O Instituto Royal negou nesta quarta-feira (23), por meio de um vídeo gravado pela gerente-geral da instituição, Silva Ortiz, que fazia teste de cosméticos ou de produtos de limpeza nos animais. Na madrugada de sexta-feira (18), ativistas invadiram o instituto e retiraram 178 cães da raça beagle, que eram usados em testes científicos. Os ativistas alegaram que os animais foram vítimas de maus-tratos e que eram usados como cobaias em testes de cosméticos e produtos de limpeza.
"Nós não fazemos testes de cosméticos em animais, este tipo de teste é feito apenas pelo método in vitro, ou seja, dentro de equipamentos de laboratórios, sem animais", disse a gerente. Segundo ela, as pesquisas eram voltadas para medicamentos e fitoterápicos, para tratar doenças como câncer, diabetes, hipertensão e epilepsia, entre outras, bem como para o desenvolvimento de medicamentos antibióticos e analgésicos. “O objetivo é testar a segurança de novos medicamentos de forma que possam ser usados por pessoas como eu e você".
De acordo com o médico Marcelo Morales, coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os animais retirados pelos ativistas do laboratório estão em perigo.
"Não se pode tirar animais que foram criados em biotérios [instalação com características próprias e adequadas, como um ambiente protegido, onde são criados ou mantidos animais utilizados com cobaias em testes] dessa forma repentina, porque eles podem morrer. Eles estão em risco neste momento. Esses animais são especiais, eles tem que ter atenção de médicos veterinários desde que nasceram. Havia animais idosos, com problemas renais e que eram acompanhados diariamente. Quando ele são retirados do instituto, estão em perigo. Até prontuários foram roubados", disse.
O médico considera “sensacionalismo” as imagens publicadas por ativistas em redes sociais com cães mutilados. “Animal sem olho é sensacionalismo dos ativistas. O animal que apareceu com a língua ferida se feriu durante uma briga com outro animal e foi tratado. Já estava totalmente sem problemas”, informou.
De acordo com a presidente da Comissão de Ética em Experimentação Animal (Ceea) da Unicamp, Ana Maria Guaraldo, a evolução das pesquisas em células-tronco, da distrofia muscular e da doença de Chagas foi possível por meio da pesquisa com animais. “O marcapasso foi primeiro utilizado para o cão. Hoje quantas pessoas estão com a vida melhor porque arritmia está normal?”, questiona a pesquisadora.
Ana Maria defende que os ativistas se informem mais sobre as pesquisas em laboratório com animais e descarta a substituição total de animais em pesquisas científicas. “Dentro da lei existe uma previsão de que os métodos alternativos serão desenvolvidos e validados para diminuir o tipo de animais que se adota. O processo leva, em média, dez anos até chegar a validação desses novos métodos e quem desenvolve os métodos alternativos são os pesquisadores dentro de laboratórios”, explica.
Nas pesquisas são usados diversos tipos de animais, como camundongos, ratos, cães, ovelhas, peixes, gambás, tatus, pombas, primatas, codornas, equinos, entre outros. Segundo a pesquisadora, as novas moléculas devem ser testadas em dois roedores e um terceiro animal não roedor para que as pesquisas obtenham validação, segundo protocolos internacionais. “Os cães da raça beagle são dóceis e têm tamanho compatível. São animais que têm toda uma padronização internacional e já estão nos laboratórios do mundo todo há muito tempo”, disse Ana Maria.
Do outro lado, a coordenadora do laboratório de Ética Prática, do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Sônia Felipe, defende a extinção do uso de animais em pesquisas científicas. A professora alega que os métodos que usam animais podem ser cruéis e causar extremo sofrimento aos animais. “Os experimentos mais dolorosos, os de infecções, inflamações, os neurológicos, os lesivos com ácidos, fogo e todo tipo de danos internos ou externos não admitem analgesia, nem anestesia, porque mascara o resultado”, explica.
A pesquisadora também aponta que há alternativas para pesquisa científica sem o uso de animais, mas há desinteresse da indústria farmacêutica em aprofundar os conhecimentos em protocolos alternativos. “Essas formas estão relegadas pela ciência, porque muitas delas não fariam qualquer pessoa dirigir-se às farmácias na esperança de obter alívio ou cura para suas doenças. Se os humanos estão doentes, a maioria deles é por seguir uma dieta agressiva para sua saúde”, acredita Sônia Felipe.