Protetores faciais especiais, jalecos, luvas de cano médio, botas, aventais impermeáveis e outros equipamentos de proteção já foram distribuídos às equipes designadas para atender a potenciais casos de contaminação pelo vírus Ebola em Pernambuco.
Na última sexta, após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar que a doença representa um risco mundial e o Ministério da Saúde anunciar reforços nas ações de monitoramento e vigilância na rede de saúde e nos pontos de entrada no Brasil, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) se reuniu para discutir como implementar essa fiscalização em nível local.
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O processo envolveu video-conferências com o Ministério da Saúde, que estabeleceu normas técnicas a serem seguidas por todos os locais onde há chegadas portos e aeroportos internacionais.
“Acionamos nossa rede estratégica, formada por profissionais do Hospital Oswaldo Cruz, que é nossa unidade de referência, além de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que atuam nos portos e no aeroporto, do SAMU e do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE), que vai realizar eventuais coletas e transporte de amostras, tudo dentro das normas de biossegurança”, detalhou a diretora geral de Controle de Doenças e Agravos da SES, Roselene Hans.
Segundo ela, a rede ficará de sobreaviso a cada avião ou navio que tenha partido ou feito escala nos quatro países da África Ocidental que estão atualmente afetados pelo surto de Ebola (Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Guiné).
Caso seja constatada a presença de alguém com sintomas suspeitos (como febre, vômito ou diarreia), o transporte será feito, com todos os cuidados necessários, até o Hospital Oswaldo Cruz.
Caso o viajante apresente os sintomas depois de chegar ao Brasil (no caso do deslocamento ter sido feito durante o período de incubação, quando a doença não é detectável), as unidades de saúde devem notificar imediatamente os órgãos de vigilância à Saúde.
TRATAMENTO
A contaminação pelo vírus Ebola poderá ser confirmada após exame específico, que será realizado apenas no Instituto Evandro Chagas, que fica no município de Ananindeua, no Pará.
O laboratório especializou-se, há quase 80 anos, em vírus exóticos que surgem na Amazônia, e foi o escolhido pelo Ministério da Saúde para concentrar os diagnósticos de Ebola em todo o País. Os resultados saem no prazo de dois dias. Considerado um vírus de risco máximo, o Eboal obrigará os cientistas a utilizar roupas especiais, parecidas com as utilizadas por astronautas.
Em Pernambuco, os pacientes com suspeita de terem contraído a doença serão levados a um setor de isolamento no Oswaldo Cruz. Como não existe tratamento específico e os sintomas são violentos (o vírus causa uma febre hemorrágica e dissolve os órgãos internos dos doentes, levando à perda de sangue pelos olhos, nariz, ouvidos e outros orifícios e matando por meio de choquepodendo morrer de choque ou parada cardíaca, em até 90% dos casos), a orientação médica é dar suporte de terapia intensiva (UTI).
RISCO BAIXO - Roselene Hans, porém, frisou que não há motivos para a população se alarmar. “Não há nenhum caso registrado no Brasil e o índice de transmissão é baixo, porque é preciso ter contato com as secreções corporais dos doentes. A maioria dos casos deve ficar restrita à África, porque é difícil uma pessoa contaminada conseguir viajar normalmente”, explica.
Em 2009, aconteceu uma mobilização semelhante, durante o surto de gripe H1N1. “A diferença é que, naquela época, estava-se lidando com um vírus bem mais disseminado, espalhado por vários países. A doença tinha uma transmissão respiratória, ou seja, infectava muito mais facilmente”, rememorou a diretora geral de Controle de Doenças e Agravos da SES.
Apesar disso, “como precaução das autoridades sanitárias”, essa organização estratégica está sendo implementada em todos os estados brasileiros, para que uma eventual ocorrência não se alastre.
Junto com as medidas preventivas, o Ministério da Saúde anunciou a doação de R$ 1 milhão para auxiliar nas ações de combate à doença na África, atendendo ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em coletiva realizada em Brasília, na sexta, o ministro Arthur Chioro afirmou que a doação “fortalece as ações de combate à cadeia de transmissão da doença e de contenção do surto de Ebola”. A ajuda do Brasil começou em junho, com a doação para a Guiné de quatro kits com remédios e equipamentos de proteção, suficientes para atender cerca de 500 pessoas por três meses.