Cantareira

Para ANA, só 'dilúvio' normalizará Cantareira até janeiro

Recuperação do principal sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo precisa de 500 bilhões de litros de água para voltar ao nível de janeiro do ano passado

Giovanna Torreão
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Giovanna Torreão
Publicado em 13/11/2014 às 13:00
Foto: Divulgação/Sabesp
Recuperação do principal sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo precisa de 500 bilhões de litros de água para voltar ao nível de janeiro do ano passado - FOTO: Foto: Divulgação/Sabesp
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O Sistema Cantareira vai precisar de um "dilúvio" até janeiro de 2015 para voltar ao nível de reserva de água para consumo obtido em janeiro de 2014, segundo o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo. "Para chegar a janeiro do ano que vem, precisamos de um dilúvio", afirmou, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.

Segundo Guillo, a recuperação do principal sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo precisa de 500 bilhões de litros de água para voltar ao nível de janeiro do ano passado e, assim, iniciar o próximo ano com capacidade para enfrentar o período de seca. Para isso, segundo o presidente da ANA, é preciso repor um déficit hídrico de cerca de 20% no Cantareira e recompor o superávit hídrico de 25% registrado pelo sistema em janeiro deste ano. E torcer para que o "dilúvio" comece logo. "Estamos tentando demonstrar que as chuvas não estão vindo e se elas não vierem, a situação vai se agravar", afirmou.

Ele participou de audiência da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) da Câmara. "O Sistema Cantareira está próximo de 20% negativo do seu volume. Isso significa que estamos com um déficit para ser suprido. Nós teríamos, no curto prazo, para que a gente entre na série de 2015 igual a 2014, que suprir o déficit e voltar o volume de água em dois meses para entrar numa série que ainda depende do volume de chuvas que vamos ter", disse.

O cenário, contudo, não é de chuvas fartas na avaliação da agência. Guillo criticou as previsões da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paul (Sabesp) sobre o potencial de chuva para o Cantareira. "Essa persistência em olhar para o futuro de uma maneira otimista em relação às precipitações faz com que algumas decisões, que precisam ser tomadas para um cenário mais conservador, não sejam tomadas. Em consequência, o risco para o futuro passa a ser brutal", afirmou. 

"A Sabesp fez uma série de projeções para o volume morto que não querem dizer nada. Para a tomada de água de curto prazo ela fez uma projeção para outubro que teríamos 15 metros cúbicos (m? de chuva). Entraram menos de quatro metros cúbicos. Isso significa que para o período curto tem de refazer as projeções, mas continua a se fazer a projeções para o período longo", acrescentou. 

60 dias de chuva

A procuradora regional da República da 3ª Região, de São Paulo, Sandra Akemi Shimada, afirmou que a Sabesp tem explorado a segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira "sem autorização" de outros órgãos. "De que forma se dará a utilização da última parcela de volume morto. Continuaremos sem regras? Restam duas alternativas: reduzir limites (de captação) na Região Metropolitana de São Paulo e aguardar mudança significativa dos índices pluviométricos. Ou continuar negando qualquer medida de contingenciamento, multa e racionamento", disse. "Estamos a depender simplesmente do retorno das chuvas, mas essa aposta levará ao esgotamento do Cantareira, deixando à própria sorte 14 milhões de pessoas", observou.

A procuradora acusou a empresa paulista de abastecimento de não informar a realidade à população. "A sociedade está sendo privada de informações. As informações têm de chegar a elas. É preciso falar, sim, de dilúvio", considerou.

Segundo Sandra, será necessário chover durante 60 dias seguidos o mesmo volume da "pior chuva" dos últimos seis anos para recuperar o Cantareira até janeiro. "Se tivermos 60 dias da pior chuva que tivemos em seis anos, aí, sim, vamos conseguir restaurar a situação que estávamos antes desta crise", considerou Sandra, que é integrante do Grupo de Trabalho sobre Águas (GT Águas) da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal. 

O deputado Guilherme Campo (PSD-SP), autor do requerimento que resultou na audiência pública de hoje, também criticou a Sabesp pelo excesso de perspectivas otimistas em relação às chuvas. "Se não houver o dilúvio, vai faltar água. Não tem muita mágica, é fazer conta. Jogar com perspectivas otimistas no cenário mais prolongado é faltar com a verdade", disse.

O deputado, aliado do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que não conseguiu reeleição para a Câmara, lamentou a ausência no debate da presidente da Sabesp, Dilma Seli Pena, que recusou participar da audiência por estar "trabalhando diuturnamente" para resolver a crise hídrica paulista".

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