HAIA - O ex-líder dos sérvios da Bósnia Ratko Mladic, acusado do massacre de Srebrenica, em 1995, começou a ser julgado nesta quarta-feira (16) no Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia. Mladic "assumiu a autoria da limpeza étnica da Bósnia", declarou Dermot Groome, representante da Promotoria, na abertura do julgamento contra o militar de 70 anos. "A acusação apresentará elementos que provarão, acima de qualquer dúvida razoável, a mão do general Mladic em cada um de seus crimes", prometeu Groome.
Preso em 26 de maio de 2011, na Sérvia, após ter escapado da justiça internacional durante 16 anos, Mladic é acusado de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes cometidos por suas tropas durante a guerra da Bósnia, que deixou 100 mil mortos e 2,2 milhões de refugiados durante 1992 e 1995. Sentado atrás de seu advogado, Mladic aplaudiu brevemente quando os juízes entraram na sala de audiências, às 09H00 local (04H00 Brasília), e não fez uso da palavra, como havia prometido seu defensor.
O general, que aparentava bom estado de saúde, fez um gesto "provocador" para as mães e viúvas de Srebrenica que assistiam ao julgamento. O gesto causou mal-estar entre os presentes e o juiz Alphons Orie chamou a atenção do general, advertindo o réu a não interagir com o público.
A apresentação da promotoria prosseguirá até quinta-feira (17). O julgamento continuará em 29 de maio com o interrogatório da primeira testemunha de acusação. A promotoria acredita que o processo pode demorar três anos. O general recebeu as mesmas acusações que seu alter ego político, Radovan Karadzic, de 66 anos, julgado em Haia desde outubro de 2009.
Segundo a acusação, os dois homens foram os personagens centrais de uma "empresa criminal conjunta" que tinha como objetivo expulsar para sempre os muçulmanos e croatas da Bósnia do território reivindicado pelos sérvios na Bósnia-Herzegovina.
Dermot Groome descreveu como a situação ficara mais instável pouco tempo antes do início da guerra da Bósnia e como os temores da população foram reavivados pela retórica de políticos como Radovan Karadzic. "Mladic decidiu limpar etnicamente o território, deslocar os muçulmanos e todos os não sérvios de suas casas e de suas terras", declarou Groome.
Com a ajuda de vários mapas da Bósnia-Herzegovina de antes e depois da guerra, Groome descreveu como várias cidades de maioria muçulmana se tornaram localidades sérvias depois da 'depuração'. Ratko Mladic, que alega inocência e pode ser condenado à prisão perpétua, deverá responder em particular pelo massacre de Srebrenica, em julho de 1995, no qual as forças sérvias da Bósnia mataram 8.000 muçulmanos.
Vinte mães e viúvas das vítimas de Srebrenica viajaram a Haia e se reuniram diante da sede do TPII pouco antes do início da audiência. Elas chamaram Mladic de "açougueiro". Algumas delas entraram na galeria reservada ao público para assistir à audiência.
Ratko Mladic, que tentou evitar até o fim o comparecimento ao TPII, também é julgado por seu papel no cerco de Sarajevo, durante o qual morreram 10.000 civis, e pela tomada como reféns de 200 soldados e observadores da ONU em 1995. "Sarajevo era um modelo de diversidade, uma cidade cosmopolita. Tentaram destruir tudo, dividir a cidade em duas", disse Groome.
O militar, que foi vítima de três derrames, em 1996, 2008 e fevereiro de 2011, tem o lado direito do corpo paralisado, segundo o advogado. Durante a preparação do julgamento, ele reclamou com frequência de problemas de saúde.