Após servidores estaduais do Paraná tentarem romper o cerco da Polícia Militar na Assembleia Legislativa e a corporação reagir com bombas de gás e balas de borracha, manifestantes e PMs entraram em confronto em frente à Casa. O local virou uma praça de guerra onde ao menos 170 pessoas se feriram.
Leia Também
Os protestos ocorrem no Legislativo porque os deputados votam, com portas fechadas, o projeto do governo Beto Richa (PSDB) que modifica a previdência dos funcionários públicos estaduais. De acordo com o sindicato servidores, há 20 mil pessoas na manifestação.
Desde o início desta semana, a Assembleia foi cercada por PMs a pedido do governador tucano, que se baseou numa ordem judicial para fazer a votação sem a presença de manifestantes.
A polícia jogou também jatos de água contra os ativistas. Já os manifestantes atiram pedaços de pau e pedras. Parte dos ativistas são professores, que entraram em greve na última segunda (27) contra o projeto.
O prédio da prefeitura, que fica em frente à Assembleia, foi transformada em uma espécie de enfermaria para agilizar o atendimento dos feridos.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 20 dos feridos são policiais. A PM prendeu dez pessoas -entre eles, há professores e black blocks, segundo a pasta.
O confronto já dura quase três horas. Após o ataque da PM, os manifestantes -entre eles alunos da rede pública-, recuaram, mas continuam ocupando as ruas ao redor do Legislativo.
'REFÚGIO'
Dos 170 feridos, 35 foram socorridos por ambulâncias do Samu e por guardas civis municipais. Eles foram levados para hospitais e para a UPA matriz. Há também entre eles pessoas que passaram mal com o gás usado pela PM.
Segundo a assessoria da prefeitura, diante do tumulto, as pessoas se refugiaram na prefeitura. O saguão principal está lotado de pessoas ensanguentadas, ainda sob efeito de crise nervosa ou que tiveram algum tipo de ferimento.
Funcionários tentavam acalmar manifestantes, distribuindo água.
Enquanto isso, a sessão está sendo realizada na Assembleia. Foi interrompida por cerca de dez minutos, já que o gás chegou a atingir o plenário da Casa, mas foi retomada, mesmo com o barulho de bombas e gritos do lado de fora.
Também houve confronto nesta terça-feira (28), quando um caminhão de som tentou se aproximar do Legislativo. Na ocasião, a PM reagiu com bombas de gás e spray de pimenta.
A expectativa dos servidores é evitar a aprovação da proposta de Richa.
Com medo de que o prédio do Legislativo fosse invadido, a exemplo do que ocorreu em fevereiro, a gestão Richa montou uma operação de guerra ao redor da Assembleia Legislativa do Paraná para garantir a votação.
Diante da fumaça, foram suspensas as aulas na CMEI Centro Cívico, uma creche infantil para filhos de funcionários, que também fica perto da Assembleia.
Os pais foram convocados a buscar às pressas as crianças. Assustadas, algumas passaram mal e começaram a tossir diante do desconforto com o gás.
SEGURANÇA
Quase 2.000 policiais, segundo apurou a reportagem, participam da operação. Ônibus do batalhão de choque, caminhões dos Bombeiros e até a cavalaria foram convocados para fazer a segurança do prédio.
Do lado de fora, manifestantes carregam cartazes e gritam "retira, retira" e "eu estou na luta".
Todas as entradas do Legislativo estão cercadas. Os manifestantes foram concentrados em apenas um dos lados do prédio. Entre eles e a entrada da Assembleia, há cerca de 30 metros e duas fileiras de grades.
No início da tarde, comandantes davam ordens à seus batalhões. "O camarada vai derrubar a grade em cima de você. Então, tem que estar preparado para isso", dizia um deles ao seu batalhão.
Em caso de invasão do perímetro, homens da Rotam e do Bope agirão para dispersar os manifestantes, com escudos, bombas de gás e spray de pimenta. "É tipo aquele filme 300", explica um policial, em referência ao filme em que 300 soldados de Esparta enfrentam um exército persa com milhares de integrantes.
O batalhão de choque tem dezenas de homens dentro do prédio, preparados para o avanço do grupo, com balas de borracha e escudos.
"Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo! Nada de sair girando por cima", orienta um dos comandantes à tropa de policiais.
PREVIDÊNCIA
Os deputados do Paraná começaram a votar, nesta semana, um projeto que pretende alterar a previdência estadual, aliviando o caixa do governo em R$ 1,7 bilhão ao ano. Em protesto, professores e outras categorias, como agentes penitenciários e servidores da saúde, entraram em greve e têm organizado manifestações em frente à Assembleia desde segunda (27).
A direção da Casa conseguiu uma ordem judicial que proíbe a invasão do plenário, como já ocorreu em fevereiro. A PM diz que está agindo para cumprir a decisão.