No Dia Mundial da Alimentação, uma iniciativa lançada nesta quinta-feira (16) por órgãos governamentais e não governamentais pretende inserir nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a preocupação com a alimentação sustentável que, além das vantagens à saúde, traz benefícios sociais, ambientais e econômicos. O projeto, chamado Rio Alimentação Sustentável, traz uma lista de recomendações que começam na hora da compra dos produtos. As dicas são priorizar pequenos e médios produtores do estado do Rio, dar preferência a produtos orgânicos e escolher os que são provenientes de áreas não desmatadas.
Segundo o analista de Políticas Públicas da organização não governamental (ONG) WWF, Frederico Soares, os primeiros passos já foram dados e incluem obter um comprometimento do Comitê Olímpico Rio 2016 com o relatório lançado hoje. O objetivo é reunir entidades públicas e privadas em grupos de trabalhos sobre como organizar a cadeia produtiva desses produtos para atender a demanda do evento: "Vai ser fundamental um processo de transformação das cadeias de valor, porque hoje elas não têm condições de atender a uma demanda dessa escala. Temos um trabalho bastante árduo pela frente".
A iniciativa foi lançada na sede do Comitê Olímpico Rio 2016, no centro do Rio, em conjunto com o documento sobre alimentação na competição Taste of the Games (O Sabor dos Jogos). Além de ONGs como a WWF e a Planeta Orgânico, assinam a iniciativa órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Sindicato de Bares e Hoteis do Rio de Janeiro (Sind-Rio).
Para Frederico Soares, uma das principais preocupações em organizar as cadeias produtivas de pequenos e médios produtores de orgânicos, por exemplo, significa fortalecer esse mercado para depois dos jogos. "A gente não deseja atender somente à demanda dos jogos. O nosso enfoque é transformar a realidade desse mercado e a consciência do cidadão".
Além de recomendações, o relatório indica problemas que existem em cadeias produtivas de 15 tipos de alimentos, apontando quais são as metas mínimas e as desejáveis, além de explicar qual é o critério para considerá-las sustentáveis. Um exemplo é a cadeia produtiva dos grãos arroz, feijão e milho, em que é classificado como mínimo adquirir produtos de quem produz em conformidade com as legislações ambientais e trabalhistas, de quem eliminou a exploração de trabalho infantil e também a contaminação por produtos químicos e biológicos. Já como desejável é apontado valorizar a agroecologia, a agricultura orgânica e familiar, gerando renda para pequenos e médios produtores.
Além do comitê organizador, Frederico conta que também estão sendo feitos contatos com os patrocinadores dos jogos. "Eles estão cientes desse movimento que estamos fazendo e estamos tentando trabalhar junto deles. Para que boas práticas sejam estimuladas nas cadeias em que estão inseridos".
Agrônoma e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Regina Celi Coneglian, acredita que as preocupações com sustentabilidade na alimentação são um caminho sem volta na sociedade, que tende a se conscientizar mais sobre o assunto: "Isso cada dia vai aumentar mais. O número de produtores orgânicos e produtores que trabalham com produção integrada está crescendo muito e o produtores estão se conscientizando que dessa forma podem melhorar sua renda".
Uma das preocupações referentes à sustentabilidade alimentar se refere ao desperdício, que continua sendo um desafio para a população mundial. A Organização das Nações Unidas estima que, até 2050, a demanda por alimentos deve crescer 60% pela mudança de estilo de vida e renda nos países emergentes e também pelo crescimento populacional. De acordo com a ONU, o desperdício chegou a 1,3 bilhão de toneladas de comida em 2011, ou um terço da produção mundial, enquanto 800 milhões de pessoas ainda sofriam com a fome.
Em São Paulo, a organização não governamental Banco de Alimentos, que promove ações contra o desperdício, fez hoje um ciclo de palestras e a presidente e fundadora da organização, Luciana Quintão, destacou que o modo de consumir diz muito sobre a sociedade e que o alimento, como produto, tem interface com tudo o que é humano: "Quando você planta e aquele alimento vai parar no lixo, você gastou água em vão, desmatou em vão, usou petróleo em vão para transportar e poluiu o meio ambiente, porque cada quilo de alimento desperdiçado gera 400 gramas de gás carbônico", afirmou, ilustrando que o desperdício de comida do brasileiro seria suficiente para alimentar diariamente 20 milhões de famílias com seis refeições diárias. "Nosso desperdício é imenso. É uma agressão social".