A versão inicial do plano de operação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para o Sistema Cantareira durante o período chuvoso previa que o manancial chegaria em abril de 2015 com o mesmo nível crítico de armazenamento registrado após o verão deste ano.
Leia Também
De acordo com a proposta, que será revisada pela estatal e apresentada após o primeiro turno das eleições, os reservatórios tinham 93% de probabilidade de chegar ao início do próximo período de estiagem com os mesmos 10% de capacidade do seu volume útil observados em abril de 2014.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, as projeções da Sabesp consideram a manutenção do atual limite máximo de retirada de água do Cantareira para abastecer a Grande São Paulo em 19,7 mil litros por segundo. A Agência Nacional de Águas (ANA), um dos órgãos reguladores do manancial, chegou a anunciar um acordo com o governo Geraldo Alckmin (PSDB) para reduzir a vazão de retirada para 18,1 mil litros por segundo a partir deste mês, e para 17,1 mil litros por segundo a partir de novembro. Porém, o secretário paulista de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, negou o acerto, o que resultou na saída da agência federal do comitê anticrise do Cantareira.
Segundo a ANA, o plano de contingência da Sabesp, intitulado "Projeção de Demana - Sistema Cantareira", foi enviado no fim da semana passada, após três adiamentos. Na última segunda-feira, contudo, a empresa informou ao órgão federal que a proposta "necessita de correções em seu método/modelo" e pediu mais cinco dias úteis para encaminhar a versão final. O prazo termina na próxima segunda-feira.
Na terça-feira, 1, durante uma reunião com prefeitos e empresários da região de Campinas para discutir uma proposta de racionamento de água com o comitê das bacias dos Rios Piracicaba Capivari e Jundiaí (PCJ), onde cerca de 5 milhões de pessoas são abastecidas pelo Cantareira, o presidente da ANA, Vicente Andreu, classificou o plano da Sabesp como "tecnicamente fraco".
"Tanto é que eles mesmos pediram para fazer correções", afirmou o dirigente do órgão subordinado ao Ministério do Meio Ambiente.
O jornal O Estado de S. Paulo questionou a Sabesp se as correções que faria no plano de contingência iriam alterar as projeções para o Cantareira a partir de abril de 2015, mas a companhia informou, por meio da assessoria de imprensa, que não se manifestaria sobre o assunto.
Cálculo
Para que a projeção inicial da Sabesp se confirme, o Cantareira precisaria acumular nas suas cinco represas cerca de 380 bilhões de litros em seis meses. O cálculo considera que a concessionária precisaria recuperar os 182,5 bilhões de litros da primeira cota do volume morto, que começou a ser bombeada no dia 31 de outubro e deve acabar em novembro, a segunda da reserva profunda, de 106 bilhões de litros, que deve ser usada a partir do mês que vem, e mais 98 bilhões de litros do volume útil do manancial, cuja capacidade é de 982 bilhões de litros.
A projeção da Sabesp é menos otimista do que a adotada pelo secretário Mauro Arce. Segundo ele, o Cantareira tem mais de 50% de chance de encher completamente em um ano. Para especialistas em recursos hídricos e para o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, essa recuperação deve levar ao menos três anos. Os últimos cálculos da companhia indicam que a crise da água em 2015 deve ser pelo menos igual a deste ano.
Ações
Desde fevereiro, a Sabesp tem adotado um conjunto de ações para diminuir a retirada de água do Cantareira, que antes da crise era de 31 mil litros por segundo. Além do desconto na conta para quem economizar água, ela remanejou os recursos hídricos de outros sistemas para bairros atendidos pelo Cantareira, e reduziu a pressão da água na rede de distribuição à noite, conforme o Estado revelou em abril, medida que levou a queixas de falta d’água. Mesmo com essas medidas, a empresa teve de captar água do volume morto do sistema que ainda abastece 6,5 milhões de pessoas só na Grande São Paulo e, assim, não decretar o racionamento oficial.
Segundo Alckmin, o abastecimento de água na Grande São Paulo sem rodízio está garantido até março de 2015. Em janeiro, a Sabesp chegou a enviar ao governo um plano de racionamento para o Cantareira, mas a medida foi descartada pelo governador, que o considerou "inadequado".