Um composto químico chamado dietilenoglicol (DEG) é o responsável por contaminar oito pessoas em Minas Gerais, causando a morte de uma delas e mantendo as outras sete internadas. A substância teria sido encontrada em dois lotes da cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer, que as pessoas teriam consumido. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o DEG é um solvente orgânico, altamente tóxico, que causa insuficiência renal e hepática, podendo inclusive levar a óbito quando ingerido.
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A substância é utilizada pela indústria cervejeira como substância anticongelante. De acordo com Patrícia Sanches, cervejeira, sócia-proprietária e responsável técnica na Cervejaria Patt Lou e no Instituto Ceres de Educação Cervejeira, a exposição do consumidor final a este composto químico é extremamente limitada. “Essa substância passa por tubulação externa e acessa o equipamento por fora do recipiente que está a cerveja. A ideia é resfriar o equipamento para que ele, por indução, esfrie o líquido interno, uma vez que os tanques cervejeiros são de inox, em sua grande maioria, e transferem a temperatura mais facilmente”, explicou.
Ainda de acordo com Patrícia Sanches, o dietilenoglicol é uma substância cara para a maioria das realidades de nano e microcervejarias artesanais. “A indústria cervejeira, em sua maioria, faz uso de tanques com refrigeração externa (por solução hidroalcoólica). A substância refrigerante, neste caso seria uma mistura de amônia e etanol diluída em água. Outra opção são tanques autorefrigerados (ou seja, os que fazem uso de gás refrigerante e um compressor, que são ligados na eletricidade)”, disse.
O caso envolvendo o grupo contaminado e a cerveja Belorizontina ainda está sob investigação da Polícia Civil de Minas Gerais. Patrícia reforça que é necessário esperar o laudo definitivo e a conclusão da investigação e destaca que, em Pernambuco, as cervejarias não utilizam esta substância.”Desconheço alguma cervejaria pernambucana que utilize o dietilenoglicol em seus bancos refrigerantes; como falei, por aqui, usamos o etanol como alternativa”, destacou.
Anticongelante externo
Tanto o etanol quanto o dietilenoglicol são utilizados de forma externa, sem contato com a cerveja. Esse processo não é uma opção para adicionar álcool na cerveja. De acordo com o Ministério da Agricultura, o álcool cervejeiro deve ser oriundo de fermentação natural de leveduras do tipo Saccharomyces cerevisiae.
“A nossa legislação é bastante rigorosa no tocante a insumos cervejeiros. Em casos de adição externos de álcool, a cerveja deixa de ser chamada de cerveja e passa a ser apresentada como bebida mista e comumente são utilizadas cachaças, álcool de cereais, uísques, vodkas, vinho; ou seja, álcoois de uso corriqueiro para trazer complexidade organoléptica às bebidas”, esclareceu Patrícia Sanches.