Os imigrantes brasileiros no exterior que formam comunidades passam a representar a cultura e a identidade brasileira na região em que vivem e carregam a identidade dos lugares de onde saíram. Embora o governo brasileiro não tenha dados precisos sobre o número de imigrantes que vivem nos Estados Unidos, o Ministério das Relações Exteriores, calcula que existam de 1,3 milhão a 1,4 milhão de brasileiros residentes no país. O Dia do Imigrante é celebrado nesta quinta-feira (25).
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Na Georgia, por exemplo, a comunidade goiana traz consigo as tradições da região. Em Marietta, cidade na região metropolitana de Atlanta, onde vive boa parte dos brasileiros, há vários estabelecimentos comerciais com o nome Goianão. Em uma mesma quadra comercial é possível ver: Goianão Padaria, Goianão Supermercado e Goianão Restaurante.
A pamonha é vendida nos restaurantes brasileiros como Brazilian tamal, nome de uma comida feita com milho comum no México e em países centro-americanos. Nas redes sociais em Atlanta, a comunidade divulga eventos com “pamonhada” para arrecadar fundos para igrejas e obras sociais.
Na cidade também há muitas igrejas evangélicas e uma comunidade católica atuante. “As igrejas têm um papel importantíssimo na acolhida aos imigrantes”, avalia o cônsul brasileiro em Atlanta, Hermano Telles Ribeiro. Em diferentes esferas sociais os brasileiros se tornam defensores de suas origens e da cultura do seu país. No último sábado (20), a comunidade brasileira católica em Atlanta fez a festa junina na cidade e reuniu brasileiros e estrangeiros para celebrar.
O norte-americano James Thomaz, 45 anos, mora ao lado da igreja em que a festa foi realizada e foi ao local para comer espetinho. “Eu gosto de como vocês fazem o barbecue [churrasco, em inglês]. Vim ano passado porque vi a festa e voltei para comer de novo”, contou.
A carioca Lucia Moraes Jennings chegou aos Estados Unidos em 1975 para fazer faculdade na Georgia. Ela conta que, na época, eram poucos os brasileiros no estado. Ela se casou com um norte-americano, mas desde e o começo se identificava como brasileira e não abandonou sua identidade.
Em 1987 começou um trabalho para promover a cultura brasileira em Atlanta. “Me vestia de Carmem Miranda e ia fazer palestras em escolas. Mas eu tentava tirar o foco do estereótipo. Não gostava e não gosto quando associam o Brasil somente ao futebol, ao carnaval e à sensualidade da mulher”.
Em 1996, ela resolveu mudar o foco da cultura para a economia. “O Brasil começou a se recuperar economicamente e decidimos trabalhar o aspecto econômico. Com isso, criamos a Câmera de Comércio Brasil-Estados Unidos do Sudeste”, explica Lucia que é executiva da Coca-Cola, empresa que tem sede em Atlanta.
A Câmera funciona com voluntários que fazem a ponte entre empresas brasileiras e empresas norte-americanas, identificando parcerias em potencial, abrindo canais de relacionamento e estabelecendo conexões. “Nosso papel é desmistificar e mostrar o potencial brasileiro”, acrescenta.
Lucia diz que nestes 40 anos vivendo nos Estados Unidos não deixou seu “lado brasileiro” morrer, ao contrário fortaleceu sua identidade. “Em parte me sinto embaixadora do Brasil”, diz ela que, neste ano foi convidada a proferir uma palestra para os imigrantes que recebem o Green Card (visto permanente de imigração) na Suprema Corte. “Para mim foi um grande reconhecimento do meu trabalho e de que levo comigo o exemplo de cidadania brasileira que quero mostrar”.
Do outro lado do mapa, no Nordeste norte-americano, outra brasileira também representa o Brasil, promovendo cidadania. A jornalista e antropóloga Heloísa Galvão, de Ilha Grande, veio em 1988 para fazer mestrado em Boston e não voltou. Em 1995 ajudou a criar o grupo Mulheres Brasileiras em Boston, uma organização comunitária sem fins lucrativos que presta assistência à comunidade imigrante e também promove a cultura brasileira.
“Nosso primeiro objetivo é informar. Informação gera empoderamento. E se você sabe seus direitos você pode vencer o medo e não se deixar paralisar”, afirma Heloísa, acostumada a lidar com questões migratórias que a comunidade sem documentos enfrenta. Em setembro, o grupo promove o Festival da Independência, considerado um dos maiores festivais independentes de brasileiros nos Estados Unidos.
A cearense Renata Fontenelle, que veio para os Estados Unidos depois de se casar com um norte-americano, faz questão de reforçar com o filho as tradições brasileiras e o português e levou Fael, de 4 anos para a festa junina de sábado. O garoto fala português fluente graças ao empenho da mãe. “Eu só falo português com ele, coloco filme e desenhos do Brasil e sempre o coloco pra falar com minha família na internet”, diz. E completa: “também cozinho comida brasileira em casa e vou a festas e eventos brasileiros. Ele é americano mas tem o pezinho lá no Brasil”, diz a mãe do garoto que levou o filho vestido de caipira para a festa junina.