A polícia de Bangladesh dispersou nesta segunda-feira uma nova manifestação de dezenas de milhares de islamitas e fechou um canal de televisão, um dia depois dos violentos protestos nos quais morreram pelo menos 36 pessoas nas ruas de Daca, que viraram um verdadeiro campo de batalha.
Um canal de televisão pró-islâmico, que exibiu ao vivo as cenas da repressão policial na manhã desta segunda-feira em Motijheel, foi obrigado a interromper a programação depois que 25 policiais à paisana entraram na sede, informou um diretor da Diganta Television. Centenas de pessoas ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança, os mais violentos registrados em Daca desde a independência, há 40 anos, de Bangladesh, um dos países mais pobres do sudeste asiático.
Dezenas de manifestantes foram detidos e o líder do movimento Hafajat-e-Islam, Allama Shah Ahmad Shafi, que comandou as manifestações, foi escoltado pela polícia até o aeroporto de Dacca e embarcado em um avião com destino a Chittagong, a segunda cidade mais importante do país.
Para tentar acalmar a situação, a polícia insistiu em destacar que Allama Shah Ahmad Shafi, de 90 anos, não foi detido.No distrito comercial de Motijheel, invadido pelos manifestantes, onde durante a noite foram ouvidos tiros, dezenas de lojas foram incendiadas e muitas árvores derrubadas.
O movimento islamita radical Hefajat e Islam afirmou que o balanço de mortos era superior ao anunciado oficialmente, mas não divulgou números."A polícia atirou com balas de verdade contra nossos manifestantes desarmados. Milhares de pessoas foram feridas", disse um porta-voz do movimento, Maolana Muin Uddin Ruhi.
A polícia usou gás lacrimogêneo, jatos d'água e balas de borracha para dispersar os quase 70.000 islamitas que ocupavam nesta segunda-feira o bairro Motijheel, afirmou o porta-voz das forças de segurança, Masudur Rahman.Os corpos de 11 vítimas, incluindo um policial morto a facadas, foram levados para o Medical College Hospital de Dacca.
Os corpos de outras 25 vítimas foram levados para três clínicas privadas. Aos gritos de "Alá Akbar" (Deus é grande) e "os ateus devem ser enforcados", militantes do grupo radical Hefajat-e-Islam caminharam por seis grandes ruas da capital de Bangladesh e bloquearam o trânsito.
Segundo a polícia, pelo menos 200.000 pessoas saíram às ruas no centro de Dacca. Os confrontos explodiram quando a polícia tentou impedir o avanço dos manifestantes armados com pedaços de pau até a maior mesquita do país. A onda de violência acontece poucos dias depois de outra tragédia: o desabamento de um edifício com unidades de confecção que matou 654 pessoas.
Os militantes do grupo radical Hefajat-e-Islam, recentemente criado, exigem a pena de morte para todos aqueles que caluniam o Islã. Também exigem a separação de homens e mulheres em determinados lugares públicos. O primeiro-ministro Sheikh Hasina, que está à frente de um governo laico desde 2009 neste país de maioria muçulmana, rejeitou as reivindicações dos islamitas, argumentando que a legislação atual já permite condenar qualquer pessoa que insulte o Islã.
No mês passado, os ativistas do Hefajat organizaram uma greve geral e uma concentração que contou com centenas de milhares de pessoas, considerada a maior em décadas. Os islamitas acusam ainda o governo de tentar calar qualquer protesto com processos contra personalidades - em sua maioria opositoras - suspeitas de crimes (mortes, estupros, conversões forçadas ao islã, entre outros) na guerra de 1971.