livro

Os exemplos de Bogotá e Medellín

Compilação de artigos mostra como duas cidades colombianas se livraram da violência endêmica em 15 anos

João Carvalho
Cadastrado por
João Carvalho
Publicado em 14/04/2013 às 8:24
Reprodução
Compilação de artigos mostra como duas cidades colombianas se livraram da violência endêmica em 15 anos - FOTO: Reprodução
Leitura:

O narcotráfico e suas histórias violentas foram, durante muitos anos, um cartão postal desagradável da Colômbia. Por trás disso, ainda havia o alto índice de corrupção, conflitos armados, desordem urbana e ineficiência da máquina pública, entre outras males sociais. Mas o país conseguiu um verdadeiro milagre nos últimos 15 anos, nas suas duas principais cidades: Bogotá, capital e maior delas; e Medellín, segunda cidade mais populosa. Bastou pulso forte nas decisões políticas e um governo decente por parte de uma série de prefeitos para tudo mudar. Depois dos ajustes, mergulhar nesses dois locais poderia ser um passo à frente para viver numa cidade tão parecida com aquelas. 

Foi pensando assim que Murilo Cavalcanti, então um administrador de empresas engajado em causas políticas, hoje secretário de Segurança Urbana do Recife, resolveu investir em viagens à Colômbia. Os planos e experiências que transformaram Bogotá e Medellín numa referência positiva estão sendo agora publicadas no livro As lições de Bogotá e Medellín – do caos à referência mundial

Organizada por Murilo, a obra foi criada a partir de relatos de políticos, arquitetos, sociólogos, jornalistas, brasileiros ou estrangeiros, que tiveram alguma experiência nas duas cidades. “Não é comum, nem rotineiro, alguém que não tenha negócios na Colômbia, nem seja ligado às atividades ilícitas do narcotráfico, ter visitado Bogotá e Medellín por 13 vezes”, lembra Murilo na apresentação. Mas deixa claro: não é um manual de como dirigir um município.

Murilo foi instigado a viajar depois de ler um caderno especial, publicado pelo Jornal do Commercio, em 2006. Escrito pelo jornalista Eduardo Machado, então repórter do JC e hoje secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife, o material mostrava a nova realidade colombiana. “Em 2003 minha irmã foi vítima da violência em Pernambuco. Durante um assalto foi baleada e ficou paraplégica”, revelou Murilo. “Três anos depois li as reportagens e decidi conhecer as mudanças na Colômbia.”

De acordo com as pesquisas apresentadas no livro, Medellín e Bogotá sofrem dos mesmos males que acometam a maioria das cidades latino-americanas. Lá há corrupção, violência policial, exclusão social.

“Esperamos, com essa publicação, estar contribuindo para o debate de que é possível mudar uma cidade”, explicou.

 

 

Um dos relatos do livro é do arquiteto e urbanista pernambucano Francisco Cunha. Ele foi uma dos que visitaram os municípios colombianos na mesma época. “Me sinto envergonhado com o que vi e com tantas transformações realizadas”, relatou. “O Recife poderia ter trilhado esse caminho. Diferentemente, não teve uma estratégia nem um projeto de cidade.”

O arquiteto é um dos idealizadores do projeto O Recife que Precisamos, movimento cidadão que listou, através de um estudo minuncioso, cinco ações que precisariam ser implantadas pela prefeitura para a melhoria do Recife.

SEGURANÇA

Um dos pontos mais discutidos para o desenvolvimento das duas cidades colombianas foi a questão da segurança. O sociólogo Hugo Acero Velásquez, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), também assina um artigo no livro. Ele foi secretário de Segurança Pública Cidadã de Bogotá por três mandatos consecutivos, exatamente no momento em que a região passava por mudanças. Nesse período, a capital reduziu em 80% as taxas de homicídios. “O importante é que a política de segurança deve ser tratada sob uma ótica civil, com um responsável que coordene todas as ações e instituições envolvidas”, relata Acero.

Entre 2007 e 2010 Bogotá teve uma oscilação entre os números da violência. Fechou 2011 com 22 homicídios por 100 mil habitantes. A taxa de homicídios do Recife em 2011 foi exatamente o dobro: 44 casos para cada 100 mil habitantes. Mesmo sem ter a pretensão, talvez o livro mostre o exemplo de que é possível mudar.

Últimas notícias