Rafael Lusvarghi, o ex-legionário estrangeiro e ex-policial militar preso no dia 12 de junho em São Paulo durante protesto contra a realização da Copa do Mundo, juntou-se aos separatistas russos no leste da Ucrânia, onde comanda um pelotão. Lusvarghi, cuja foto foi estampada nas capas dos jornais, de cabelos longos e sem camisa, dominado por policiais que disparavam spray de pimenta em seu rosto, trocou mensagens com o jornal O Estado de S. Paulo nos últimos três dias, de seu alojamento militar entre as cidades de Donetsk e Lugansk.
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Ele conta que chegou à região no dia 20. Demitido, ao ser preso, de seus dois empregos, de professor de inglês e assistente de helpdesk, Lusvarghi, de 30 anos, afirma que fez contato com os combatentes de etnia russa por meio de amigos, comprou a própria passagem e ingressou no Batalhão de Prisrak. "Minha manutenção aqui é humilde, é a manutenção de um soldado, não recebo nada, mas também não pago nada, durmo em um alojamento improvisado, não passo fome, mas os mantimentos são uma questão coletiva - nos últimos dias, foi uma alegria, pois conseguiram comprar três galinhas", escreveu.
"A tropa de voluntários se bate pela Nova Rússia, acima de tudo e contra o imperialismo americano", definiu Lusvarghi, usando a denominação dos separatistas russos para o leste da Ucrânia. "Meu batalhão é formado em sua maioria por voluntários russófonos da região do Donbass. Pretendo ficar aqui mesmo depois que a luta acabar. Para dizer o mínimo, vou até o fim", prevê.
"No Brasil, eu só observava o conflito de longe, já com minhas posições atuais de apoio ao Donbass", conta ele. "Consegui entrar em contato graças a uns amigos politicamente engajados. Não são recrutadores ou coisa assim, só tive a sorte de ter esses amigos que me encaminharam para um grupo especial. Eles sabiam da minha experiência militar."
Lusvarghi entrou aos 18 anos na Legião Estrangeira, onde fez cursos de paraquedismo, infiltração e comando. Diz que atuou na Europa e na África, mas não pode entrar em detalhes sobre suas missões.
Serviu na Polícia Militar de São Paulo, entre 2006 e 2008, e na do Pará, entre 2008 e 2010. Saiu como cadete. Mudou-se então para a Rússia, onde morou até o início deste ano. Tentou entrar no Exército russo, mas não foi aceito por ser estrangeiro. Fez curso de Administração em Kursk, perto da fronteira com a Ucrânia.
Ao voltar da Rússia, fez uma "visita" às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em Cartagena.
Tiros
"A artilharia ucraniana atira esporadicamente", escreveu na noite de segunda-feira. "Nesse momento mesmo, já faz 4 horas que não param de martelar a uns 30 ou 40 km daqui." Lusvarghi descreveu assim um dia típico: "Alvorada às 5h, café da manhã, conferir a tropa e repassar aos superiores, treinamento, instrução, pausa para o almoço, atividades diversas, responsabilidades como comandante de grupo". Ele comanda de 6 a 11 homens.
O combatente brasileiro garante que não viu militares das Forças Armadas russas, e que a ajuda da Rússia tem sido apenas "humanitária". Ele é o único brasileiro. Há também franceses e sérvios. "Eu tenho um vínculo pessoal forte com a Rússia, que começou ainda criança, quando meu pai assistiu ao filme Taras Bulba, aquela novela de (Nikolai) Gogol."
"Na parte política, eu me oponho ao avanço imperialista na Ucrânia, às garras do grande capital financeiro internacional, a uma base da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada pelos EUA) apontando mísseis para a Rússia."
Lusvarghi ficou preso durante 45 dias em São Paulo. Ficou provado que não levava consigo explosivos, mas continua alvo de processo por formação de milícia particular, resistência à prisão e associação criminosa.