Violência

Com 116 casos por dia, país tem recorde de mortes por arma de fogo

Os dados, que fazem parte do Mapa da Violência 2015, realizado por órgãos do governo federal e Unesco, são os mais altos já registrados no país por este motivo desde 1980

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Publicado em 13/05/2015 às 21:42
Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
Os dados, que fazem parte do Mapa da Violência 2015, realizado por órgãos do governo federal e Unesco, são os mais altos já registrados no país por este motivo desde 1980 - FOTO: Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil
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A cada dia, 116 pessoas morrem vítimas de armas de fogo no Brasil. Em 2012, data dos últimos dados disponíveis, foram 42.416 mortos. A principal causa das mortes foram homicídios, motivo apontado em 95% dos casos.

Os dados, que fazem parte do Mapa da Violência 2015, realizado por órgãos do governo federal e Unesco, são os mais altos já registrados no país por este motivo desde 1980, início da série histórica.

Nesse período, as mortes por armas de fogo cresceram 387%, segundo a pesquisa que será divulgada nesta quinta-feira (14). Em dez anos, porém, o aumento foi menor: 11,7%.

A pesquisa aponta os jovens entre 15 e 29 anos como as principais vítimas. Ao todo, foram 24.882 mortes neste grupo, o que leva a outro recorde negativo: são 59% do total de casos.

Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo, a dificuldade de acesso dos jovens a políticas públicas eficientes, especialmente na educação, contribui para que esse grupo fique mais vulnerável à violência. Hoje, para cada não jovem morto, há quatro jovens são assassinados, segundo o relatório.

"É uma categoria que ainda não se consolidou como prioritária para políticas públicas. Há políticas, mas insuficientes", diz o pesquisador.

NA MIRA

Além dos grupos etários, o crescimento da mortalidade também é desigual em algumas regiões. No país, a região em que há maior crescimento em número de mortes por arma de fogo é o Norte, que registrou um avanço de 135,7% em dez anos. Em seguida, estão Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

Segundo o relatório, o Sudeste é a única região em que houve queda neste período - lá, a redução foi de 39,8%, puxada principalmente por uma queda ocorrida no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A situação mais crítica ocorre em Alagoas, Estado com a maior taxa de mortalidade por arma de fogo, com 55 mortes a cada 100 mil habitantes. Já o Maranhão é o Estado onde esse índice mais cresceu desde 2002: lá, a taxa observada de mortes a tiros a cada 100 mil habitantes registrou 273% de aumento.

INTERIOR

Assim como nos últimos anos, o relatório também confirma um avanço da violência no interior. Enquanto o país registrou um aumento de 11,7% no número de mortos a tiros, nas capitais, houve queda de 1,6%.

Ao todo, 12 capitais apresentaram redução na taxa de mortalidade por armas nos últimos dez anos. O Rio de Janeiro teve maior queda, de 68,3%. Do outro lado, está São Luís, com o maior avanço: 316%.

Entre as cidades menores, Simões Filho, na Bahia, tem a maior taxa: 130 mortes para cada 100 mil habitantes. A pesquisa é feita com dados do Ministério da Saúde e de declarações de óbito expedidas no país.

Para Julio Jacobo, o recente aumento no número de mortes por armas de fogo, após dados que indicavam uma estabilização nos últimos anos, pode estar relacionado a uma diminuição no desarmamento nos últimos anos. Segundo o relatório, a estimativa é que o país tenha cerca de 15 milhões de armas em circulação.

Hoje, mudanças que visam flexibilizar o Estatuto e trazer normas mais brandas para a compra de armas são discutidas no Congresso.

"É ilógico pensar que aumentar o armamento protege alguém", defende. "Se observamos a curva, vemos que até 2003 há um aumento significativo das mortes por arma de fogo. Após o Estatuto do Desarmamento, o índice estabilizou. Mas ninguém falou que isso iria solucionar os conflitos no país, porque eles continuam", afirma.

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