No mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), que em 2016 completa 50 anos, reforça mais uma vez a necessidade de manter o saneamento na pauta política e social do Brasil. Para o presidente nacional da ABES, o engenheiro Dante Ragazzi Pauli, este momento crucial de nosso país requer engajamento cada vez maior e mobilização social para que o saneamento seja considerado tema de primeira ordem. "A falta de priorização por parte do poder público nos leva a avanços muito lentos. Com a proliferação de doenças como dengue e zika, tornou-se ainda mais clara a relação doenças x falta de saneamento", ressalta (a ABES lançou este mês a campanha de conscientização Mais Saneamento, menos zika https://abes-dn.org.br/?p=923)
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Segundo o Painel Internacional de Pesquisa, ligado ao Programa da ONU para o Meio Ambiente, Pnuma, se os atuais níveis de consumo e de poluição da água continuarem, é possível que metade da população mundial enfrente dificuldades para obter o recurso natural em 2030 (veja mais https://bit.ly/1RfYba8)
No Brasil, como lembra o presidente da ABES , os grandes problemas do saneamento ainda persistem. "A incapacidade de tantos estados e prefeituras na gestão de forma minimamente adequada nos seus sistemas de água e esgoto, resíduos sólidos e drenagem, por exemplo, a indefinição de fontes de financiamento, as questões da desoneração do setor, as diversas prorrogações de prazos para a elaboração de planos municipais de saneamento e a erradicação dos aterros não adequados, vulgarmente chamados lixões. No final de 2015 houve mais uma adiamento da data estabelecida para elaboração dos planos de saneamento, porque a maioria dos municípios ainda não havia apresentado seus planos. Isso mostra o quanto ainda temos que avançar."
Dante lembra a questão dos investimentos no setor. "Se os investimentos de infraestrutura no Brasil são extremamente tímidos, o saneamento sequer aparece na lista dos beneficiados. É verdade que existe algum avanço, mas é muito lento. Interessantes instrumentos parecem não sair do papel, nosso plano nacional de saneamento e o plano de resíduos sólidos são alguns exemplos."
E ressalta também os impactos da crise hídrica. "Aos já conhecidos problemas, foram somados, há cerca de dois anos, aqueles advindos da maior crise hídrica de que temos conhecimento. Muitos estados nordestinos tiveram a situação agravada e no sudeste muitos estados se viram em condição inédita e desesperadora. Os efeitos da falta de articulação entre as várias políticas públicas ficam escancarados. A deterioração dos gestores de recursos hídricos em muitos estados brasileiros ficou absolutamente evidenciada, o mesmo vale para o setor de saneamento. Mais uma vez com muita criatividade e paciência de nossa sociedade, vamos sobrevivendo" Para o engenheiro, tudo o que foi aprendido com a crise hídrica nos últimos anos não pode ser esquecido. "Agora que a situação começou a melhorar, temos que ficar ainda mais atentos, para que as questões do saneamento não sejam esquecidas."
Dante pontuou que é evidente que os efeitos das mudanças climáticas ainda são incompreendidos por grande parcela da sociedade. Mas ressaltou que o recado foi dado. "A necessidade de considerar tais efeitos no planejamento de políticas para gestão dos recursos hídricos é inquestionável."
E pontua que isto não basta e não levará à melhoria das condições de vida para milhões de brasileiros. "É importante que o esforço não deva ser apenas do Governo Federal. Governadores e prefeitos têm de fazer sua parte."