A cada dia, 116 pessoas morrem vítimas de armas de fogo no Brasil. Em 2012, data dos últimos dados disponíveis, foram 42.416 mortos. A principal causa das mortes foram homicídios, motivo apontado em 95% dos casos.
Os dados, que fazem parte do Mapa da Violência 2015, realizado por órgãos do governo federal e Unesco, são os mais altos já registrados no país por este motivo desde 1980, início da série histórica.
Nesse período, as mortes por armas de fogo cresceram 387%, segundo a pesquisa que será divulgada nesta quinta-feira (14). Em dez anos, porém, o aumento foi menor: 11,7%.
A pesquisa aponta os jovens entre 15 e 29 anos como as principais vítimas. Ao todo, foram 24.882 mortes neste grupo, o que leva a outro recorde negativo: são 59% do total de casos.
Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo, a dificuldade de acesso dos jovens a políticas públicas eficientes, especialmente na educação, contribui para que esse grupo fique mais vulnerável à violência. Hoje, para cada não jovem morto, há quatro jovens são assassinados, segundo o relatório.
"É uma categoria que ainda não se consolidou como prioritária para políticas públicas. Há políticas, mas insuficientes", diz o pesquisador.
NA MIRA
Além dos grupos etários, o crescimento da mortalidade também é desigual em algumas regiões. No país, a região em que há maior crescimento em número de mortes por arma de fogo é o Norte, que registrou um avanço de 135,7% em dez anos. Em seguida, estão Nordeste, Centro-Oeste e Sul.
Segundo o relatório, o Sudeste é a única região em que houve queda neste período - lá, a redução foi de 39,8%, puxada principalmente por uma queda ocorrida no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A situação mais crítica ocorre em Alagoas, Estado com a maior taxa de mortalidade por arma de fogo, com 55 mortes a cada 100 mil habitantes. Já o Maranhão é o Estado onde esse índice mais cresceu desde 2002: lá, a taxa observada de mortes a tiros a cada 100 mil habitantes registrou 273% de aumento.
INTERIOR
Assim como nos últimos anos, o relatório também confirma um avanço da violência no interior. Enquanto o país registrou um aumento de 11,7% no número de mortos a tiros, nas capitais, houve queda de 1,6%.
Ao todo, 12 capitais apresentaram redução na taxa de mortalidade por armas nos últimos dez anos. O Rio de Janeiro teve maior queda, de 68,3%. Do outro lado, está São Luís, com o maior avanço: 316%.
Entre as cidades menores, Simões Filho, na Bahia, tem a maior taxa: 130 mortes para cada 100 mil habitantes. A pesquisa é feita com dados do Ministério da Saúde e de declarações de óbito expedidas no país.
Para Julio Jacobo, o recente aumento no número de mortes por armas de fogo, após dados que indicavam uma estabilização nos últimos anos, pode estar relacionado a uma diminuição no desarmamento nos últimos anos. Segundo o relatório, a estimativa é que o país tenha cerca de 15 milhões de armas em circulação.
Hoje, mudanças que visam flexibilizar o Estatuto e trazer normas mais brandas para a compra de armas são discutidas no Congresso.
"É ilógico pensar que aumentar o armamento protege alguém", defende. "Se observamos a curva, vemos que até 2003 há um aumento significativo das mortes por arma de fogo. Após o Estatuto do Desarmamento, o índice estabilizou. Mas ninguém falou que isso iria solucionar os conflitos no país, porque eles continuam", afirma.