Pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sediada no Rio de Janeiro, viajaram para o Congo, na África. Eles vão ensinar os técnicos locais a quantificar o teor de carotenóides em alimentos biofortificados, como mandioca amarela e batata doce. Os carotenóides são pigmentos encontrados na natureza, que respondem pela cor da maioria das frutas e vegetais.
“Na realidade, a gente vai criar uma expertise (especialização) no Congo e em países que estão desenvolvendo a mandioca amarela e a batata doce, e não têm como quantificar o teor de carotenóides. Isso está sendo visualizado por meio de fita colorida. Agora, a gente vai, quimicamente, dar mais um passo”, disse à Agência Brasil o pesquisador da Rede BioFort, coordenada no Brasil pela Embrapa, José Luiz Viana.
A Rede BioFort utiliza a biofortificação para selecionar e aumentar o conteúdo de micronutrientes dos cultivares de arroz, feijão, batata-doce, mandioca, milho, feijão caupi, abóbora e trigo, gerando novas culturas que contêm maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco. Isso fortalece o combate à deficiência de micronutrientes no organismo humano, conhecida como fome oculta, causadora, entre outras doenças, da anemia e da cegueira noturna.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos já ensinou as equipes do Congo a medi pelo sistema que os americanos chamam color chart (fita colorida). Agora, a partir de aperfeiçoamentos no laboratório africano, os pesquisadores José Luiz Viana e Izabela Miranda de Castro vão dar “o treinamento in loco, para eles aprenderem a fazer o ensaio químico e terem uma posição melhor para selecionar o material”, segundo Viana. Com isso, a gente consegue levar um pouco de capacitação técnica para os parceiros, disse ele.
Treinamento semelhante foi feito na Nigéria, em Uganda e Moçambique. O que ocorre, segundo Viana, é que o Congo tem uma particularidade, ao contrário dos demais países africanos. É que lá fala-se francês, e não inglês. Por isso, houve necessidade de traduzir o material didático para o farncês, o que tornou a ação isolada.
O pesquisador disse que a ideia, em uma etapa posterior, é melhorar a evolução da técnica. Ou seja, em vez de quantificar os carotenóides totais, como será feito agora, passar a medir o teor de carotenóides isoladamente, por suas frações, como é feito atualmente com o betacaroteno e alfacaroteno, por exemplo. Viana destacou, entretanto, que tem que ser dado um passo de cada vez, poque o curso é caro e envolve treinamento e pessoal especializado.
O equipamento para essa nova etapa tem custo equivalente a US$ 70 mil ou US$ 80 mil. Isso exigirá a elaboração de projeto a ser apresentado à Fundação Bill e Melinda Gates, que financia as ações dos projetos de biofortificação de alimentos na África, entre outras entidades. Essas ações são denominadas Rede BioFort. A biofortificação é o enriquecimento de alimentos por meio do melhoramento genético convencional. O curso no Congo se estenderá até o próximo dia 22.
De acordo com dados recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 48% das crianças no mundo, com menos de 5 anos de idade, apresentam anemia, decorrente da deficiência de ferro no organismo, e 30% têm deficiência de vitamina A. Em janeiro deste ano, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, disse que a agricultura é o "motor de crescimento" para acabar com a fome na África. Continente que celebra 2014 como o Ano Africano da Agricultura e da Segurança Alimentar, em paralelo ao Ano Internacional da Agricultura Familiar das Nações Unidas.