Religião

Irmã Dulce dos Pobres, santo é seu nome

Num trabalho incansável, religiosa fundou, em 1959, a Associação Obras Sociais Irmã Dulce

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 12/10/2019 às 4:22
Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
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Ela nasceu Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes em 26 de maio de 1914 numa família de classe média de Salvador. Adotou o nome Irmã Dulce em 13 de agosto de 1933 ao receber o hábito de freira da Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Morreu em 13 de março de 1992 como o Anjo Bom da Bahia. E a partir deste domingo, 13 de outubro de 2019, atende por Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa da Igreja Católica nascida no Brasil.

A freira conhecida no País pelas ações de caridade e assistência aos pobres era a segunda filha do dentista e professor da Faculdade de Odontologia Augusto Lopes Pontes com Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes. Antes de receber o diploma de professora e ingressar na vida religiosa, a jovem Maria Rita era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e por excluídos, relata texto publicado no site das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID).

Benevolente, começou a acolher os necessitados aos 13 anos de idade. Primeiro eram pedintes doentes, que amparava na casa onde vivia. De 1935 em diante passou a auxiliar moradores de comunidades pobres, criou um posto médico para operários, inaugurou o Colégio Santo Antônio para operários e seus filhos e levou atendimento a presos numa cadeia que apresentava condições precárias de higiene na cidade de Salvador.

Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Irmã Dulce nasceu em Salvador em 26 de maio de 1914 e morreu em 13 de março de 1992 - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
A freira católica baiana começou fazer ações sociais em 1935 em comunidades pobres de Salvador - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Em 1959, a religiosa católica brasileira fundou a Associação Obras Sociais Irmã Dulce - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
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O Anjo Bom da Bahia recebe do papa Francisco o título de Santa Dulce dos Pobres em 13/10/2019 - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
A obra assistencial de Irmã Dulce começou com o auxílio a pedintes doentes em Salvador - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
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Professora de formação, Irmã Dulce criou uma escola pública para crianças pobres - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce
Papa João Paulo II e Irmã Dulce em 1980, na visita do pontífice ao Brasil - Foto: Acervo Obra Social Irmã Dulce

 

Num trabalho incansável, sempre pedindo ajuda a comerciantes, lojistas, empresários e políticos de qualquer partido, em 1959 ela funda a Associação Obras Sociais Irmã Dulce. No ano seguinte, inaugura o Albergue Santo Antônio, com 150 leitos, e em 1983 abre o novo Hospital Santo Antônio, com 400 leitos para a população pobre.

“Quando Irmã Dulce faleceu todos ficamos apreensivos, poderia ser o fim da fundação porque ela era uma pessoa atípica, ímpar e a presença dela fazia muita diferença. O grande milagre de Irmã Dulce foi obra que ela deixou e ela falava que não era uma obra dela, mas de Deus”, declara, em entrevista por telefone, o assessor corporativo da OSID, Sérgio Lopes.

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Vinte e sete anos depois que ela morreu, em decorrência de problemas respiratórios, a obra permanece firme. “Somos um dos maiores complexos de saúde gratuitos do Brasil, com 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais/ano na Bahia. Realizamos duas mil consultas/dia no hospital, temos 954 leitos 100% SUS (Serviço Único de Saúde), 216 leitos de geriatria para ambulatório e internamento e oferecemos suporte a 150 crianças com microcefalia”, diz Sérgio Lopes.

A organização presta auxílio à população de baixa renda nas áreas de saúde, assistência social, pesquisa científica, ensino em saúde e ensino fundamental. Tudo mantido com contribuição de sócios. “Conservamos a filosofia que ela plantou, de amar e servir, e continuamos pedindo, como Irmã Dulce sempre fez”, afirma Sérgio Lopes. “Irmã Dulce dizia que o tesoureiro dela era Santo Antônio, quando a situação ficava ruim ela botava o santo de cabeça para baixo e as doações começavam a chegar”, revela.

A causa da canonização de Irmã Dulce teve início em janeiro de 2000. Em abril de 2009 o Papa Bento 16 reconheceu as virtudes heroicas de fé, esperança e caridade da religiosa e autorizou à freira católica o título de venerável. No mês de outubro de 2010 a Congregação para a Causa dos Santos reconheceu a autenticidade de um milagre atribuído a Irmã Dulce em Itabaiana (SE).

O milagre em Sergipe foi a cura de uma mulher que após parir o segundo filho numa maternidade teve forte hemorragia por 18 horas e passou por três cirurgias sem sucesso. Cláudia Cristina dos Santos tinha sido desenganada pelos médicos e parou de sangrar por intercessão de Irmã Dulce, a pedido do padre chamado pela família para a unção dos enfermos. Ela alcançou a graça em 10 de janeiro de 2001. A recuperação da paciente não tem explicação na medicina e conferiu à freira baiana o título de beata em 2011.

Em 13 de maio de 2019, o Papa Francisco promulgou decreto que reconhece o segundo milagre, a cura do maestro José Maurício Bragança Moreira cego por glaucoma. Era a última etapa para a brasileira ter o nome inscrito na lista oficial dos santos da Igreja. Caracterizam milagre a graça alcançada logo após o apelo, atendimento completo do pedido, durabilidade e permanência do benefício e o caráter preternatural, quando a ciência não explica a cura.

O Dia de Santa Dulce já está definido: 13 de agosto, um número que se repete em diversos acontecimentos da vida da religiosa desde que ela foi batizada, em 13 de dezembro de 1914. O nome escolhido quando se tornou freira, em 1933, é uma homenagem à mãe, Dulce Maria, que morreu quando a menina Maria Rita tinha 7 anos.

Papa Francisco conduzirá a cerimônia de canonização na Praça de São Pedro, no Vaticano, às 10h deste domingo, 13 de outubro, (5h no Brasil). É a terceira mais rápida da história, só 27 anos após a morte da freira. Fica atrás do Papa João Paulo II (1920-2005), declarado santo nove anos depois de ter falecido; e de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), canonizada 19 anos depois de morrer.

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