o rapaz ainda era adolescente, para dar uma entrevista favorável a Bruno. Jorge foi uma das principais testemunhas no processo, mas tentou mudar seu depoimento várias vezes e fez o mesmo com a entrevista concedida ao Fantástico. O jovem, hoje com 19 anos, foi arrolado como testemunha pela acusação e defesa, mas não compareceu ao julgamento. "Ele (Lúcio Adolfo) tentou usar a mídia, mas o tiro saiu no pé", observou Vasconcelos.
Depoimentos
O dia começou com um pedido de “reinterrogatório” feito pela defesa dos dois réus. Dayanne apenas confirmou que recebeu telefonemas do então policial civil José Lauriano de Assis Filho, orientando para quem deveria entregar o filho de Eliza e Bruno quando tiveram início as investigações. Segundo Dayanne, Zezé, como é conhecido, agia por ordem de Luiz Henrique Ferreira Romão, Macarrão, braço direito de Bruno e já condenado pelo assassinato e sequestro da vítima. Ela contou também que tinha e tem medo do hoje ex-policial. “Pelo que Bruno falou, minhas filhas correm risco. Tinha medo e estou com medo agora, tanto dele (Zezé) quanto do Macarrão e da situação”, declarou.
Bruno, por sua vez, afirmou apenas que “sabia e imaginava” que Eliza seria morta quando deixou seu sítio em Esmeraldas, em Minas Gerais, em companhia de Macarrão e de Jorge Rosa. Em depoimento na quarta-feira (7), o goleiro já havia assumido que a ex-amante foi assassinada e que “aceitou” e “se beneficiou” do crime, mas que soube do homicídio, que atribuiu a Macarrão e ao ex-policial Civil Marcos Aparecido dos Santos, Bola, apenas após ele ter ocorrido. Nesta quinta-feira, na nova declaração, ele alegou que sabia que Eliza ia morrer “pelas constantes agressões” de Macarrão contra a moça e “pelo fato de ter entregado dinheiro para ela”, que cobrava ajuda para cuidar do bebê.
Debate
A sustentação oral da acusação teve início apenas no fim da manhã, quando Henry Vasconcelos classificou como “hipócrita” a alegação inicial da defesa de que não havia crime porque o corpo de Eliza nunca foi encontrado e salientou que cada um dos sete jurados “representa cerca de 30 milhões de brasileiros, porque é um caso que interessa a toda a nacionalidade”. “(Bruno) é um rapaz que alcançou todos os bens desejados. (Mas) usou sua posição, com o dinheiro a tomar-lhe a cabeça, e descartou, como se pisasse num inseto, a mãe de um filho seu. Gente não se trata como barata”, disparou o promotor, que considerou o goleiro e os demais envolvidos no caso de “perversos”.
Vasconcelos lembrou que a própria Eliza já havia procurado a polícia denunciando agressões por parte do goleiro, então contratado pelo Flamengo, e que o atleta propôs um acordo à ex-amante desde que ela retirasse a queixa, porque ele tinha uma proposta para atuar pelo Milan, mas não podia deixar o País por causa da pendência legal. E acusou o jogador de “mandar, comandar e articular seus funcionários, mulheres, primos e amigos” para matar Eliza. E afirmou que Bruno era ligado ao tráfico de drogas e já teria sido visto algumas vezes em companhia de Antônio Francisco Bonfim Lopes, Nem da Rocinha, um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro.
No meio da tarde, a defesa começou a defender sua tese, baseada principalmente nos pedidos de absolvição, de participação de menor importância no crime ou, na pior das hipóteses para o acusado, de retirada das qualificadoras do assassinato, tese que se acatada, transforma o crime em homicídio simples, que tem pena máxima de 20 anos e permite progressão de regime após cumprimento de um sexto da pena. O advogado Lúcio Adolfo fez vários ataques às investigações e ao promotor.