Todos os dias, desde agosto de 2017, a Casa Vincular abre suas portas para receber pessoas que não podem pagar por um prato de comida. Às segundas, quartas e sextas são servidos almoços. Terças e quintas são destinadas a banho e café da manhã. Porém, a casa situada no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, faz muito mais do que dar água a quem tem sede e pão a quem tem fome. É um lugar para alimentar o corpo e também a alma.
Além de oferecer refeições, banhos e roupas limpas os voluntários estão disponíveis para sentar e conversar com as pessoas assistidas. “Quem nos procura também tem fome de escuta e por isso é necessário estabelecer vínculos, a transformação passa pela comida, mas não só por ela, a acolhida é importante”, declara o jornalista Gabriel Marquim, fundador da Comunidade dos Viventes (grupo católico criado no Recife em 2007) e da Casa Vincular.
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A ideia do restaurante popular começou a tomar forma no dia em que o jornalista flagrou um homem tentando pular o muro da sua casa. Gabriel identificou-se como morador do imóvel e perguntou se ele estava precisando de alguma coisa. O desconhecido disse que tinha fome e não queria fazer nada de mal. O homem foi embora levando o alimento que precisava e Gabriel ficou em casa preso a um pensamento: o que fazer para ajudar os pobres que tem fome?
“Ele levou essa reflexão para o grupo (Comunidade dos Viventes) e Deus, mais cedo do que imaginávamos, trouxe a resposta”, afirma o psicólogo Caio Paz, responsável pela Casa Vincular. “Nesse mesmo período, duas pessoas que conhecem o nosso trabalho entraram em contato para doar uma casa que tinha estrutura de restaurante, o imóvel não é esse que ocupamos, mas essa foi a resposta que recebemos”, diz Caio Paz.
Após uma grande campanha para arrecadar recursos, a Comunidade dos Viventes abriu o restaurante popular. Não só para saciar a fome de alimentos. “Queríamos restaurar a vida das pessoas que nos procurassem, começamos pela fome por ser a necessidade mais urgente do ser humano, mas a nossa proposta é a promoção do bem estar. O banho, por exemplo, foi implantado a partir da demanda deles”, observa o psicólogo.
A Casa Vincular serve de 60 a 70 almoços gratuitamente a cada segunda, quarta e sexta, das 11h às 12h. E patrocina 40 banhos às terças e quintas, das 8h às 12h. Lá, as pessoas encontram atendimentos médico (três vezes por mês) e psicológico, atividades educativas (bordado), assistência jurídica e corte de cabelo (uma vez por mês). “Conseguimos fazer tudo isso com o apoio do voluntariado, temos de seis a sete voluntários por dia para ajudar no serviço, além de quatro funcionários”, diz Caio Paz.
Antes do banho, a pessoa é levada à rouparia para escolher, com ajuda de voluntários, as peças que vai usar. Há calças compridas, bermudas, camisas, camisetas, vestidos. “Sou voluntária há seis meses, venho toda segunda-feira na hora do almoço, aqui aprendi a ter uma visão mais coletiva da vida, nunca tive muito contato com as pessoas que vivem nas ruas e hoje eu entendo melhor o que é levar essa vida”, declara a estudante de engenharia Maria Paula Martins Alves, 21 anos.
O projeto é mantido com doações fixas e pontuais de empresas e pessoas físicas. A colaboração pode ser em dinheiro ou insumos. “Temos uma lavanderia que participa com serviço, lavando e esterilizando as toalhas”, exemplifica o psicólogo. Uma empresa contribui com polpa de frutas para sucos. “Aceitamos doação de roupas (principalmente masculinas), calçados, material de limpeza e produtos de higiene pessoal.”
Caio Paz destaca São Francisco de Assis, Dom Helder Camara, Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce como inspiradores das ações realizadas na Casa Vincular. “Irmã Dulce imitava uma pessoa, Jesus Cristo. Essa é a beleza dessa história. A gente está reproduzindo ainda hoje o que Jesus fazia há dois mil anos. Numa escala menor, estamos contando o que aquele homem de dois mil anos fazia. E todos podem fazer”, sublinha Gabriel Marquim.
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