O medicamento contra a disfunção erétil conhecido como Viagra é ineficaz para tratar a insuficiência cardíaca e não deve ser tomado com este fim, revelou uma pesquisa publicada esta segunda-feira nos Estados Unidos, que contradiz estudos feitos anteriormente.
Algumas pesquisas anteriores haviam sugerido que o fármaco, que pode aumentar o fluxo sanguíneo para outras partes do corpo, poderia beneficiar pessoas com insuficiência cardíaca diastólica, na qual as cavidades inferiores do coração endurecem e não conseguem bombear sangue corretamente, provocando fraqueza e desânimo.
O estudo aleatório, feito com 216 pacientes em 26 localidades da América do Norte, mostrou que o medicamento, cujo princípio ativo é denominado sildenafil, é tão eficiente quanto um placebo em melhorar os sintomas clínicos da insuficiência cardíaca.
Além disso, um número maior de pacientes que tomaram o medicamento apresentou reações adversas graves em comparação com aqueles que ingeriram o placebo, o que levou os pesquisadores a recomendarem aos médicos que deixem de prescrevê-lo para pessoas com doenças cardíacas.
"Os resultados do nosso estudo foram surpreendentes e decepcionantes", disse Margaret Redfield, autora principal e professora na Clínica Mayo em Rochester, Minnesota (norte).
"Havia muita expectativa em torno deste estudo com base em outras pesquisas e tínhamos a esperança de encontrar algo que pudesse ajudar estes pacientes, já que há poucas opções de tratamento atualmente" para este trastorno.
A idade média dos pacientes estudados era de 69 anos e quase a metade (48%) era de mulheres. Depois de 24 semanas não foi comprovada nenhuma melhora cardiovascular nos pacientes.
Durante o período de estudo, os efeitos adversos, como sufocamentos e baixa pressão arterial, foram mais frequentes nos pacientes que tomaram sildenafil do que nos que tomaram o placebo.
Além disso, seis pessoas do grupo que tomou sildenafil morreram antes do fim da pesquisa, enquanto não houve óbitos entre aqueles que ingeriram o placebo.
A pesquisa foi divulgada na reunião anual do Colégio Americano de Cardiologia (ACC, na sigla em inglês), em San Francisco, e publicada simultaneamente no Journal of the American Medical Association (JAMA).
"Houve mais (mas não muitos mais) pacientes que retiraram seu consentimento, morreram ou estavam doentes demais para fazer o teste de esforço cardiopulmonar no grupo tratado com sildenafil, o que poderia acentuar a ausência de benefícios observados", destacou o artigo.
O sildenafil e outros medicamentos similares - conhecidos como inibidores da fosfodiesterase 5 (PDE5) - são utilizados para tratar a disfunção erétil e a hipertensão pulmonar, mas não são indicados para tratar a insuficiência cardíaca.
No entanto, alguns médicos os receitavam a pacientes com o problema, pois alguns estudos em humanos e estudos preliminares em animais tinham sugerido um benefício.
Os últimos resultados conhecidos "devem desestimular esta prática, sobretudo levando em conta o alto custo da droga", disse Redfield em um comunicado.