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Realengo cura suas feridas

Massacre que matou 12 estudantes, há dois anos, motivou reforma completa na escola e mudou postura do poder público

Renato Mota
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Renato Mota
Publicado em 07/04/2013 às 10:09
Agência Brasil
Massacre que matou 12 estudantes, há dois anos, motivou reforma completa na escola e mudou postura do poder público - FOTO: Agência Brasil
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A Escola Municipal Tasso da Silveira de 2013 é muito diferente do local onde, há dois anos, aconteceu o chamado Massacre de Realengo, no Rio, quando o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, invadiu o prédio no dia 7 de abril e matou 12 estudantes da oitava série. Totalmente remodelada, a escola foi adequada ao modelo de escola padrão pela RioUrbe, empresa vinculada à Secretaria Municipal de Obras. Tudo que poderia lembrar a tragédia mudou: o acesso principal, que ficava na Rua General Bernardino de Matos, agora passou para a Rua Jornalista Marques Lisboa. A sala de aula onde ocorreram as mortes foi demolida e virou área de passagem para um prédio anexo, com sala de informática, biblioteca, laboratório de ciências e até auditório com capacidade para 100 pessoas.


Entretanto, as marcas em toda a comunidade ainda são profundas. Alguns dos alunos afetados - feridos e colegas dos jovens assassinados - até hoje são acompanhados pela equipe do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Escolas (Niap), formada por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. "Pais e professores também estão sendo monitorados, para que possam voltar à normalidade. Alguns conseguiram isso de forma mais rápida, mas em alguns casos foi necessário atendimentos psicológicos e psiquiátricos para superar o trauma", explica a diretora do núcleo, Mércia Cabral, por telefone.


De acordo com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, o Niap realizou nos últimos anos e ainda realiza encontros semanais com cada turma da escola, não só os diretamente afetados pelos assassinatos. "Atualmente, as visitas domiciliares, quando necessárias, continuam sendo realizadas. Além disso, a unidade conta com um agente de saúde (técnico em enfermagem) do programa Saúde nas Escolas", afirma a secretaria em comunicado. Em 2012, como os alunos das duas turmas atingidas pelo atentado estavam cursando o 9º ano, a equipe do Niap realizou um acompanhamento específico com vistas à conclusão do ensino fundamental e passagem para o ensino médio.


O bullying - motivo alegado por Wellington como motivador para o ataque, segundo vídeos que postou na internet antes do massacre - também entrou na pauta do poder público. Há dois anos entrou em vigor na cidade o Rio - Escola sem preconceito, empenhado no combate à discriminação e ao preconceito e que, com isso, levou seus alunos a apreciar e a respeitar a diferença que existe em cada ser humano, seja ela referente a sua condição social, grupo étnico, orientação sexual ou religiosa, bem como diversidades provenientes de deficiência física ou intelectual.


"Nós convidamos diretores e coordenares a implementar essa política no currículo dos alunos. Não é uma coisa imposta, porque deve ser encarada muito mais como uma parceria", afirma Mércia. Atualmente, 600 escolas participam do projeto.


A mudança está estampada na fachada principal da Tasso da Silveira. O prédio ganhou um trabalho em mosaico feito pelos alunos e funcionários, "o que fez com que eles se sentissem parte da reconstrução da escola", afirma a Secretaria de Educação. O grande painel leva os dizeres: "Escola Agora, Escola Ágora", remetendo à área livre em que os cidadãos da Grécia antiga costumavam se reunir, a expressão do espaço público na qual todos os cidadãos tinham igual voz.

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